Quantidade de lixo espalhada pela cidade pode ser até comparada a bairros da capital
Por Marcello Veríssimo
Um problema crônico, nocivo e recorrente. O volume de lixo espalhado pelas ruas do Centro Histórico e bairros da Costa Norte e Costa Sul de São Sebastião parece tomar conta de toda a cidade. As cabeceiras das pontes na Vila Amélia, mesmo com placas alertando sobre o crime ambiental, amanhecem quase que diariamente repletas de lixo de todos os tipos. “Parei dez minutos para tomar um café, ou não aguento”, disse a gari, que não quis se identificar, enquanto varria ruas do bairro debaixo de sol forte.
Podas de árvore, restos de móveis, comida, garrafas pet, sacos plásticos, restos de computadores, carcaças de televisão, entre outros tipos inimagináveis de resíduos sólidos. Percorrendo ruas do Centro e da Topolândia é fácil encontrar dezenas de tipos de resíduos espalhados no chão e em lixeiras abarrotadas. “Aqui [na rua] a sucata é falha, passa quando quer”, disse Luciana Gallani, moradora na região da Topolândia. “Não podemos generalizar como se a culpa fosse somente dos moradores”, ela defende. “Agora parece ter melhorado um pouco, mas já tive que ligar todos os dias para a empresa que faz a coleta do lixo”, completou.
Para o presidente da Associação Amigos da Vila Amélia Waldir Lucio, que preside a entidade há 12 anos, nasceu e foi criado no bairro “hoje até que melhorou um pouco, mas o problema persiste. O Trabalho tem que ser contínuo, de fiscalização”, aponta Waldir, que mesmo sem formalidade realiza o encaminhamento de problemas que ele detecta no bairro ao poder público. Conhecedor de toda Vila Amélia ele sugere uma fiscalização semanal por parte da secretaria de Meio Ambiente “monitorando os bairros”, disse ele. Assim, aos domingos, por exemplo, segundo Waldir, podem ser realizados mutirões de limpeza para recolher o que o caminhão de lixo deixa de lado.
Outro ponto crítico fica bem próximo à sede da empresa coletora de lixo em São Sebastião, perto da zona portuária, um dos acessos à Praia do Deodato em que existe bastante acúmulo de lixo, esgoto e também degradação humana com usuários de drogas. Moradora em Caraguatatuba, a agente de endemias concursada da Prefeitura de São Sebastião, Maristela Silva, conta que em sua casa a reciclagem é um conceito que ela tenta passar para os três filhos pequenos. Antes, diz ela, quando morava na região do Aruan levávamos o lixo reciclado até a escola, que vendia para cooperativas e comprava materiais para as crianças. “Sempre tive o cuidado de lavar embalagens de caixa de leite, molho de tomate”, explica Maristela. Mas agora morando no Porto Novo ela sente falta da coleta seletiva já que em Caraguatatuba não existe coleta seletiva. “Aí o lixeiro acaba levando tudo junto”, reclama a funcionária publica.
Já a aposentada Janete Flausino acredita que seja preciso “deixar claro” para todos o que é lixo e o que é sucata. Ao comprar uma geladeira, ela conta que fez o descarte da caixa de papelão juntamente com sacos plásticos e o isopor, que geralmente protege os eletrodomésticos novos. “Eles [o caminhão da sucata] deixaram todo o isopor, fui atrás e me disseram que isopor é lixo. Como querem que eu aceite que isopor é lixo”, disse Janete, inconformada. Depois, segundo Janete, o isopor ficou rolando pelos arredores da sua casa por algumas semanas. “Absurdo!”, reclama.
Engano – A consultora para resíduos sólidos, Georgeta Gonçalves, que ajudou a elaborar o Plano Municipal de Resíduos Sólidos – até hoje na gaveta – considera que existe um “engano” quando as pessoas falam em lixo. “Lixo não é só um problema, lixo são vários problemas”, analisa. A iniciativa surgiu, segundo Georgeta, na época do então prefeito Paulo Julião no início dos anos 2000. “Foi por volta de 2006, nos antecipamos à lei federal que veio depois em 2010”, explicou a consultora. De fato, consultando a lei comprova-se que em 2 de agosto de 2010 foi instituída no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos. “As pessoas se enganam e confundem a separação do lixo com reciclagem. Reciclagem é um processo industrial”, completou. A divisão de sucata e lixo orgânico foi criada como uma alternativa para simplificar o processo na tentativa de popularizar a ação. Como é lei federal, regulamentará todo tratamento dado ao lixo que é gerado, incluindo sua classificação em resíduo portuário, resíduo reciclável, resíduo de poda, resíduos especiais “volumosos e perigosos”, explica Georgeta. Entre os perigosos, lâmpadas, por exemplo.
A Prefeitura de São Sebastião informou, em nota, que realiza “trabalhos constantes de conscientização”. As ações ocorrem por meio da Divisão de Educação Ambiental e pelo Núcleo de Informação Educação e Comunicação (IEC). De acordo com a assessoria de imprensa, o trabalho é realizado no Observatório Ambiental, na Rua da Praia, com palestras e visitas monitoradas na tentativa de fazer com que as crianças e adolescentes sejam “multiplicadores” de assunto como coleta seletiva, separação correta de resíduos e o descarte inadequado de lixo pelos bairros que acabam atraindo “ratos, baratas e o mosquito da dengue”, alerta a assessoria.