Morando em São Sebastião há 50 anos, Abelardo Gomes de Abreu, 88, escolheu a cidade para passar o resto da sua vida
Por Rafael César, de São Sebastião
O paulista e morador do bairro Porto Grande, região central de São Sebastião, Abelardo Gomes de Abreu, 88, já viveu muitas coisas e visitou vários lugares do mundo na longa jornada de sua vida. Morando na cidade há 50 anos, ele afirma que não existe melhor lugar no planeta para se viver. “Seu Abelardo” é arquiteto e remador profissional aposentado, no entanto, mesmo com a idade avançada continua dando suas remadas no mar.
“Eu já morei nos Estados Unidos, fui para países asiáticos, da Oceania, Oriente Médio e Europa. Acho que o único continente que não visitei foi o africano. Construí minha casa aqui [em São Sebastião] na década de 70, resolvi que a partir dali iria passar os meus últimos dias. Tenho certeza que foi uma das melhores decisões que já tomei na minha vida, nunca vi cidade mais linda”, comentou Gomes.
O veterano remador não compete em campeonatos de remo, entretanto, na década de 90, ele foi considerado um dos dez melhores do mundo na categoria master e disputava as quatro modalidades existentes do esporte. Segundo ele, o Brasil deveria investir mais nessa modalidade que rendeu medalhas na última Olimpíada para o país.
“Desde os meus 20 anos, sou filiado a clubes que me proporcionaram minhas experiências no remo. Porém, os clubes não são exclusivamente dedicados a este esporte. Em outros países, vi centros de treinamento apenas de remo, só desta maneira o remo se tornaria mais popular e seria um esporte que sempre traria medalha para o Brasil”, explicou.
Com dois livros publicados, Nós Mesmos (2002) e Vamos Nessa (2016), Abelardo segue trabalhando em mais uma publicação que será lançada em breve. Além de sempre ter amado exercitar o corpo, o senhor do remo é um intelectual que se dedica todos os dias aos estudos e às suas produções.
Para a enfermeira e cuidadora, Maria Alves, 44, Abelardo é mais que patrão, ele é um amigo. “Conversamos sobre um pouco de tudo, inevitavelmente, o assunto mais debatido é política. Trabalho há quatro anos com ele e posso garantir que ele gosta de comer qualquer coisa, sem nenhuma frescura ou restrição médica”, falou, sorrindo.
A faxineira admira a vitalidade e a saúde de ferro do arquiteto, dizendo que o ponto principal dele ter alcançado a longínqua idade foi a perseverança e o comprometimento com a vida de atleta. O escritor confirma o que Maria disse e complementa criticando a falta de vontade dos jovens dos dias de hoje.
“Poupei-me de várias festas, bebedeiras, além de nunca ter utilizado nenhum tipo de droga ilícita até hoje. A juventude brasileira é meio desvirtuada e isso atrapalhar no desenvolvimento profissional do futuro empregador ou empregado. Temos que manter o foco e acreditar, se não é impossível”, completou Abelardo.
Em relação ao desenvolvimento da cidade que tanto ama, ele acredita que São Sebastião tem muito para se desenvolver ainda, só que ele enxerga esse crescimento com receio por saber que, às vezes, as mudanças e a evolução podem causar danos e manchas em algo que sempre foi tão maravilhoso.
História e familiares
O amante de São Sebastião, Abelardo Gomes de Abreu, nasceu em 1928, membro de uma família de classe média alta. Com três tios médicos e o pai sendo contador, a carreira acadêmica era só uma questão de tempo para aquele jovem paulista.
“Minha mãe sempre me ensinou a não me preocupar com a vida dos outros e isso não podemos negar que acontece muito atualmente. Outra coisa que ela me ensinou foi a não ter vergonha de si mesmo de forma alguma, procurar sempre ser o que eu realmente era. Para mim foi o mais me ajudou a construir minha vida”, salientou.
De 1935 a 39 cursou o pré e o primário na “Olinda” uma escola alemã de São Paulo. De 1940 a 49 prosseguiu seus estudos na instituição dos padres jesuítas e depois dos irmãos maristas em São Paulo. De 1950 a 54 graduou-se na Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie (SP).
Em 1958 e 59 foi contratado pelo escritório Lankton, Ziegle & Terry, Architects Ass., Peoria, Illinois, USA. Já de 1968/69 presidiu o Instituto dos Arquitetos do Brasil, SP. Em 1968 foi diretor técnico da Comp. Metropolitana de Habitação Popular de São Paulo, Cohab, e em 1969/70 secretário da Primeira Diretoria do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico de São Paulo, Condephat.
Em 1972 e 73 foi fundador e superintendente do Centro Brasileiro da Construção, CBC. Trabalhou como profissional liberal autônomo durante 42 anos; em 1996, encerrou seus trabalhos de arquitetura por autodeterminação. Em 2008/9 criou e patenteou [INPI Nº PI 0900851-9] um sistema de construção de móveis denominado “Encaixepronto”, método isento de pregos, parafusos e mesmo adesivos.
É casado com Ana Maria Silva de Abreu, arquiteta pela USP. Têm uma filha Ana Elisa, que é geóloga pela USP e engenheira civil pelo Mackenzie, e um filho Celio, que é também arquiteto pela USP.
Abelardo mantém 46 anos de relacionamento com a esposa dele, sendo que ela vive em São Paulo e ele no Litoral Norte. Para ele, a felicidade está em fazer o que cada um quer, sonha e almeja. “Ninguém é dono de ninguém. A vida é uma grande piada e temos que rir sempre dela”.