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Durante a Semana Internacional de Vela, jornalista lança livro que celebra a memória viva do Litoral Norte

Tamoios News
Jornalista e escritora Maria Angélica de Moura Miranda

Em meio às velas infladas no canal de Ilhabela e ao vai e vem de embarcações internacionais que participam da 52ª Semana Internacional de Vela, uma mulher lança um livro pequeno, mas cheio de história. A jornalista e escritora Maria Angélica de Moura Miranda apresenta nesta sexta-feira, dia 25 de julho, sua mais nova obra: Vela no Canal, um convite para crianças e jovens conhecerem a memória viva do Litoral Norte.

Com apenas 28 páginas, o livro tem a leveza de um passeio de canoa e a densidade de um documento histórico. Escrito em linguagem direta, foi pensado para os alunos das escolas de vela e visitantes curiosos que perguntam, durante as aulas e regatas, sobre o que veem em terra: as fazendas antigas, os casarões coloniais, os nomes indígenas e as canoas que cruzam o canal desde muito antes da chegada do esporte náutico.

“Mesmo quem vem de fora se encanta. As crianças perguntam sobre os casarões, os prédios, as fazendas. Quis fazer um livrinho para responder a essas perguntas com simplicidade e verdade”, afirma Maria Angélica, que completa 40 anos de carreira editorial em 2025.

Uma autora com alma marítima

Nascida em São Sebastião, a jornalista é reconhecida como uma das vozes mais ativas da cultura caiçara na região. Além de dirigir jornais, escrever crônicas e participar de conselhos culturais, ela coordena há anos um projeto de incentivo à literatura que já lançou centenas de autores locais, muitos deles anônimos até então — pescadores, professores, trabalhadores e estudantes.

Em Vela no Canal, Maria Angélica costura episódios históricos e afetivos: dos Tupinambás à chegada dos engenhos, da repressão ao contrabando à criação das primeiras regatas. O livro também inclui um momento autobiográfico: uma foto da autora velejando na década de 1970 com Ricardo Foster, a bordo de um Hobie Cat 14, no canal de Ilhabela. “Nunca fiz aula de vela. Só velejei com o Ricardo. Eram passeios, mas foram momentos que me formaram”, relembra.

Um mapa ao contrário — ou um outro ponto de vista

A capa do livro traz um detalhe gráfico instigante: a carta náutica do Canal de São Sebastião aparece invertida, refletindo a vista de quem está em São Sebastião olhando para Ilhabela. Na contracapa, o mesmo mapa surge em sua posição tradicional. A inversão é uma metáfora visual para a proposta do livro: mostrar que a história muda quando o olhar muda. “Achei justo mostrar o outro lado do mapa. É o mesmo lugar, mas outra perspectiva”, comenta a autora.

Semana de Vela: palco internacional para o território local

A Semana Internacional de Vela de Ilhabela é hoje o principal evento de vela oceânica da América Latina. Realizada desde 1973, atrai atletas de diversos países e reúne competições de alto nível técnico, como as regatas de longo percurso, além de ações educativas, ambientais, culturais e turísticas. O Race Village, no centro histórico da cidade, abriga exposições, shows, rodas de conversa, cinema e feiras literárias.

É nesse ambiente de confluência entre esporte, turismo e cultura que Vela no Canal será lançado — não apenas como livro, mas como gesto de valorização da memória local. “O mar não é só cenário. É história. E quem navega por ele precisa saber de onde veio”, diz Maria Angélica.

Para jovens leitores e marinheiros da memória

A obra se propõe a algo raro: falar com e para os jovens em uma linguagem acessível, sem abrir mão da profundidade histórica. Ao fazer isso, Maria Angélica contribui com a educação patrimonial de uma nova geração — tanto de moradores quanto de visitantes que constroem, aos poucos, uma relação mais respeitosa e consciente com o território.

“Quis fazer um livro simples, direto, mas que mostrasse que existe uma história forte aqui. Que essas crianças e jovens fazem parte de algo muito maior”, conclui a autora.

Com o lançamento de Vela no Canal, o maior evento de vela da América Latina também se torna, neste 25 de julho, um palco de afirmação da cultura tradicional, da escuta dos mais velhos e da celebração do litoral como espaço de identidade, resistência e futuro.

Por Poio Estavski