Educação

Formatura de detentos do CDP de Caraguatatuba é marcada por emoção e presença de familiares

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Ricardo Hiar
Ricardo Hiar

Detentos tivera a oportunidade de concluir curso no CDP de Caraguatatuba

Nesta quarta-feira (15), dezenas de detentos concluíntes de cursos profissionalizantes receberam os certificados; familiares puderam acompanhar da cerimônia

Por Ricardo Hiar, de Caraguatatuba

Um a um os formandos foram chamados para receberem seus certificados. Muitos concluíram dois cursos, entre eles, o de técnico em informações turísticas, que teve seis meses de duração. Eles vestiam beca, capelo, e não escondiam a emoção diante da conquista. Os pais e demais familiares também estavam bastante emocionados. Teve orador, música e os tradicionais cumprimentos aos representantes da mesa, que faziam a entrega dos canudos. 

Foi nesse clima literal de formatura que 27 detentos do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Caraguatatuba participaram nesta quarta-feira (15), da entrega de certificados dos cursos de formação profissional que puderam realizar nos últimos meses. 

O diferencial, no entanto, é que após a cerimônia, o local do evento voltou a ser apenas uma sala da pavilhão educacional do CDP, assim como as becas deixaram de esconder as camisetas brancas e calças marrons, que compõem o uniforme do sistema prisional. Os formandos, que não voltaram para casa, puderam se despedir de alguns familiares, sem saber quando será o próprio reencontro. Tampouco sabem quando poderão colocar em prática os conhecimentos adquiridos nos cursos. Apesar disso, grande maioria acredita que essa oportunidade é uma forma de ressocialização e pode representar um recomeço quando voltarem à liberdade.

“Eu não dei essa alegria aos meus pais, de irem numa formatura minha enquanto eu estava lá fora. Vim fazer isso na cadeia. Pra mim, é muito importante e vai me ajudar quando eu sair daqui. Meus pais sempre me ensinaram o certo, mas eu não ouvi e cai nas drogas. Ainda assim, eles nunca me desampararam”, afirmou o formando Miguel Angelo Corel dos Santos, 37, entre lágrimas e abraços que dava em seus pais. Réu primário, ele já cumpriu pouco mais de dois anos, da pena de cinco, que recebeu por tráfico de drogas – ele afirma que era apenas usuário de cocaína quando acabou preso.

O pai, José Darcio dos Santos, fez questão de acompanhar a ocasião e, muito emocionado, entregou o certificado ao filho. Segundo ele conta, essa conquista representa a esperança de futuro melhor para o filho, um dos sete que teve com a esposa, também presente na formatura. 

“Quando ele acabou caindo aqui, eu falei para ele se apegar a Deus e aos estudos, porque seria a única maneira de conseguir superar tudo isso. A família sofre junto, mas ele está tendo uma oportunidade de mudar. Se todos os presos fizessem isso (estudassem), pelo menos metade do sistema prisional seria reinserido na sociedade”, afirmou.

O orador e bibliotecário

Fernando Lúcio dos Santos Fontes, também estava bastante feliz com a conclusão do curso técnico, que foi oferecido aos detentos pelo Pronatec. Mas esse não é o primeiro curso que ele realiza, em pouco mais de três anos que é mantido preso no CDP de Caraguá. Na unidade prisional ele concluiu o ensino médio, além de ter realizado cursos mais rápidos, como de instalador hidráulico. Para ele, estudar é um meio de ocupar a mente e aproveitar oportunidades que não teve do lado de fora.

Ele tem mais cindo irmãos e dos homens, é o mais velho. Por conta disso, após a separação dos pais, passou a ser um suporte para os irmãos. “Eu tive que escolher entre estudar e trabalhar. A necessidade falou mais alto e fui trabalhar e ajudei minha mãe a cuidar dos meus irmãos”, comentou.

Essa afirmação foi confirmada pela mãe e dois irmãos que presenciaram a formatura. A irmã, Fernanda Lúcia dos Santos Fontes, pode rever o irmão após três anos. Ela levou o sobrinho, que tem a mesma idade do tempo de pena que ele já cumpriu. “Meu irmão foi preso quando veio para Caraguá, me visitar e conhecer meu bebê que havia nascido. A gente sempre se corresponde por carta, mas eu nunca vim aqui no CDP. Está sendo muito boa a oportunidade”, disse. Fernanda também comentou da mudança física do irmão, que perdeu 50 quilos durante esse período. “Ele pesava mais de 100 quilos, está muito diferente. Mas é muito bom estar com ele”, completou.

Para o irmão, Rafael dos Santos Fontes, que também não via Fernando há três anos, foi uma oportunidade importante. “Para mim ele é como um pai, então não dá pra explicar como é importante estar nesse momento aqui com ele”, afirmou.

Depois de começar a estudar, Fernando Fontes também começou a trabalhar na raia educacional do CDP. Começou pela limpeza e hoje, é o bibliotecário. Ele afirma que sempre que pode lê alguma coisa, mas que precisa dividir o tempo entre trabalhar e estudar. Os presos que desejam ler, colocam o nome do livro numa lista e Fontes faz a entrega. Segundo conta, cerca de 700 livros são emprestados por mês. Alguns títulos que estão entre os mais pedidos estão clássicos como a Moreninha e o investigativo de Caco Barcellos, Rota 66.

Sobre o reencontro com a família, Fontes disse que é uma mistura de sentimentos. “A gente fica muito alegre de revê-los e matar essa saudade por um tempo. Mas depois bate uma tristeza de pensar que eles vão embora e a gente vai ficar”, concluiu.

Perspectivas de futuro

Jean Pierre Gazarian, 36, também gostou do curso e da chance de voltar a estudar. Para ele, será uma opção a mais para ter uma vida digna após sair do sistema prisional. Ele também foi preso por tráfico de drogas.

Segundo contou, trabalhava antes em São Paulo como maître, que é o profissional responsável supervisão dos trabalhos desenvolvidos pelos garçons, mas quando chegou ao litoral não encontrou oportunidades e, com três filhos para criar, acabou caindo em erros que o levaram ao CDP.

“Como já trabalhava como maître, esse curso vai agregar ainda mais ao meu currículo e tenho esperança que abra novas portas. Quero ter outra atitude quando sair daqui, porque é possível mudar, mas a pessoa tem que querer, tem que mudar a vida, os hábitos, os lugares”, disse.

Eduardo Oliveira da Silva, 35, morava na Costa Sul de São Sebastião, quando foi preso. Condenado há uma pena de 12 anos, por um homicídio que ele considera como legítima defesa, ele também buscou a qualificação profissional para ter uma nova vida quando sair da prisão. Eu trabalhava como ajudante geral, então agora com esse curso, acho que terei mais chances de arrumar um emprego melhor quando sair e ajudar minha esposa e minhas duas filhas”, contou.

O sistema

Renato Benetti, diretor da unidade, explica que 98 presos atualmente participam dos cursos oferecidos. Para ele, o Estado está fazendo seu papel com tais programas, que permitem o exercício da cidadania. “Esses cursos incentivam e possibilitam uma reinserção desses detentos na sociedade. Atualmente, 1700 presos estão no CDP de Caraguatatuba.

Nestor Pereira Colete Júnior, responsável pela Coordenadoria das Unidades Prisionais do Vale do Paraíba e Litoral,  comentou sobre a oportunidade que os detentos oferecida para os detentos e a importância deles a aproveitarem. “Que possam mudar de vida. Hoje eles estão pagando o que fizeram para a sociedade e a família sofre com isso. Mas estão tendo uma oportunidade para mudar de vida”, destacou.

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