
Veleiro Mussulo 3 leva toda sua experiência à 42ª ISW
Rajadas de vento com 60km/h e ondas de até 3 metros provocaram avarias e recorde de desistências
Por Marcello Veríssimo
Uma regata complicada, dura, emocionante, que exigiu persistência, inteligência e agilidade dos competidores. Assim foi a regata “Alcatrazes por Boreste”, que tradicionalmente inicia as competições de regatas na ISW para a maioria dos veleiros participantes do desafio. “Chegar lá e voltar já foi válido”, disse José Guilherme Caldas, 54 anos, timoneiro do veleiro angolano Mussulo 3, embarcação com 55 pés e muita experiência em competições de alto nível no currículo.
A má condição do tempo que predominou na região neste fim de semana, com rajadas de vento, mar forte e ondas de aproximadamente três metros, deixou a regata ainda mais puxada para muitos veleiros. A prova foi concluída em cerca de 9 horas. “Foi complicado, o tempo não colaborou, tivemos recordes de desistências; enquanto nossa tripulação estava voltando ainda tinham veleiros na direção de Alcatrazes”, completou o iatista angolano, que já participou de outras edições da Ilhabela Sailing Week, inclusive sendo campeão em 2012.
Na regata deste sábado, 119 embarcações largaram para três destinos diferentes e 59 desistiram por problemas em geral. Dos 60 veleiros que saíram rumo a Alcatrazes, apenas 34 concluíram a prova. “Ficamos felizes por terminar entre os primeiros”, completou o comandante do Mussulo 3, acostumado ao percurso em grandes distâncias. Ele já atravessou o oceano atlântico sete vezes entre o continente africano e o Brasil. “Uma delas sozinho”, disse ele. A travessia depende muito das condições do tempo, e geralmente leva cerca de 1 mês para ser completada.
Em Ilhabela, José Guilheme Caldas comanda uma tripulação de 12 homens com diferentes nacionalidades. Para auxiliá-lo no trajeto, ele conta que um profissional imprescindível é o chamado regulador de vela, também conhecido por tático da embarcação. “É quem põe o barco no prumo certo”, brinca.
O barco fita azul, primeiro a concluir a regata, foi o veleiro gaúcho Camiranga, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Na opinião dos velejadores, “um barco feito para bater recordes”. “O Camiranga é um barco feito para ganhar regata”, diz Caldas, que agradeceu o patrocínio da Angola Cables, empresa que desenvolve projeto de instalação de cabos de fibra óptica submarinos entre o continente africano e o Brasil.
Contemporâneo de Torben Grael no esporte, José Guilherme disse ainda que a tripulação também contou com a participação de um velejador mirim de apenas 15 anos que tem a chance de acompanhar a competição e aprender sobre esse esporte que é capaz de mudar a vida de muita gente.
Assim como outros iatistas, José Caldas começou a velejar pequeno, aos 9 de anos de idade, na época em que seu país ainda era considerado uma colônia de Portugal. De lá para cá, seguiu caminho pelo esporte passando por diferentes classes até chegar ao rol das estrelas da vela oceânica. No currículo, regatas importantes – e longas – como Recife-Fernando de Noronha e a Cape 2 Rio, que sai da Cidade do Cabo com destino ao Rio de Janeiro.
A partir desta segunda os esforços da tripulação já estarão voltados para os preparativos técnicos visando as próximas regatas da 42ª ISW, que retornam na quarta-feira.