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Butantan: parceria entre Brasil e EUA resulta em vacina eficaz contra dengue

Tamoios News
Anuja Mathew é revisora científica do NIAID e esteve no Butantan em intercâmbio científico. Foto: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

A primeira vacina contra dengue segura, eficaz em dose única e produzida a baixo custo: esse é o resultado da parceria que já dura 15 anos entre o Instituto Butantan e os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. O acordo, um dos primeiros firmados entre um fabricante de vacinas brasileiro e uma instituição governamental norte-americana, teve como objetivo combater um problema de saúde pública que coloca em risco 4 bilhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) – especialmente em países de baixa e média renda como o Brasil.

Os estudos que possibilitaram essa colaboração internacional datam do final da década de 1990, quando o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) do NIH começou a testar diversos candidatos vacinais de cada um dos quatro sorotipos do vírus da dengue. Após uma década, os cientistas chegaram aos melhores candidatos para usar na formulação de uma vacina tetravalente (contra DENV-1, 2, 3 e 4). E foi com base nessas cepas que o Butantan desenvolveu o imunizante, que está na fase final de estudos clínicos.

A pesquisadora e revisora científica do NIAID, Anuja Mathew, que tem 25 anos de experiência no estudo da resposta imune à dengue, esteve no Butantan entre janeiro e março, em intercâmbio científico organizado pela Embaixada dos Estados Unidos. Em entrevista ao Portal do Butantan, a cientista falou sobre a complexidade do vírus da dengue e o trabalho minucioso do desenvolvimento da vacina.

“É como se você estivesse produzindo quatro vacinas. Os pesquisadores do NIAID tiveram que identificar quais genótipos de cada um dos tipos eram seguros, capazes de se replicar bem e induzir resposta imune. Não é uma tarefa simples”, diz a especialista.

Em 2009, o NIH cedeu as patentes das cepas ao Butantan, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, para que o Instituto desenvolvesse a vacina no Brasil. A partir daí, foram mais quatro anos de trabalho e mais de 200 experimentos para obter a versão final que seria utilizada nos ensaios em seres humanos – desafio enfrentado pela equipe da pesquisadora Neuza Frazatti Gallina, do Butantan.

“Os quatro vírus devem ser tratados separadamente: nos processos de concentração, purificação e liofilização de cada monovalente, a carga viral pode diminuir. Então você precisa calcular e prever essas perdas para cada vírus, para chegar a uma candidata tetravalente segura e eficaz”, explica Anuja. “O Butantan foi capaz de superar todos esses obstáculos e formular a vacina para conduzir os estudos clínicos.”

Anuja também ressalta o alcance da rede de ensaios clínicos construída pelo Butantan, que contou com16 centros de pesquisa, em todas as regiões do Brasil, onde o estudo da vacina é realizado desde 2016. Em dois anos de acompanhamento, o imunizante demonstrou 79,6% de eficácia, segundo estudo publicado em janeiro na The New England Journal of Medicine.

Lei Matéria na íntegra: https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/ultimas-noticias/dengue-parceria-entre-brasil-e-eua-resultou-em-vacina-eficaz-e-acessivel/