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Infectologista Alexandre Barbosa esclarece dúvidas sobre a vacinação contra a covid-19

Tamoios News

Pesquisa do Datafolha realizada entre os dias 20 e 21 de janeiro com 2.030 pessoas mostra que 79% dos brasileiros querem se imunizar contra a covid-19. Já 17% disseram que não pretendem se vacinar e 4% não souberam responder. A margem de erro é de dois pontos percentuais. O levantamento foi divulgado pela CNN Brasil.

Entre os que não querem se vacinar, encontram-se muitas pessoas inseguras, desconfiadas, confusas com informações falsas que são disseminadas em redes sociais e aplicativos de mensagens. Para esclarecer dúvidas comuns sobre a vacinação contra a covid-19, o portal Tamoios News conversou com o professor doutor Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da UNESP e Consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Confira a entrevista:

Sou obrigado a tomar vacina?

Dr. Alexandre Naime Barbosa: Ninguém é obrigado a receber nenhuma medicação, nenhum imunizante no Brasil. As pessoas devem ter consciência de que as vacinas são uma das estratégias mais importantes para evitar doenças infecciosas e uma das principais responsáveis pelo aumento da expectativa de vida, que dobrou nos últimos duzentos anos. Então, ninguém é obrigado a tomar vacina, mas todo mundo deve se conscientizar que elas são a forma mais segura e eficaz de evitar uma série de doenças, como por exemplo: hepatite A, hepatite B, tétano, gripe, sarampo, coqueluche, rubéola, catapora e por aí vai. A da covid-19 é mais uma vacina que apareceu para nos proteger. Então, não cabe essa discussão sobre obrigatoriedade.

Corro risco de pegar covid-19 ao receber as doses da vacina?

Dr. Alexandre Naime Barbosa: De forma nenhuma. As vacinas da CoronaVac são feitas de vírus morto, de vírus inativado, portanto a pessoa ao tomar a vacina não vai ter a covid-19, porque o vírus está completamente morto. A carapaça, o esqueleto do vírus é usado para que o corpo consiga fazer a resposta imunológica. E a Oxford/AstraZeneca não usa o coronavírus, usa um vetor viral chamado adenovírus. Então, a exemplo do que a gente sempre fala da vacina da gripe, quem toma a vacina não pega a gripe por conta da vacina, é justamente o contrário, você vai evitar principalmente as formas graves. Essa é uma fake news, um mito muito frequente, mas que não tem qualquer tipo de racionalidade científica.

Posso pegar covid-19 mesmo estando vacinado?

Dr. Alexandre Naime Barbosa: As vacinas covid, essas de primeira geração que surgiram agora, CoronaVac, Oxford/AstraZeneca, da Pfizer, da Moderna, são para evitar as formas graves. Elas evitam hospitalização, evitam que a pessoa se infecte com o novo coronavírus e desenvolva formas que necessitem de hospitalização, de leitos de UTI, mesmo o óbito. Ela não impede que a pessoa tenha quadros leves. Então, a vacina vem no sentido de transformar uma doença potencialmente grave, potencialmente fatal, numa doença leve. As pessoas que são vacinadas podem sim se infectar, podem sim transmitir, e até por isso devem manter o pacote de prevenção, que inclui uso de máscara, distanciamento social evitando aglomeração, higiene das mãos, mas a pessoa vacinada tem o benefício de não progredir para a doença grave. E é por isso que os grupos prioritários de vacinação são aqueles mais vulneráveis, os idosos e os profissionais de saúde nesse primeiro momento, e num segundo momento vai ser ampliado também para as pessoas que têm comorbidades. Então a eficácia da vacina não é impedir completamente a circulação do vírus, porque essas vacinas ainda não têm essa potência de evitar completamente a infecção leve, mas o benefício é enorme, é tremendo, evita hospitalização, evita internação em UTI e evita óbito.

Há efeitos colaterais ao tomar a vacina?

Dr. Alexandre Naime Barbosa: Qualquer medicação, qualquer imunizante tem possíveis eventos adversos, e isso não é diferente em relação às vacinas contra a covid-19. Mas as duas vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil, tanto a CoronaVac quanto a Oxford/AstraZeneca, são vacinas extremamente seguras, com efeitos colaterais extremamente leves. A última avaliação de eventos adversos que o SUS, o Ministério da Saúde fez foi de 0,25%, ou seja, menos de 1%, em mais de 3 milhões de doses aplicadas, nenhum evento adverso considerado moderado ou grave, somente eventos adversos, eventos colaterais leves, como dor no local da injeção, febre baixa no dia que tomou a vacina, um pouquinho de dor no corpo, dor de cabeça, mas são extremamente leves, principalmente se comparado com o benefício de evitar as formas mais graves da covid-19.

Existem contraindicações?

Dr. Alexandre Naime Barbosa: Existem poucas contraindicações à vacinação. Não deve ser feito para quem tem menos de 18 anos, porque não foi testado nessa faixa etária, mas já há estudos em andamento. Gestantes e mães que estão amamentando devem conversar com o médico obstetra e pediatra, para avaliar a relação custo-benefício. Tanto a Febrasgo, que é a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, quanto a Sociedade Brasileira de Pediatria, já recomendam a vacinação em gestantes e mulheres que estão amamentando se elas forem de grupo de risco, pois os possíveis eventos adversos relacionados ao feto, ao bebê ou à criança que está sendo amamentada, são potencialmente nulos.

Posso tomar a vacina se eu estiver doente?

Dr. Alexandre Naime Barbosa: Se você estiver com sinal ou sintomas sugestivos de covid-19, ou estiver com febre, dor de garganta, um quadro gripal, você não deve ser vacinado. Você deve procurar atendimento médico, para verificar se você realmente tem covid-19 ou é outra doença, fazer o diagnóstico, fazer o teste padrão ouro que é o RT-PCR e aí, caso você esteja com covid-19, a vacina deve sim ser feita, mas após quatro semanas após o primeiro dia de sintoma. Então, quem já teve covid-19 deve sim tomar a vacina, mas após o período de quatro semanas (28 dias) depois do primeiro dia de sintoma, se estiver, obviamente, nas categorias de indicação, na ordem de prioridades de vacinas, visto que infelizmente o Brasil se preparou muito mal, tem pouco estoque de vacina e a vacinação está em ritmo lento.

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