Cultura Ilhabela

“Memórias Reveladas”- Um dos trabalhos mais sérios no resgate da cultura caiçara

Tamoios News

O resgate da cultura caiçara tem merecido atenção dos municípios da região, para valorizar os mais antigos e tradicionais habitantes de nossas praias e até mesmo, para fortalecer o turismo cultural. Em Ilhabela, vem sendo desenvolvido, desde 2014, um dos trabalhos mais sérios neste sentido: o Memórias Reveladas.

Por Salim Burihan

O Pés no Chão, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), que atua desde 2001 na cidade de Ilhabela, está desenvolvendo um projeto muito legal na ilha, trata-se do “Memórias Reveladas”, que tem como objetivo, o resgate da cultura caiçara.

O projeto começou em 2014, com apoio da Petrobras Socioambiental, e foi renovado para o biênio 2018/2019. Através dele, serão realizadas diversas ações junto a 130 crianças e adolescentes pertencentes a comunidades tradicionais, e também a famílias caiçaras moradoras em áreas urbanas do município. Ao todo serão visitados 14 núcleos caiçaras.

Trabalho com crianças caiçaras. Fotos- todas elas foram cedidas pelo projeto Pés no Chão

A cultura caiçara é resgatada, através do registro das histórias e causos narrados pelos representantes mais velhos das comunidades da ilha. Os integrantes do projeto reinterpretam e fazem a dinamização das “memórias” para as novas gerações, em suas comunidades ou moradias.

Segundo Emiliano Bernardo, um dos coordenadores do projeto, a equipe do Pés no Chão, composta por dez pessoas, percorrem as comunidades tradicionais e levantam quais são os pescadores mais antigos e gravam suas estórias e causos, que posteriormente, são repassados aos filhos dos pescadores.

Canoa de Voga

As crianças envolvidas no projeto, com idade entre 7 e 12 anos, são estimuladas a repassarem essas estórias e causos. O projeto atendia oito núcleos caiçaras, mas agora, é desenvolvido em apenas sete deles.

“A gente atendia a praia da Fome, mas os dois alunos que estudavam lá, foram transferidos para a escola da Serraria”, contou Emiliano.

O trabalho exige muita dedicação. Para atender oito alunos do ensino fundamental da escola que fica na Ilha de Búzios, a equipe viaja cerca de cinco horas de barco, normalmente, dos próprios caiçaras do lugar, para levar o projeto até lá.

“Assim, vamos resgatando a memória e repassando essas histórias e causos de pai para filho, de avô para neto…”,explicou Emiliano

Tubarão

Pesca do Nero

Esta semana, a equipe começou a contar a estória contada pelo pescador Lourival, de 70 anos, que até hoje ainda pesca na praia do Veloso. A estória, segundo Lourival, era contada pelo seu pai e também por seu avô, quando ele ainda era criança.

Contou ele, que nas proximidades da Ilha Montão de Trigo, uma canoa virou e dois pescadores foram atacados por um tubarão.

E que, algum tempo depois, pescadores capturam um tubarão, de cerca de 200 quilos e, ao abrirem a barriga dele, encontraram um antebraço, que pertenceria a um dos pescadores atacados em Montão do Trigo.

Os pescadores decidiram então, colocar o antebraço em uma caixa de sapato e enterrar o membro num cemitério que existia na praia de São Pedro, no sul da Ilha.

Emiliano destaca que todas as conversar são gravadas em vídeo e fazem parte do acervo do Pés no Chão. A equipe não questiona a veracidade das estórias. “A história vem do jeito que ela é repassada de geração para geração”, afirmou.

Contação

No segundo momento, ocorrerão 14 eventos “Gente Daqui” – quando serão feitas as apresentações da contação de histórias criadas na etapa anterior, e oferecidas oficinas de bonecos para as crianças nos núcleos caiçaras.

Na terceira etapa, ocorrerão as Jornadas da Cultura Caiçara. Elas compreendem um retorno aos núcleos caiçaras para a realização de oficinas lúdicas com crianças e adolescentes com duração mínima de 7 dias corridos, entrevistas e filmagens com os familiares mais velhos, e a apresentações de contações de histórias com bonecos, feitas pelas crianças, para um público formado por integrantes da sua própria comunidade.

A equipe faz questão de destacar o apoio dado pela prefeitura e das excelentes condições das escolas das comunidades tradicionais. Segundo Emiliano, todas elas possuem ótimo material pedagógico, bons professores e merenda de qualidade.

O Pés no Chão também desenvolve dois projetos em parceria com a Prefeitura. O “Entrenós”, pela secretaria de Cultura, que atende 180 crianças e o “Pés e Pessoas”, pela secretaria de Desenvolvimento Social, que atende outras 100 crianças.

 

 

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