Localizada em São Sebastião, a Ilha do Montão de Trigo fica aproximadamente há 14 quilômetros da costa sul do município. Os moradores, em sua maioria, são caiçaras que utilizam da pesca artesanal como meio de subsistência. O principal meio para chegar até o local é através de barcos, que normalmente partem de Juquehy ou da Barra do Una.
Apesar das belezas naturais, morar na Ilha envolve inúmeros desafios, principalmente quando se trata da questão saúde, como relata a moradora Lilian de Almeida Oliveira, de 44 anos. Caiçara, nascida e criada no Montão de Trigo, ela nos conta um pouco das dificuldades que tem enfrentado e do descaso da Prefeitura com a comunidade local.
Os pais de Lilian, segundo ela, os moradores mais antigos da Ilha, são idosos que dependem de cuidados médicos. Ambos já se encontram debilitados e a rotina de transportá-los até a unidade do PSF de Barra do Una é um desafio. Ela e suas irmãs se revezam nos cuidados dos pais, porém, dependem do transporte para atravessar.
Ela relata “É um descaso da prefeitura em relação a gente aqui na ilha. Os barcos deles nunca estão disponíveis para trazer os agentes de saúde até aqui. Meus pais são idosos, minha mãe além de acamada agora está cega. Meu pai também não anda mais direito e precisa da nossa ajuda. Os nomes dos meus pais, inclusive, constam na unidade de saúde como casos que precisam de acompanhamento, mas nada eles fazem, somos esquecidos, é como se não existíssemos no mapa”
Em conversa com nossa equipe, a moradora faz questão de salientar a boa vontade dos agentes de saúde do PSF Barra do Una, que se mostram sempre dispostos a realizarem os atendimentos, mas acabam nem sempre conseguindo pois não há embarcação disponível pela parte da Prefeitura de São Sebastião para realizar o traslado.
PSF Barra do Una / Foto: Acervo Pessoal
Lilian complementa o seu desabafo “a prefeitura vive enchendo a gente aqui de promessa sabe, falando que vai arrumar os portos, falando que vai fazer rampinha para a gente poder andar com os idosos, locomover eles melhor, e nada…tudo mentira. Vem aqui fazer um monte de promessa quando é época de eleição e depois esquece que a gente existe só porque o CRAS fornece uma cesta básica a cada dois meses. Eles acham que estão fazendo muita coisa pelo pessoal sendo que é um direito nosso.”
Solidariedade vizinha e barcos particulares
Os moradores do Montão de Trigo também nos contam e agradecem a solidariedade do Sr. Fernado da Ondas do Una, pois, segundo eles, são os barcos da marina que muitas vezes “salvam” e transportam os agentes de saúde e realizam, gratuitamente, o traslado dos moradores.
Fotos: Arquivo pessoal Fernando Silva
Procuramos então o Sr. Fernando, que prontamente nos atendeu e também relatou a sua visão sobre o caso: “Me chamo Fernando Silva, sou morador aqui de São Sebastião há 30 anos, estou radicado aqui há 27 anos, estabelecido. Adoro este lugar, adoro Barra do Una e tenho participado da comunidade como sempre, sem nenhum interesse político, administrativo ou mesmo financeiro. O pessoal de Montão de Trigo sempre contou com o nosso apoio, com o nosso píer, nossa marina e nossos banheiros. O pessoal está sempre aqui…o pessoal que faz a recolha do lixo, o Celso, a saudosa professora Benê, sempre esteve por aqui… Enfim nosso destino é participar da Comunidade, estamos juntos sempre sem nenhum interesse, volto a afirmar.”
Ele nos conta e nos mostra fotos da defesa civil, que também já passou pelo píer da marina diversas vezes, mas que isso foi no primeiro mandato. E complementa “os barcos quebram, não tem manutenção. Assim como nossa ponte maravilhosa, que está sendo enferrujada e já tem até morador, o nosso amigo Vanderlei, que se estabeleceu em baixo da ponte cheio de cocô e xixi, é uma desgraça. Mas vamos ajudar, vamos colaborar e vamos sempre juntos com a comunidade” ele conclui.
Foto: Fernando Silva
Prefeitura
Nossa equipe fez contato com o Departamento de Comunicação da Prefeitura de São Sebastião, porém, até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta alguma.
Por Daniele Murillo / Redação Tamoios News
