Sem formalidades e presença de autoridades, proprietários receberam as chaves do Residencial Getuba
Por Ricardo Hiar
Um dia após moradores protestarem pelos transtornos causados devido ao atraso e indefinição na entrega dos imóveis do Residencial Getuba “Sylvio Luis dos Santos”, em Caraguatatuba, a Caixa Econômica Federal realizou a entrega das chaves aos proprietários.
As 500 famílias que residirão no local receberam as chaves e um kit com alguns itens para concluírem instalações nas casas, como a ligação hidráulica na área de serviços.
O que chamou atenção, no entanto, é que não foi realizada nenhuma cerimônia oficial durante a entrega, tampouco houve presença de autoridades municipais, estaduais ou federais no conjunto habitacional, que integra o programa “Minha Casa, Minha Vida”, do Governo Federal.
Todas as atividades no local foram coordenadas e realizadas por funcionários do banco. Devido ao grande número de pessoas e filas extensas que se formaram, os portões de acesso ao condomínio, que é localizado na região Norte de Caraguatatuba, ficaram fechados.
O acesso foi sendo liberado aos poucos, para grupos de dez pessoas. Idosos e pessoas com deficiências tiveram prioridade no atendimento.
Apesar dos moradores terem recebido as chaves, eles deverão aguardar a liberação para mudarem. A Prefeitura de Caraguatatuba vai coordenar um cronograma de mudanças, visto que poderiam ocorrer diversos problemas caso as 500 famílias chegassem, simultaneamente, com suas mudanças ao residencial.
Problemas de percurso
Mesmo com as longas filas em meio ao tempo quente e o grande tempo de espera – algumas tiveram que aguardar por até três horas -, o clima entre as famílias era de bastante ansiedade e alegria, por enfim assumirem seus imóveis.
Algo bem diferente do dia anterior, quando a situação foi mais tensa e houve até ameaças de invasão ao local, por conta do adiamento das entregas sem aviso prévio, que gerou diversos transtornos.
Isso porque, segundo divulgado inicialmente, os contemplados poderiam mudar para o residencial no dia 31 de julho. Com essa promessa, diversas famílias rescindiram contratos de aluguel, com a certeza de que ao ocuparem a casa própria, poderiam poupar o dinheiro que, até então, era destinado ao locador.
Na ocasião, a Prefeitura de Caraguatatuba informou ter sido pega de surpresa e que a ordem da suspensão de entrega das chaves foi feita pela Caixa Econômica Federal, que estaria finalizando alguns trâmites burocráticos.
Depois dos protestos e a divulgação na imprensa, porém, a assessoria de imprensa do banco emitiu nota remarcando a data definitiva das entregas.
Residencial Getuba
O Residencial Getuba é formado por casas geminadas. Cada terreno tem 123 m², com uma área construída de 47,93 m², que incluem dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviços. A casa já possui acabamento de forro, piso, azulejos e pinturas. Todos os imóveis também são providos com sistema de energia solar.
Equipes da Bandeirante Energia e Sabesp estiveram no local para finalizar os trabalhos de ligação de água e energia. O condomínio já é dividido por ruas que estão asfaltadas e tem uma sede administrativa, para recebimento de correspondências, por exemplo. Para a construção das casas foram investidos R$ 45 milhões, dos quais R$ 35 milhões foram provenientes do Governo Federal e o restante, do Estado.
Sonho da casa própria
Ao serem questionados sobre o que representou o recebimento das chaves dos imóveis, uma frase foi respondida quase que de forma unânime pelos novos proprietários: “a realização de um sonho”.
Grande parte das pessoas contempladas esperou por muitos anos para ter essas chaves em mãos, desde o momento que se inscreveu para participar de um programa habitacional, até o momento em que foi contemplado e conseguiu finalizar todo o processo para ter a aprovação da Caixa e adquirir oficialmente o imóvel.
Esse é o caso da aposentada Carolina da Silva Vieira, que somente agora, aos 71 anos, conquistou um espaço para morar e chamar de seu. Até então, morava no bairro Pegorelli, região Sul da cidade, na casa de filhos. Ela afirma que nunca desistiu do ideal de ter seu próprio imóvel
A emoção de Carolina foi grande, mas não o suficiente para atrapalhar que ela encontrasse rapidamente a chave para abrir a porta de sua nova casa neste sábado. “Consegui abrir na primeira tentativa e vou entrar com o pé direito, porque essa é minha casa e agora, minha vida”, brincou a idosa, fazendo alusão ao programa que lhe garantiu o imóvel e para o qual estava inscrita desde 2009. “Agora tenho minha casa. Preciso pagar ainda até ser minha de verdade, mas chego lá. Tenho certeza que serei muito feliz aqui, pois é a gente que faz o lugar”, completou.
Quem também não escondia a felicidade de ter as chaves da casa própria foi o casal Edson Marcos de Souza e Kátia Ferreira de Souza. Eles têm três filhos com idades entre 9 e 14 anos. A família morava no Morro do Algodão, na região Sul, e pagava R$ 800 de aluguel. Esse custo agora foi reduzido à R$ 76 reais, que é o valor das parcelas que o casal pagará por dez anos, até quitar o imóvel.
“Agora vou poder oferecer uma vida digna aos meus filhos”, falou emocionado Souza, que é aposentado há nove anos, depois que sofreu um acidente e perdeu o movimento das pernas. Desde então Kátia ajuda a complementar a renda familiar trabalhando como diarista.
“Atrasou um pouco, tivemos alguns problemas, mas no fim deu tudo certo e isso que importa. Não posso deixar de agradecer o empenho do prefeito Antonio Carlos e todos os outros que colaboraram para que tivéssemos essas casas aqui, nosso teto pra morar”, disse Kátia.
Área de risco
Além das pessoas que moravam de aluguel e que conquistaram seu primeiro imóvel, o Residencial Getuba também recebeu pessoas que já tinham realizado o sonho da casa própria, mas num local inadequado e que trazia riscos para os moradores.
O pedreiro José André Silvestre, 44 anos, morava no bairro Casa Branca com a esposa Djanira Aparecida Dias Fernandes e dois filhos.
Ele diz com orgulho que construiu sua casa, que era um sobrado maior, com cômodos mais amplos do que a casa que a família vai ocupar agora. O problema, porém, é que ela estava localizada no morro e, após uma avaliação, foi condenada por se tratar de uma área de risco. Djanira ainda ficou doente e o acesso ao imóvel se tornou muito difícil.
“Meus pais compararam um terreno há mais de 20 anos e construímos lá. Fizemos três casas no mesmo terreno, todos com pessoas da família, mas agora tivemos que vir para cá porque as casas foram condenadas e serão demolidas. Por um lado será bom porque aqui vai facilitar para o tratamento da minha esposa”, explicou. Os familiares de Silvestre também foram contemplados com imóveis no Residencial Getuba.
Escola
A pequena Mikaella, de 6 anos e filha de Djanira e José Silvestre, entrou na nova casa muito animada para conhecer cada cômodo e escolher o quarto que vai dividir com o irmão mais velho.
O que nem ela e nem os pais sabem ainda, é onde estudará depois que mudar para o novo condomínio. Essa incerteza não é um problema exclusivo do casal, mas da maioria das famílias que tem filhos em idade escolar.
“A prefeitura disse que terá um ônibus para levar as crianças dos outros bairros, para que terminem a escola lá esse ano, mas que ano que vem poderão estudar aqui mesmo no bairro”, disse.
Kátia Ferreira de Souza também tem essa preocupação: “Meus três filhos estudam no Morro do Algodão. Daqui para lá gastaríamos duas passagens para cada um, por trecho. Não daria para pagar para levá-los todos os dias à escola, então, por enquanto, eles terão que ficar na casa dos avós para não perderem o ano. Esperamos que algo seja feito para que estudem para cá no futuro”, concluiu.