Nesta segunda-feira, 28/3, os alunos tiveram aulas práticas em um veleiro dentro da unidade de Caraguatatuba
Novos ventos estão soprando e oferendo oportunidades aos jovens e adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa na Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA) Caraguatatuba. É o curso ‘Introdução Profissionalizante na Área Náutica’, que vem trazendo grandes mudanças no perfil dos adolescentes.
Sete deles com idades entre 16 e 19 anos estão participando de uma iniciativa inédita, ministrada pelo Instituto Mar Atlântico, através dos projetos ‘Ecologia em Ação’ e ‘Velas ao Vento’. O curso tem por objetivo fornecer capacitação profissional básica no setor náutico, para que os adolescentes tenham opções de atuação no mercado de trabalho da região, em garagem de embarcações, marinas, comércio e manutenção de embarcações, dentre outras áreas do setor.
O curso teve início em janeiro e na última segunda-feira, 28/2, os alunos tiveram aula prática em um veleiro, que foi levado à Fundação CASA pelo Comodoro Itzac Ben Kalesh, do instituto.

Foto: Divulgação / Fundação CASA
A formação prevê carga horária de 50h, dividida em seis módulos, com conteúdo teórico e prático que incluem, dentre outros, noções de navegação à vela, reparos em fibra de vidro, polimento de embarcações, motores, carpintaria náutica, contabilidade e atendimento ao cliente. Haverá emissão de certificados.
Segundo Luciana Guagliano de Lucca, diretora da Fundação CASA Caraguatatuba, a escolha dos adolescentes foi feita pela equipe de referência multiprofissional, composta por psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, agentes educacionais e agentes de apoio socioeducativo. Foram considerados como critérios, a idade, escolarização, tempo de cumprimento de medida e avaliação de cognição aplicada pelo próprio Comodoro, em etapa anterior ao início do curso.
“Nunca houve nada semelhante a essa formação na área náutica na Fundação CASA. Isso tudo muito tem nos honrado, trata-se de investimento no potencial destes jovens que veem ao seu entorno, oportunidades reais de empregabilidade. É um novo universo que se abre para eles, um nicho no mercado que requer mão de obra especializada”. Segundo a diretora, os adolescentes têm se familiarizado com as terminologias usadas e compartilham o que estão apreendendo com os demais adolescentes. “Eles traçam planos de emprego, têm se mostrado focados em projetos de vida. Há grandes mudanças acontecendo no perfil dos adolescentes. Estamos muito orgulhosos”, comemora.
“Concomitantemente ao curso, estamos articulando junto às prefeituras municipais a formalização de um programa pós-medida, que auxiliará na permanência destes jovens no mercado de trabalho. A Secretaria de Justiça tem investido no ‘Programa Minha Oportunidade’, que usa capacitação socioemocional e que ajudará os adolescentes na questão da empregabilidade”, aponta.
Antes do início da formação, em 2021, alguns adolescentes visitaram o Porto de São Sebastião, administrado pela Companhia Docas de São Sebastião (CDSS), com o objetivo conhecer o universo náutico, para que se familiarizassem com o funcionamento, conceitos e vocabulário do setor, ambientados para participar do curso de Introdução Profissionalizante na Área Náutica.
Outras visitas técnicas estão previstas, como aula no polo de velas, no Instituto Mar Atlântico e outros lugares, integrando a expansão de olhares dos jovens, como marinas, fazenda de mexilhões, comunidades caiçaras e quilombolas, entre outros.
Acesso por meio de TAC
O curso ‘Introdução Profissionalizante na Área Náutica’ é fruto de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) firmado entre o MP-SP/GAEMA-LN/INSTITUTO MAR ATLÂNTICO, instituição esta, voltada à atividade social na área náutica de navegação à vela e cunho ambiental, na praia do Centro, no bairro Sumaré em Caraguatatuba.
Dentro de suas áreas de atuação, com os projetos ‘Ecologia em Ação’ e ‘Velas ao Vento’ surgiu a oportunidade de além de recuperar a vegetação nativa da praia, alterada em suas características naturais por ação humana ou mecanizada, realizar cursos básicos de profissionalização, o que tornou possível o acesso dos jovens da Fundação CASA à formação.

Foto: Divulgação / Fundação CASA
“As tratativas tiveram início em 2019 e foram suspensas por conta da pandemia. Tomou corpo com o MP, nessa obrigatoriedade voltada para a área social, o que é muito importante. O curso é condicionado ao TAC e para nós é como uma parceria, proporcionando a sentença favorável. Transitou em julgado e ele vincula o uso da área ao projeto ambiental associado ao projeto social. Não existe um sem o outro e aquele espaço denominado NANDÉ TEKOÁ – Reserva Sustentável, agora é uma Área de Preservação Permanente (APP) e dentro do contexto do meio ambiente, agora é intocável. O TAC foi referendado pelo Ministério da Economia, Superintendência do Patrimônio da União e emitido documento confirmando que temos a cessão gratuita de uso da área”, enfatiza o Comodoro Itzac.
Sobre a Fundação CASA
A Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA), instituição vinculada à Secretaria Estadual da Justiça e Cidadania, tem a missão primordial de aplicar medidas socioeducativas de acordo com as diretrizes e normas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Presta assistência a jovens de 12 a 21 anos incompletos, em todo o Estado de São Paulo, inseridos nas medidas socioeducativas de privação de liberdade (internação) e semiliberdade. As medidas – determinadas pelo Poder Judiciário – são aplicadas de acordo com o ato infracional e a idade dos adolescentes.
A fim de aprimorar a qualidade do atendimento, o Governo do Estado de São Paulo apostou num programa de descentralização do atendimento. Em síntese, o objetivo é fazer com que os adolescentes sejam atendidos próximos de sua família e dentro de sua comunidade, o que facilita a reinserção social. A unidade Caraguatatuba foi inaugurada em 2009.
Texto: Adriana Coutinho/Tamoios News