Cláudio Consonni, de 62 anos, costuma passar férias na praia de Barequeçaba, em São Sebastião, onde seus pais Carlos e Tereza tem uma casa de frente para o mar há 55 anos. Ele faz esculturas na areia e tem chamado a atenção de todos que passam pela praia na altura do Hotel Vista Bela. “Na verdade é uma brincadeira que eu faço, um passatempo, um jeito de agregar a família, de ficar conversando, uma diversão. Pra mim é um prazer desafiar a imaginação e a capacidade de construir alguma coisa saindo da areia e como eu gosto muito de animais, em especial os marinhos, a maioria dos temas são de animais marinhos”, conta o escultor.
A mãe de Cláudio é artista plástica e ele sempre conviveu cercado de quadros e pinturas, o que pode justificar o dom para a escultura. “Desde que eu e meus cinco irmãos éramos pequenos minha mãe fazia castelinhos de areia com a gente na praia, sendo assim, faço isso há muito tempo. Comecei a fazer animais porque gosto muito de bicho, mas é só aqui também. Não tenho nenhuma atividade profissional relacionada a artes plásticas, como esculturas”, explica.
Quem quiser conferir as obras primas que Cláudio faz na areia tem mais essa próxima semana. “Devo ficar aqui a semana que vem, depois volto para a minha cidade em Patos de Minas. Uma vez por ano costumo vir pra cá. Era pra eu vir em fevereiro, mas por causa da pandemia acabei protelando. Barequeçaba está no coração da gente. Essa areia favorece bem esse tipo de atividade. São poucas praias que possibilitam isso, a maioria tem uma areia que não dá pra você manusear e construir alguma coisa. Estou admirado pela repercussão que está dando esse ano. Se o tempo ajudar vou fazer uma por dia e enquanto as minhas costas permitirem”, brinca o engenheiro.
O aposentado Bogdan Igor Holovko é um dos muitos fãs das esculturas de areia. “O trabalho do Cláudio é de uma perfeição surpreendente em cada detalhe. Parece sair das entranhas da areia. O que me chama atenção além da beleza artística é a transitoriedade. Dificilmente uma dessas obras lindas dura mais de dois dias. Elas se dissolvem na virada da maré. Esse é o sentido de tudo ser passageiro e nos faz refletir sobre a própria vida”, reflete. Igor conta que depois de três anos vendo algumas vezes essas esculturas na areia, só descobriu o autor esse ano por pura coincidência. “O que me deixou muito feliz de ver a simplicidade desse verdadeiro artista”, finaliza.
Questionado sobre quanto tempo ele leva para fazer uma escultura, Cláudio é direto. “Essa pergunta é a mais comum, mas nem relógio eu uso. Eu não conto o tempo quando estou aqui porque estou de férias. Faço a escultura justamente para aproveitar meu tempo e por isso não fico cronometrando”, explica o escultor. Sobre a duração das esculturas, o engenheiro conta que geralmente duram um dia. “Tem umas que nem termino porque a maré sobe e derruba ou chove. Também acontece de eu virar as costas e vir um moleque mal educado e pisar em cima. Mas a duração dela não me importa, porque a satisfação que eu sinto é enquanto estou fazendo”, desabafa.
Para Cláudio o mais desafiador é produzir uma escultura que tenha elementos suspensos como focinhos e bicos. “Quando eu planejo eu já sei o limite da areia, o quanto ela suporta. Procuro não ir muito além, mas acontece de eu estar fazendo um bico de uma ave, que é uma coisa delicada e suspensa e o bico quebrar, normalmente essas coisas que ficam sem apoio, se não for bem compactado acaba perdendo a sustentação e a gravidade ganha de mim”, conta.
O escultor explica que a areia de Barequeçaba tem o grão fino que dá compactação. “Não é aquela areia amarela de muito quartzo e muito grão grande, que não pode ser compactado. A areia daqui da praia de Barequeçaba é cinzenta e tem muito pó de granito, além de ser fina. Você molhando e batendo ela fica firme e possibilita que você molde e ela não caia e até determinado momento ela sustenta o que você fez. Em outras praias você não consegue isso de jeito nenhum!, revela o escultor.