Cidades São Sebastião

Obra literária pode desvendar caso de roubo de criança no ano de 1971 em Boiçucanga

Tamoios News
Sandra e dona Maria Florência

Em 2021, a jornalista e escritora Maria Angélica de Moura Miranda fez uma série chamada “Quem tem medo de Lendas?”, eram quatro livros com seis histórias em cada, sobre o Litoral Norte de São Paulo. O título era uma provocação, pois ela registrou fatos reais numa releitura que parecia lenda. Além dos livros, o escritor Henrique Cardim, responsável pelo grupo de teatro Cia O Castelo das Artes, escreveu uma peça de quase duas horas, com quatro lendas que a autora escolheu. Esse projeto, com os quatro livros e a peça de teatro, foi inscrito no Proac nº 20/2021 e foi contemplado. Em 2022 a obra literária foi levada às escolas de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela. A escritora também inscreveu o projeto no Prêmio Jabuti 2023, na categoria Fomento à Leitura, e ficou entre os dez finalistas.

Em 2024, enquanto Maria Angélica divulgava seus livros em uma festa no Rancho dos Pescadores em Boiçucanga, ao ler uma das histórias sobre o roubo de uma criança que aconteceu em 1971, na mesma praia, conheceu o Pimpe Lobo, um pescador que é irmão da criança que foi roubada. Em seguida a escritora foi à casa da família e gravou um vídeo contando em detalhes toda essa história com os pais da criança, o seu Luiz Carlos dos Passos e a dona Maria Florência dos Santos Passos.

Esse vídeo foi publicado nas redes sociais e ajudou para que fosse elaborado um Boletim de Ocorrência sobre o roubo da criança, que havia acontecido na época (1971). O Boletim de Ocorrência foi realizado no dia 29 de janeiro de 2025, na Delegacia de Boiçucanga, a idéia era colocar o sangue dos pais num Banco de DNA que o Ministério da Justiça criou para pessoas desaparecidas.

Porém, antes disso, Adriana de Souza Laura, pesquisadora de Genealogia, entrou em contato com a escritora Maria Angélica e passou o celular de Sandra Regina Novais, que estava à procura de sua família biológica. Sandra agora com 55 anos estava à procura da sua história, sabia que foi adotada em uma praia de São Sebastião, mas nunca conheceu os pais.

O casal que adotou Sandra em 1971, faleceu logo depois, a mãe Nanci Santana Novais, em 1972 e o pai Alípio José Novais, em 1973.  Sandra foi criada por uma irmã 19 anos mais velha, chamada Sônia Regina Novais. A vida de Sandra sempre foi um grande mistério com várias versões sobre a sua origem, seus parentes são da praia de Toque Toque Pequeno e ela sempre vinha passear nas férias, e até hoje tem pessoas da família por lá.

Ao assistir o vídeo ela se reconheceu na história, podendo ser a criança que foi roubada. Como seus pais faleceram quando ela tinha três anos, não conseguiu saber a sua origem, e assim criou a esperança de finalmente saber quem são seus pais biológicos.

Sandra mora há 18 anos em Maceió, no estado de Alagoas, casada, tem uma vida estruturada, trabalha como podóloga e frequenta a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias, onde faz um trabalho de genealogia para os interessados. Na sua infância e juventude morou em São Paulo e em São Vicente, e curiosamente foi registrada em 1971, em Olímpia/SP, a cidade onde seu pai adotivo nasceu.

Sandra tem uma filha chamada Rafaela Novais de Oliveira e dois netos, Enzo e Manuela, que moram em São Vicente. Com Raul Silva Lima, que é seu atual marido, tem um filho de 19 anos chamado João Gabriel Novais Lima.

Ansiosa para esclarecer sua paternidade, chegou em São Paulo no dia 05 de dezembro e no dia 06 conheceu pessoalmente o seu Luiz Carlos e a dona Maria Florência, em São Sebastião. Ela foi recebida com muita atenção e carinho. No dia 8 de dezembro colheram o sangue para o exame de DNA no laboratório Biotec, no Centro da cidade, para confirmar se são seus pais biológicos.

Como o resultado do exame demora 15 dias, Sandra não pode esperar e voltou para Maceió com a esperança de finalmente conhecer a sua verdadeira história.

Por Maria Angélica de Moura Miranda