Manchas escuras estão aparecendo no Canal de São Sebastião. Suspeitava-se que essas manchas estivessem sendo produzidas por navios que utilizam o porto ou o terminal da Petrobras, o Tebar(Terminal Marítimo Almirante Barroso).
A Delegacia da Capitania dos Portos fez vistorias no canal e constatou as manchas. Veja o vídeo:
Suspeitava-se ainda que essas manchas podem ser do esgoto coletado e tratado pela Sabesp e dispensado no mar através de um emissário submarino.
A Sabesp informou que faz o lançamento de efluentes tratado( gradeado/peneirado e clorado) no canal de São Sebastião, através de um emissário. Segundo a empresa, a atividade é autorizada pela Cetesb e não oferece riscos ao meio ambiente.
A Companhia Docas de São Sebastião informou que, na checagem feita com os navios que operam no porto, nenhum deles teria lançado material orgânico no Canal. Segundo o presidente da Cia Docas, Vitor Costa, a Marinha estaria investigando o caso.
A Delegacia da Capitania dos Portos, em São Sebastião, recebeu denúncias feitas por ambientalistas e decidiu fazer uma vistoria, mas já não havia mais navios no canal.
Mesmo assim, foi identificada uma mancha escura, de cor marrom, mas que não se tratava de óleo ou petróleo.
Amostras da água poluída foram recolhidas e encaminhadas ao Cebimar(Centro de Biologia) da USOP para análises.
A análise do material foi feita pela oceanógrafa professora Áurea Ciotti. Segundo ela, trata-se de uma macro-alga conhecida como Trichodesmiun.
“É bem comum por aqui. Ela se solta do fundo do mar e sobe à superfície, tem uma escura, que parece chocolate, mas não oferece riscos”, explicou a oceanógrafa.
A macro-alga Trichodesmium, também conhecida como serragem do mar, é um gênero de cianobactérias filamentosas. Elas são encontradas em águas oceânicas tropicais e subtropicais pobres em nutrientes. Trichodesmium é um diazotrofo; isto é, fixa o nitrogênio atmosférico em amônio, um nutriente usado por outros organismos.
Bom dia, eu sou a Aurea Ciotti do Cebimar/USP em São Sebastião, e fui eu quem falou com o jornalista que escreveu a matéria acima, brevemente por telefone. Infelizmente, a pessoa que me entrevistou não compreendeu o que eu disse, e publicou algo sem a minha revisão final. Reporto aqui o que eu informei ao jornalista:
1) as amostras que vieram ao CEBIMar a dias atras não eram das manchas marrons e sim de macroalgas, comuns daqui – Sargassum.
2) as amostras que nos trouxerem, desta forma, não tem relação alguma com as manchas de algas e não foram feitas no local das imagens mostradas no video dessa reportagem
3) ao observar essas amostras de Sargassum no microscópio não observamos a presença de outros organismos associados capazes de produzir essas manchas. As amostras foram acondicionadas em um saco plástico e não continham quaisquer informações extra, como local ou hora de coleta, e pessoa responsável pela coleta.
4) Todavia, eu e outros pesquisadores do Cebimar temos observadas nos últimos dias, manchas de uma MICROALGA do gênero Trichodesmium – essa sim corresponde as imagens, e tem aparência de um achocolato – e destas não possuímos amostras. Aparentemente, o jornalista se confundiu e disse que se tratava da mesma alga da amostra de Sargassum – o que não é verdade, mas isso foi repetido na conversa telefônica por várias vezes.
5) Eu afirmei ao jornalista que essas amostras deveriam ser encaminhadas a CETESB – que é quem pode dar o parecer sobre toxicidade ou não. No CEBIMar apenas podemos observar a composição pois possuímos microscópios e algum conhecimento – mas reforço mais uma vez que as amostras que nos trouxeram não correspondem as manchas apresentadas no video desta reportagem.
Por fim, gostaria de dizer que a conversa breve por telefone foi feita a menos de um hora da publicação da matéria. Eu acredito estou a disposição para contribuir com jornalismo cientifico, mas as coisas não podem ser feitas desta forma, as pressas e sem uma verificação final.
Desta forma, peço aos leitores que sempre que visualizem colorações diferenciadas nas águas do canal de São Sebastião reportem a CETESB com brevidade, hora e local. Os pesquisadores do CEBIMar irão sempre auxiliar na observação de amostras enviadas para nós, desde que que cheguem com brevidade em nossas mãos (menos de 24 horas) em boas condições de armazenamento (frascos limpos, protegidos da luz e altas temperaturas), indicando o local e a hora da coleta e um contato para verificação.
Toda e qualquer informação sobre toxicidade e perigos são apenas obtidas a partir de testes e procedimentos específicos que a CETESB conduz. Nada pode ser afirmado sobre o perigo dessas manchas sem essa análise adequada, e isso foi repetido ao jornalista responsável por esse matéria.
Espero ter esclarecido melhor, e enfatizo a necessidade de se encaminhar amostras a CETESB o quanto antes.