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Homenagem à motorista assassinada na Costa Sul de São Sebastião pede fim da violência contra a mulher

Tamoios News
Ricardo Faustino/Divulgação Iniciativa ocorreu na praça Pôr-do-Sol, em Boiçucanga

Crime ocorrido no bairro de Juquehy ainda não foi encerrado

 

Paz e o fim da violência contra a mulher. Esses foram o foco das homenagens à motorista de ônibus Joseilda Silva de Oliveira Pereira, de 34 anos, realizada e marcada por emoção no fim da tarde do último sábado (5), em Boiçucanga, na Costa Sul de São Sebastião.

O evento organizado por amigas contou com a participação de aproximadamente 200 pessoas. Entre elas, a presença de familiares e do namorado da vítima morta em Juquehy no dia 29 de julho com requintes de crueldade. Representantes da empresa Ecobus e os vereadores Ercílio de Souza e Daniel Simões também compareceram ao manifesto, que ocorreu na praça Pôr-do-Sol com a distribuição de fitas rosa, a soltura de balões branco, o canto de hinos evangélicos e da música “Gostava Tanto de Você”, de Tim Maia.

Para advogada Jaqueline Batista de Oliveira Souza, 27, o assassinato da Josy – como era conhecida – foi uma barbaridade. “Queremos chamar a atenção das autoridades e de muitos homens que agridem a mulher”, enfatiza. Apesar de não ser o caso da homenageada, Jaqueline fez questão de mencionar a Lei Maria da Penha, que completa 11 anos nesta segunda-feira, 7. “A legislação deveria ser mais eficaz com relação à proteção das mulheres”, acredita Jaqueline.

A assessora parlamentar Letícia Henrique Santos, 28, que também organizou o evento, a iniciativa também teve tom de despedida da amiga, cujo momento foi roubado dos amigos. “Não podia haver melhor forma para se despedir dela, que era muito alegre e demonstrava amor em tudo e para todos que estavam a sua volta. A Josy era como irmã, sempre presente e disposta a ajudar. Mesmo grávida de nove meses dirigia e nos conduzia para todos os lugares. Se ela não fosse chamada ficava brava”, lembra Letícia, que reside em Cambury.

Feminicídio – Outra amiga, Naiane Cruz, 26, frisou que a iniciativa deve alertar quanto ao feminicídio, que é o homicídio doloso praticado contra a mulher por razões da condição do sexo feminino ou pelo simples fato de ser mulher. É como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direito do que as do sexo masculino. “Todas as vezes que uma mulher sofre abuso sexual a culpa sempre é dela. Não é porque ela está na rua que precisa ser violentada”, critica Naiane.

Segundo dados do Mapa da Violência (2015), no Brasil há 13 casos de feminicídio por dia. O número coloca o país na quinta posição do ranking de países que mais matam mulheres no mundo.

A ativista social Ingrid Reis comentou que apesar de não conhecer Josy, ficou abalada com o crime. Para ela, as mulheres da Costa Sul do município precisam se unir e debater a questão da violência, que é frequente na região. Além de lutar pela implantação de políticas públicas eficientes. “A violência física, psicológica e verbal precisa acabar. O homem tem que aprender a deixar de ser machista e respeitar a mulher. Já a mulher precisa começar a falar dos abusos que sofre, denunciar o agressor e procurar os seus direitos. A Josy pode servir de inspiração para que as mulheres se unam nessa luta”, declara.

Ingrid aproveitou para informar aos participantes sobre um sarau com feministas para debater temas e questões importantes ligadas à mulher. O encontro será no dia 19, a partir das 20h, em Cambury.

Homenagem – O músico e namorado da vítima Adailton Ribeiro Rosa, 24, agradeceu a homenagem e considerou linda, emocionante e muito válida para alertar e chamar a atenção dos poderes. “A Josy era muito querida pelas pessoas. A morte dela foi cruel e bárbara, parecia um filme. Isso não se faz. O assassino é um covarde”, lamenta.  “Apesar de ser triste pelo fato da gente ter perdido uma amiga, a homenagem foi muito bonita e importante para que as pessoas reflitam sobre o assunto”, acrescentou o fiscal e amigo Abner de Souza Santos, 29.

A motorista deixou dois filhos, um de apenas um ano e cinco meses e outro com 19 anos de idade.

Número de ocorrências é maior na região e gira em torno de 60% dos casos

Ocorrências – De acordo com o investigador chefe do SIG (Setor de Investigações Gerais) do 2º Distrito Policial de Boiçucanga, Ricardo Marques, a maioria das ocorrências registradas contra a mulher ocorre na Costa Sul de São Sebastião. O índice gira em torno de 60% dos casos. Ele, no entanto, não sabe dizer se as ocorrências têm prosseguimento porque a responsabilidade dos dados é da Delegacia da Mulher, situada na área central da cidade.

“Há mulher que procura a delegacia para registrar a ocorrência e depois de algum tempo retorna a conviver com o marido ou o companheiro. É algo complicado. Muitas querem que a polícia dê só um susto no homem, mas depois se tornam refém do marido  por vários motivos como insegurança, questão financeira, filhos e moradia. Em muitos casos confirmados a vítima volta com o agressor e assim fica difícil tomar providências”, fala Marques.

Quanto ao assassinato em Juquehy, o investigador afirma que o crime está esclarecido, porém a versão do rapaz não condiz com os fatos apresentados na delegacia. O setor diz que existem outras convicções com relação ao caso, que não está encerrado 100% devido a algumas diligências a serem feitas, inclusive a reconstituição do crime para sanar dúvidas. “O rapaz preso de fato é o autor. Estamos vendo a possibilidade de ter mais uma pessoa envolvida, o que não está confirmado”.

Sobre a Lei Maria da Penha, o agente policial declara que ela é “muito bonita no papel”. Na prática, entretanto, não funciona porque é muito falha. Ele cita como exemplo a medida protetiva, que é quando o homem não pode se aproximar ou ter algum tipo de contato com a mulher. “Isso pra mim não garante a integridade e segurança da mulher”, acredita. Na opinião dele, a legislação precisa ser totalmente reformulada com penas mais pesadas e medidas mais eficazes para oferecer mais segurança à mulher.

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