Após oito meses da tragédia, que comoveu o país, parentes dos 17 alunos que perderam a vida na volta da faculdade reclamam na demora do processo
Por Rafael César, de São Sebastião
Depois de oito meses da tragédia que ocasionou a morte de 17 alunos universitários de São Sebastião e o motorista do veículo, cerca de 30 familiares de vítimas protestaram em frente ao fórum da cidade, na quarta-feira (8). Eles pediam rapidez no processo que definirá os culpados pelo desastre.
A empresa União do Litoral é a responsável pela linha 12 que ainda leva alunos para instituições de ensino superior em Mogi das Cruzes, apesar do laudo da Secretaria de Segurança Pública do Estado constatar que o veículo estava em alta velocidade no momento do acidente e apresentou deficiência nos freios.
A polícia civil indiciou a sócia proprietária, Daniela de Carvalho Soares, e o gerente de manutenção, Adriano André do Vale, nesta última segunda-feira (6). Ambos prestaram depoimento no dia 31, validados na última segunda. De acordo com eles, nenhum fato semelhante havia ocorrido nos quase 30 anos de existência da empresa.
Segundo o caseiro, Otacílio Pereira Lima, 50, durante este período as famílias não receberam apoio nem do Poder Público. As notícias sobre o indiciamento dos membros da empresa pela imprensa e pelo advogado que acompanha o caso.
Para Seu Otacílio, a dor de ter perdido a filha única é constante e o mínimo que poderia ser feito, na opinião dele, era a prisão dos culpados para amenizar este sentimento de sofrimento. Segundo o pai, que se emocionou em vários momentos ao lembrar da filha, a jovem Rita de Cássia Alves de Lima tinha 19 anos e estava no terceiro ano da faculdade.
“Todo dia 8 passa um filme em minha mente. Onde eu vou e transito sinto a presença da minha filha e acabo me recordando dela de alguma forma. As autoridades têm que agir logo e fazer justiça. O intuito do nosso manifesto é que não se esqueçam de nós”, concluiu o caseiro.
Já a mãe do sobrevivente Felipe Ferreira, que cursa engenharia, afirma que todo o tratamento foi pago pela própria família e que as declarações dadas de que eles teriam recebido ajuda do Poder Público são falsas. Margarida Ferreira diz que não aguenta ver os pais que perderam seus filhos se lamentarem. Ela afirma que com o caso sendo apreciado e julgado no município facilitará a pressão dos familiares por justiça.
O ato começou às 17h e durou em média uma hora e meia. Os manifestantes apenas ficaram do lado de fora do fórum com camisetas em homenagem às vítimas e esperavam que a juíza atendesse o advogado de 12 famílias, José Beraldo, que explicou o motivo da presença dos parentes dos estudantes no fórum.
“É uma grande vitória, após oito meses do ocorrido. Eu quero que eles respondam por dolo eventual, quando assumem o risco pelo o que ocorreu”, disse o advogado.
Ele afirmou ainda que nos interrogatórios, eles dois tiram a culpa de si. “O problema é que a palavra dos dois não convence e estão indiciados. Isso, para gente, já é uma primeira vitória”, afirmou.
O advogado da empresa e dos indiciados, Antônio Felisberto Martinho, disse que a União do Litoral só se manifestará nos autos. Em outras ocasiões, a empresa informou ter disponibilizado às famílias suporte técnico e jurídico para trâmite com a seguradora.
“Não consegui ter acesso (aos autos) porque estão com o promotor. Mas o fato do indiciamento não quer dizer que a pessoa possa vir a ser condenada. (Com a decisão) o delegado quis dizer que, em tese, possa ter havido indícios de negligência, mas tem que ter apuração. Ele fez o indiciamento para que não tenha que fazer no futuro, caso seja necessário”, explicou.
Martinho aproveitou para atestar novamente que a empresa nega ter ocorrido negligência. “No ato do indiciamento (a União do Litoral) juntou novamente documentos que comprovam a manutenção do coletivo”, concluiu.
