As homenagens que são feitas diariamente em todo o mundo aos profissionais de saúde são plenamente justificáveis e das mais merecidas. No combate ao coronavírus, esses profissionais se dedicam intensamente, apesar de terem poucas informações sobre o vírus, que tem provocado tantas mortes e causou uma tremenda crise sanitária e financeira no mundo.
Esses profissionais, por estarem na linha de frente, são os mais sujeitos à contaminação. Para evitar levar o risco de infecção aos seus familiares, dormem em hotéis e passam dias longe da família. O distanciamento da família, abala psicologicamente esses profissionais. Vivem estressados pelas horas dedicadas aos atendimentos e muitos, precisam tomar medicamentos, para conseguir dormir. Mesmo assim, estão lá, na linha de frente, para atender, medicar e consolar os doentes da covid-19.
O Tamoios News entrevistou um desses médicos que atuam na linha de frente ao combate do coronavírus no Litoral Norte. O entrevistado é o médico Juan Lambert, que coordena a urgência e emergência da UPA centro, do Pronto Socorro Municipal e do pronto atendimento do Cascalho, em Boiçucanga, em São Sebastião.
Família
“Não está sendo nada fácil. Fiquei sem ver meu filho Lucas, de quatro anos e minha esposa Mariane, por 36 dias. É extremamente difícil conviver com essa realidade sem manter a convivência com a família. Para manter a saúde mental é preciso conviver com a família, mas sabemos dos riscos. Antes da pandemia nunca tive problema de insônia, agora preciso de medicamentos para poder dormir”, conta o médico Juan Lambert, de 36 anos.
Ontem, sábado(25), Lambert tirou algumas horas, antes de ir até São José dos Campos, para ver o filho Lucas. E, resolveu fazer uma surpresa, vestiu uma fantasia de dinossauro para surpreender o filho e matar a saudade. Sua esposa Mariane, está grávida. A mulher e o filho estão alojados na casa do sogro, o comerciante Chiquinho Monter, em Caraguatatuba.
Veja o vídeo do médico Juan Lambert fantasiado de dinossauro para fazer surpresa ao filho, Lucas:
Vírus
Lambert convive com outros 40 colegas que atuam no atendimento de casos de Covid-19 no município de São Sebastião. o médico, que já fez por duas vezes teste de covid-19, ambos deram negativo, conta que entre os profissionais de saúde da prefeitura, apenas uma enfermeira foi infectada e está em isolamento domiciliar.
Desde o dia 26 de fevereiro, quando surgiu o primeiro caso da doença no Brasil, segundo ele, a equipe médica da prefeitura sebastianense passou a se reunir para elaborar uma estrutura de saúde para combater o coronavírus, caso o vírus chegasse à cidade. O prefeito Felipe Augusto, segundo Lambert, deu total apoio à iniciativa.
“Tivemos aulas com o infectologista Dr. Capitani e sobre como entubar uma paciente, com a Drª Daniela Medeiros. A prefeitura investiu em equipamentos como respiradores, monitores cardíacos. Preparamos o Hospital de Clínicas, a UPA, a unidade de Boiçucanga e o Tebar. Quando apareceu o primeiro caso em São Sebastião, estávamos capacitados para o atendimento. Temos 40 casos confirmados, mas o pico do coronavírus deverá ocorrer a partir do dia 15 de maio. Estima-se que poderemos ter mais de 200 casos”, explica Lambert.
Desesperador
Lambert conta que chega às 7 horas da manhã na UPA e deixa o serviços às 19 horas. Usa todos os equipamento de proteção necessários, luva, máscara M-95, óculos e macacão. Todos eles oferecidos pela prefeitura e hospital. “Apenas a cueca é minha”, contou.
Segundo ele, quando o paciente chega com falta de ar, um dos sintomas fundamentais do coronavírus, pede tomografia do pulmão e exame de sangue. O exame de sangue é mais conclusivo pois informar a quantidade de oxigênio no sangue. Se o nível de oxigênio estiver baixo, o paciente é entubado.
“É desesperador para o médico e para o paciente. O paciente não consegue respirar. O ar não entra e ele fica desesperado. O vírus tem uma evolução muito rápida. A pessoa chega assintomática e em poucas horas pode morrer. Estamos curando os pacientes com Hidroxicloroquina , azitromicina e tamiflu, este último usado no combate a gripe H1N1”, detalhou.
Esses medicamentos, segundo ele, foram utilizados no tratamento de uma senhora de 84 anos que deixou o hospital à semana passada, curada de coronavírus. A senhora, após ser infectada, passou 26 dias na UTI, 18 deles, entubada. A prefeitura, segundo ele, tem usado esses medicamentos nos casos mais grave com sucesso.
Veja vídeo da senhora de 84 anos curada de coronavírus pela equipe de Juan Lambert na UPA de São Sebastião:
.Casos
O médico Juan Lambert disse acreditar que o número de casos aumentaram na cidade porque foi ampliada a aplicação de testes rápidos adquiridos pela prefeitura. São Sebastião teve um aumento de 240% no número de casos em uma semana, passando de 12 para 40 casos, na última sexta(24). Apesar desse aumento, no sábado(25), apenas duas pessoas estavam internadas na UPA com suspeita de covid-19. As estruturas montadas pela prefeitura, no Tebar e em Boiçucanga, estão ainda ociosas, neste momento.
“Acredita-se que a cidade tenha cinco vezes mais o número de casos. A situação poderia ser pior caso a população não estivesse colaborando com o isolamento social. Com taxa média de 70% de isolamento, isso permite a prefeitura se estruturar para poder atender uma maior disseminação da doença. O pico do coronavírus deve ocorrer a partir do dia 15 de maio. Por isso, é fundamental que a população permaneça em casa”, disse o médico.
Coronavírus
“É o maior desafio da medicina. Abalou a saúde e a economia. A vacina ou a cura deve demorar um ano para chegar. Alguns medicamentos estão dando resultados, como os que estamos utilizando em São Sebastião. A expectativa é a imunização social, ou seja, com o tempo as pessoas criem imunidade ao vírus. O mais importante neste momento é o isolamento social, a higienização, o uso de máscaras, de álcool gel, o distanciamento entre as pessoas. Se os casos aumentarem no município, a prefeitura de São Sebastião está preparada para o atendimento. O prefeito Felipe Augusto tem feito investimentos importantíssimos em equipamentos como respiradores, monitores e EPIs”, finalizou.