
A idosa trabalha catando latinhas em Maresias, para complementar a renda
Por Rafael César, de São Sebastião
A vida de Teresa Ordaia Pereira, 78, e Zumira Rosa da Silva, 76, não é das mais fáceis. Assim como outros idosos brasileiros, elas enfrentam as dificuldades de quem depende de um salário mínimo para sobreviver e, apesar de já terem passado dos 70 anos, ainda precisam trabalhar para conseguirem sobreviver. Apesar disso, as duas idosas que são parentes – Zumira é tia de Teresa – não reclamam e se dizem felizes.
Pagar R$ 800 de aluguel não é fácil, principalmente quando também surgem problemas de saúde, mais comuns nessa fase da vida. Para muitas pessoas, uma latinha de alumínio é algo descartável, sem valor. Porém, para Teresa representa um trabalho, uma oportunidade de conseguir fechar as contas no final do mês e também um meio de ajudar a sociedade.
Moradora do bairro de Maresias há quase trinta anos, dona Teresa tem alguns problemas psicológicos, assim como o único filho dela, que vive na Bahia. A idosa tem uma noção muito grande de cidadania e do que é ser feliz.
Nascida na cidade baiana de Barra da Estiva (Centro-Sul Baiano, há 556 km da Capital), ela cresceu realizando trabalhos rurais como plantação de café, cana, criação de bovinos e aves.
Cansada dessas atividades pesadas e da seca que afetava a cidade aonde vivia, decidiu encontrar uma nova vida junto com a sua tia, Zumira, que era diarista. Foi então que migrou para o litoral de São Paulo.
Ambas analfabetas, as duas mulheres não encontraram uma vida fácil em Maresias. “No começo não foi fácil, tivemos muitas dificuldades. Viemos morar aqui em Maresias, pois alguns dos meus oito filhos já tinham vindo para cá. Gostamos muito do lugar, pois lá o sofrimento era muito grande, às vezes tínhamos que entrar em cada matagal que dava até medo. Sinto falta das prosas e amigos que deixei lá, mas sei que aqui sou mais feliz minha vida de certa forma melhorou”, comentou dona Zumira.
O dinheiro das latinhas que a Teresa consegue é utilizado para comprar alguns itens além do básico, como uma roupa, algo diferente do trivial para comer. “Meus filhos têm as vidas e famílias deles para cuidarem, só consegue nos ajudar com transporte e alguma mão de obra em casa. Com o dinheiro da pensão tenho que comprar remédios, pagar aluguel, fazer compras e pagar algumas consultas (pois nem todas saem pelo SUS)”, explicou Zumira.
A idosa também comenta sobre alguns transtornos que passa por não saber ler e escrever. Para as duas senhoras, antigamente as pessoas eram mais sensatas e educadas. “Hoje, quando eu vou para o banco as pessoas são mal educadas, eu não consigo ajuda e sempre tenho que explicar que sou analfabeta. Às vezes a Teresa vai comprar uma coisa no mercado e não dão o troco certo para ela, eu não vou lá cobrar porque tenho um problema no meu calcanhar e sinto dores, quando ando muito.”, afirmou.
Dona Teresa sai todos os dias para fazer o recolhimento das latas pelas praias e ruas do bairro. Segundo Zumira, no dia em que Teresa não vai fazer seu trabalho o dia dela já não é bom. “A vida dela é esse trabalho. O dia que ela não vai parece que ela tem formiga na roupa e não sossega”, disse Dona Zumira sorrindo.
O trabalho feito por Dona Teresa é extremamente pesado para uma senhora de idade, mas ela diz aguentar a forte jornada. “Na semana costumo pegar uns 50 quilos de lata. Já na temporada de verão é o dobro. Minha tia faz umas comidinhas boas para controlar a minha pressão, desta forma consigo aguentar o tranco”, complementou Dona Teresa.
Semelhante a tantos migrantes em todo o Brasil, Tereza e Zumira enxergam esperança onde muitos já perderam. Para elas, o fato de levar uma vida melhor e mais feliz do que em suas cidades natais já é motivo de alegria.