3 mulheres em estágios diferentes da doença relatam a dor da descoberta, a busca por informações, a dificuldade do tratamento e a esperança de cura e de uma vida saudável
Por Nívia Alencar
A aposentada Silvia Galhardo nasceu em São Paulo e reside há 17 anos em São Sebastião. “Faço minhas mamografias todos os anos, há mais de 15 anos. Em 2015, o exame resultou em BI-RADS 4 (classificação que demanda biopsia). Tenho uma calcificação, não percebida ao toque na mama. Corri por ajuda no Ambulatório Médico de Especialidades (AME), do Governo do Estado, e fui encaminhada ao Pérola Byington, hospital público, referência em saúde da mulher”.
A biópsia foi feita e Silvia foi informada sobre a provável necessidade de mastectomia (retirada total ou parcial da mama) e que seu caso seria estudado por equipe cirúrgica. “Fui dispensada para retornar em 15 dias, com exames complementares. Voltei dentro do prazo, os médicos entraram no consultório onde eu estava e me informaram ser preciso tirar toda minha mama. Saber que seria submetida à mutilação é muito doloroso, você fica sem chão. É como fases de luto vivenciadas para poder renascer. A luta é diária, minha emoção tem altos e baixos, a aceitação não é fácil, mas depende de cada paciente”.
A cirurgia está marcada para 16 de novembro. Ela conta que depois deste procedimento, irá saber se precisará de quimioterapia ou radioterapia. “Tenho certeza que estarei bem, mas o processo é doloroso, a família também sofre. O Pérola Byington é ótimo, também tem psicólogo para mim e meu marido. Os médicos são ótimos, muito acolhedores. Se eu não tivesse feito a mamografia no início deste ano, poderia morrer no segundo semestre porque o câncer que me acomete é muito rápido. Na família de minha mãe, houve um caso de câncer de mama e tive uma irmã que morreu com a mesma doença”.
Silvia afirma ser grande a demanda de mulheres atendidas na mastologia do AME. “É preciso bater à porta das residências, buscando mulheres para a mamografia”, ela frisa. “Tenho 90% de chance de cura, é muita coisa, sinto que sou abençoada, é fundamental aquela frase da amiga, mesmo por telefone: ‘força, querida, colocamos você no nosso grupo de oração’, isto é maravilhoso. Minha vida mudou, no hospital vejo mulheres muito fortes que vão sozinhas para o hospital, sem companheiro ao lado, voltam de ônibus para casa para cuidar do lar e dos filhos, aprendo muito com essas Marias”, Silvia conclui.
Luciana Giuliani
A empresária Luciana Giuliani, residente em São Sebastião, conta que notou problema na mama esquerda, em janeiro de 2015. “Voltei da praia e percebi o bico do peito esquerdo invertido”. Foi o início de uma grande luta para salvar sua vida. Em fevereiro, ela percebeu ainda um pequeno nódulo na mesma mama. Submeteu-se a mamografias, mas o diagnóstico de câncer só começou a surgir após o resultado de duas ultrassonografias: BI-RADS 4 e BI-RADS 5 (ambas classificações demandam biopsia por suspeita de câncer).
A empresária buscou socorro no Posto de Atendimento à Saúde da Mulher na Topolândia, no AME, em Caraguatatuba, e também a consultório particular de mastologista na mesma cidade. Pagou por vários exames, inclusive alguns complexos. Em Caraguatatuba, um especialista confirmou a Luciana o alto risco de câncer e a alertou sobre necessidade de biopsia urgente. A empresária pagou por este exame em São José dos Campos, que indicou câncer acelerado. O médico, então, indicou mastectomia total da mama para evitar risco. Luciana, por meio de outro médico do AME, foi encaminhada para cirurgia urgente no Pérola Byington.
No Pérola Byington, em 28 de julho, após longo período de espera, a pressão arterial de Luciana subiu muito, o que levou o médico cirurgião a suspender a cirurgia, marcada para 10 de agosto (2015). Ele a encaminhou ao clínico geral. “Quando o SUS toma conhecimento de portador de câncer de mama, em caso de cirurgia, o prazo é de 60 dias. Fiquei muito nervosa porque no meu caso o prazo poderia vencer”, afirma Luciana, que tentou explicar em vão não ser hipertensa. “A pressão subiu por conta da longa espera”, diz ela.
Luciana conta que entrou em contato com o Instituto Oncoguia para saber como proceder porque a consulta médica no dia 24 de agosto no Pérola Byington faria com que o prazo de 60 dias para a cirurgia vencesse. “Além disso, o clínico geral me pediria todos os tipos de exames para controle de hipertensão”.
No dia 29 de julho, em São Sebastião, pela manhã, Luciana se antecipou, buscando fazer todos os exames que seriam pedidos na consulta com o clínico geral. Também conseguiu liberação de cardiologista para a cirurgia. Ela se submeteu a mastectomia total da mama, no Pérola Byington, em 23 de setembro. “Tive câncer 90% hormonal sem proteína que alimenta célula cancerígena. Por ser hormonal, pode atingir a outra mama. Gastei em média com viagens, exames e consultas, cerca de R$ 30 mil”. Após 29 de outubro, ela saberá se precisará de químio ou radioterapia.
A quem também está enfrentando esta doença, Luciana repete a pergunta que ouviu da psicóloga que a dispensou da terapia: “Você tem interesse em cura? Existe cura para câncer de mama, mas vai depender de você”. Luciana acentua que é preciso ter fé, perseverança e não desistir do tratamento. “Realmente estou melhor como pessoa, mais serena, às vezes fico triste, mas estou bem, estou viva”.
Elizabeth Maia
Elizabeth Maia Cruvinel, formada em turismo, está aposentada. Nasceu na capital e passou a frequentar São Sebastião em 1956. Em 2012, passou a residir na cidade. “Amo São Sebastião”, ela diz. Elizabeth afirma que sempre fez exames preventivos porque sua avó materna teve câncer de mama e sua mãe nódulos não cancerígenos. “Em março de 2008, meu médico me disse que meu exame apontou BI-RADS 2 (não indicaria câncer), mas considerou que haveria necessidade de retirada da mama”. Ela conta que, no Hospital do Câncer, foi informada que poderia ser feito apenas tratamento, sem cirurgia. “Mas optei pela recomendação do meu médico, fiz todos os exames, sozinha, tranquila”, lembra.
“Quinze dias antes de fazer a cirurgia, falei ao meu marido e a uma amiga que morava conosco, que eu precisava de acompanhante para fazer um exame no hospital. Eles perguntaram o que eu tinha e respondi: câncer de mama. Os dois quase desmaiaram, e pedi para que levantassem porque não era este o comportamento que eu precisava e que o problema era comigo”.
Elizabeth foi submetida à cirurgia em 2008 para remoção de um quadrante de mama e, depois, à radioterapia. “Aproveitei para fazer cirurgia plástica em ambos os seios”, conta. “Estou curada. O essencial para mim, além da assistência média, foi apoio da família, e de uma empregada que trabalhou por 11 anos em minha casa e voltou a trabalhar este ano, era ela quem me dava todo o suporte diariamente. A recuperação da cirurgia foi muito boa, não senti dores”, Elizabeth declara. “Ter a doença e choramingar é pior, causará maior abatimento e risco. No Hospital do Câncer vi casos muito mais graves em pacientes que contavam piadas, faziam tricô, crochê, e chegavam sorridentes todos os dias, com força de vontade de viver e de superar toda e qualquer doença”, ela finaliza.