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Gestão ambiental das praias pode salvar caranguejo guaruçá de extinção local

Tamoios News
Foto: Maíra Pombo

Estudo analisa como erosão das praias e construções na orla afetam caranguejo guaruçá

O caranguejo Ocypode quadrata, popularmente conhecido como guaruçá ou maria-farinha, é objeto de um estudo realizado pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) em 24 praias do Litoral Norte paulista, a maioria delas em Ubatuba.

O estudo busca analisar a influência da combinação entre erosão das praias e construções à beira-mar, como muros, na vida dos caranguejos guaruçá. A conclusão é que a consequência é dramática para esses animais. E o principal rebatimento prático desse estudo é que é preciso agir agora para garantir que haja praia para todos, inclusive para os animais marinhos.

Quem explica é o biólogo Alexander Turra, professor titular do IO-USP e coordenador da Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano, sediada no IO e no Instituto de Estudos Avançados da USP. Ele estuda o caranguejo guaruçá desde 2005.

Foto: Maíra Pombo

Segundo Turra, há um significativo efeito, tanto na quantidade de indivíduos quanto no tamanho dos animais, na medida em que as duas coisas se somam (erosão das praias e construções à beira-mar).

Se as praias estão bloqueadas por muros, isso as impede de migrar para trás, que é um movimento natural das praias que pode ser intensificado pelas mudanças climáticas, e impede o guaruçá de adentrar outros ambientes, nos quais ele pode se proteger num momento de ressaca, por exemplo. O que provoca a chamada extinção local desses animais, de duas formas: ou pela ausência de animais naquela praia, ou pela ocorrência de populações ecologicamente inviáveis, de animais que não chegam à idade reprodutiva.

Os animais até chegam a recrutar naquela praia, pelas larvas que são levadas pelo mar, mas depois de se transformarem em pequenos caranguejos não chegam à idade adulta, não se reproduzem, vão morrer na próxima ressaca, no próximo evento extremo, ou quando algum fator adicional o matar, como cachorro, pisoteamento, atropelamento, poluição, entre outros que também pressionam a sobrevivência dos caranguejos guaruçá nas praias.

Foto: Maíra Pombo

A pesquisa destaca que a manutenção da conectividade entre água, dunas e vegetação de praia, tanto em escala local quanto regional, deve ser considerada essencial para manter populações viáveis ​​de caranguejos guaruçá. O professor lembra que eventos extremos vão se intensificar com as mudanças climáticas e, para garantir que o guaruçá tenha onde se abrigar e consiga sobreviver, é essencial que essa conexão seja mantida.

Sobre a gestão das praias, o professor explica que no litoral de São Paulo, especialmente no Litoral Norte, há dois grandes atores: o Município e o Estado, com a APA Marinha. Na APA, foi aprovado no Plano de Manejo áreas com uso mais ou menos intensivo. Porém, a APA não influencia no que acontece no continente, em termos de ocupação humana, e essa ocupação acaba influenciando no que acontece no mar. Assim, quando o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado ou o Plano Diretor do município intensificam a ocupação nessas áreas, há consequência direta nas praias próximas.

Foto: Renata Takahashi

“Esse caranguejo é um animal icônico do ponto de vista que ele precisa dessa conexão, dessa conectividade, desse corredor ecológico. A gente precisa garantir isso de duas formas: ou na praia como um todo ou em pedaços de praia. A grande preocupação é como você faz um planejamento de uso e ocupação do litoral para que tenha o melhor de todos os mundos, do lazer, da recreação e também da biodiversidade”, afirma Turra.

*Texto: Renata Takahashi