Na última sessão do ano, manifestantes ficaram do lado de fora da Câmara por serem contra o acréscimo de R$ 2 mil para os vereadores
Por Raell Nunes, de Ubatuba
Mais uma vez a população de Ubatuba se mobilizou, através de uma manifestação na terça-feira (13), contra o aumento superior a 25% nos salários dos legisladores. No entanto, no logo no início do protesto, os munícipes ouviram a afirmação da Guarda Municipal: “ordem do presidente, só vão entrar 70 pessoas na Câmara”.
E foi desta maneira que começou a sessão ordinária na “casa do povo”: portas fechadas para muitos ubatubenses. Lá dentro, vaias quando os vereadores entraram. Do lado de fora, apitos, cartazes, megafones e um só pedido da população em coro: “queremos entrar, a casa é nossa”. Os guardas, por ordem do Poder Legislativo, não deixaram.
Enquanto isso, o presidente da Câmara, Pastor Xavier (PSDB), tentava falar ao microfone mais uma vez. Porém, segundo afirmou, estava inviável continuar a sessão, porque havia uma algazarra do lado de fora. Do outro lado, os moradores da cidade tentavam ingressar para o interior do prédio, até que a porta saiu do lugar. A Polícia Militar também estava nas imediações.
A Guarda Municipal teve que usar a força para conter os manifestantes. Além da força física, também usaram spray de pimenta para afastar a multidão – que por pouco não derrubou as portas da sede recém inaugurada do Legislativo.
Igual a última manifestação, o presidente tocou a campainha com a mão direta e encerrou a sessão, que durou menos de dez minutos. Havia mais de mil pessoas, segundo os organizadores do protesto. De acordo com a Guarda Municipal, tinham 300.
Vereadores não voltam atrás
Nada se resolveu. Os vereadores não mudaram a postura de dar acréscimo aos próprios vencimentos, saindo de R$ 8.016,93 e indo para R$ 10.128,80 – mais de R$ 2 mil de diferença.
O prefeito Maurício Moromizato (PT) ainda tem o poder de sancionar ou vetar a proposta. O chefe do Executivo se comprometeu a não sancionar o projeto de lei. Porém, se isso acontecer, dentro de 15 dias, a pauta volta à Câmara dependendo novamente da aprovação dos legisladores.
A população continuou a protestar do lado de fora, mesmo após o término da reunião. Os vereadores favoráveis ao aumento, Pastora Daniele (DEM), Silvinho Brandão (PSDB), Adão (PCdoB), Manoel Marques (PT), Benedito Julião (PSL) e Pastor Xavier (PSDB), deixaram o plenário e subiram para seus gabinetes, que ficam no terceiro andar da Casa de Leis. Antes disso, alguns tomaram até cafezinhos.
Assim como foi da última vez que houve protesto, os contrários à propositura, Flávia Pascoal (PSB), Bibi (PMDB), Xibiu (PSDB) e Ivanil Ferretti (PMDB) ficaram no local de reuniões para ouvir as reivindicações dos presentes.
“Mais uma vez eu me sinto envergonhado. Nós estamos levando vaias também. Já tem processos contra, é justo. A manifestação é um direito do povo”, falou Xibiu.
Para outro legislador, Ivanil Ferretti, esse aumento é imoral, pois a cidade está precisando de muitas melhorias. Ele citou as dificuldades que a Santa Casa enfrenta no momento. “Não vejo nenhuma possibilidade dos vereadores voltarem atrás”, concluiu.
Único vereador reeleito a votar contra, Bibi comentou que pela segunda vez a população mostrou que é capaz de lutar pelos seus direitos. “Mas é uma pena que a Casa não foi aberta para população em geral. Eu não sabia disso, fui pego de surpresa. Acho que deveria ser liberado para a população. Há muitas senhoras, crianças e jovens aqui, eu discordo de portas fechadas”, acrescentou o peemedebista.
Entenda a situação
O projeto de lei n° 110/16 foi votado na manhã do sábado retrasado, em sessão extraordinária – na qual os vereadores ganham cerca de R$ 800 para realizar e foi pouco divulgada à população ubatubense. Cerca de 40 munícipes estavam presentes na Casa Legislativa. Apesar do teor da pauta, a votação foi pacífica, contendo apenas vaias no final.
Desde então, os moradores ficaram indignados com a situação e organizaram um protesto na terça-feira passada (6) reivindicando que os representantes do Poder Legislativo voltassem atrás. Esta manifestação reuniu cerca de 2 mil pessoas. O prefeito também foi pressionado para vetar a proposta.
Uma petição feita pela internet colheu mais de 2 mil assinaturas em 48h. Através das redes sociais, os moradores se organizaram e combinaram como seria o acontecido. No local, havia até carro de som com amplificador e microfone. Conforme depoimentos, os munícipes só vão parar de protestar quando o Legislativo voltar atrás na decisão de aumentar os próprios salários.