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“Não iremos desistir”, garante líder da comunidade LGBTI+ de Caraguá

Tamoios News

A comunidade LGBTI+ de Caraguá garante que não irá desistir de incluir no Plano Municipal de Cultura as questões de gênero. Pretendem recorrer à justiça. Alegam que pagam impostos como todos os cidadão e por isso também possuem direitos. E, lamentam, que enquanto no mundo todo a questão LGBTI+ é respeitada e valorizada, em Caraguá, ainda existe prática de homofobia

Por Salim Burihan

Para uma das principais representantes da comunidade LGBTI+ do Litoral Norte, Thifany Félix, não houve motivos para celebrar o Dia Internacional do Orgulho LGBT, comemorado ontem, sexta(28).

Thifany Félix, líder LGBTI+ de Caraguá

“Ficamos profundamente tristes com o que ocorreu em Caraguatatuba. Fomos desrespeitados e humilhados com a decisão da Câmara de Vereadores de retirar do Plano Municipal de Cultura, as questões de gênero. Foi uma atitude homofóbica”, alegou Thifany.

Ela explica que foi realizada uma conferência municipal em abril para definir o plano de cultura. “Mais de 100 pessoas ficaram por mais de dez horas debatendo e priorizando o que deveria constar no plano cultural. Ali, todos aprovaram a inclusão das questões LGBTI+. deveriam respeitar tudo isso”, contou.

Segundo ela, a decisão dos vereadores e do conselho, de retirar esses temas do plano encaminhado à Câmara foi um desrespeito muito grande com todos os segmentos que participaram da conferência de abril e com a democracia.

Na conferência de abril, promovida pela Fundação Cultural de Caraguá, os participantes concordaram com a inclusão no plano de cultura de palestras sobre gênero nas escolas e repartições públicas, da confecção de um selo sobre a diversidade sexual e a realização de uma parada gay na cidade. O projeto aprovado pelos vereadores excluiu essas propostas.

Thifany afirmou que a comunidade LGBTI+ da cidade e região vai tentar judicialmente cancelar a decisão dos vereadores. O grupo pretende ainda iniciar um movimento, com apoio de deputados estaduais e federais, para denunciar a homofobia praticada pelos vereadores.

Artistas e comunidade LGBTI+ lotaram o plenário durante a votação do plano de cultura

Segundo ela, o conselho municipal de cultura não poderia ter aceitado a recomendação dos vereadores para que as propostas LGBTI+ fosse excluídas do projeto. O presidente do conselho, Luiz Fernando do Espirito Santo, alegou que a comissão tem plenos poderes para alterar as decisões aprovadas na conferência municipal.

Thifany explicou que o plano municipal de cultura poderá receber emendas apenas daqui há quatro anos, mas que a comunidade gay pretende reverter a decisão dos vereadores o mais rápido possível. “Ficamos muito tristes, mas não vamos desistir de lutar pelos nossos direitos”, disse.

 

 

LGBTI+

A comunidade LGBTI+ em Caraguá é muito grande, segundo ela. Apenas no grupo de redes sociais, existem mais de 100 cadastradas e assumidas, segundo ela. “O número é bem maior, muitos não querem aparecer”, contou.

Thiafany disse ainda que a comunidade não enfrentava problemas de preconceito com a população da cidade até o quarta(26), quando os vereadores, pressionados pelos homofóbicos e evangélicos. retiraram as questões LGBTI+ do plano de cultura.

A comunidade, segundo ela, não enfrenta problemas de falta de segurança e tem sido atendida na saúde de maneira satisfatória. “A gente cobrou da prefeitura atendimento nas UBSs de médicos capacitados para lidar com LGBTI+, mas não conseguimos. Ainda existe um certo preconceito em unidades como Tinga e Porto Novo, mas aos poucos vamos reduzindo isso”, disse.

Thifany contou que pediu à Prefeitura que criasse um ambulatório para hormonização (liberação e aplicação de hormônios) para que pessoas da comunidade não utilizasses produtos de origem desconhecida, diminuindo os riscos à saúde delas, mas até agora isso não foi possível.

Thifany

Thifany Félix tem 49 anos. Nasceu em Ubatuba, morou muitos anos em São Paulo e vive em Caraguá. É promoter, já foi auxiliar de enfermagem e cabelereira. É transexual desde os 34 anos.

“Sofri muito. Não foi e não nada fácil assumir a sexualidade que se deseja. Cresci sendo chamada de “Bichinha” e “Florzinha”, disse.

Aos 18 anos, em 1999, serviu o Exército, no 6º Batalhão de Infantaria de Caçapava. “Não era assumida na época, mas já sabia o que eu era. Conclui o Exército, com honra ao mérito, pelo meu comportamento”, contou.

Aos 22 anos assumiu sua bissexualidade; aos 24 anos, a homossexualidade; e, aos 34, a transexualidade. Se sente uma pessoa feliz e respeitada onde quer que trabalhe no seu relacionamento com as pessoas no dia a dia.

Tiffany na formatura do 3º colegial. Fotos: Arquivo pessoal

Entrou na vida política em 2014, disputando uma vaga na assembleia legislativa pelo PSB. Em 2016, disputou as eleições para prefeito, em Caraguá, pelo PMB; e, no ano passado foi novamente candidata a deputado estadual pelo PMB. Sempre defendendo as causas LGBTI+.

Thifany se transformou numa das principais líderes do movimento LGBTI+ no Litoral Norte. Participa de encontros em toda a região e na capital. Busca auxiliar à todos da comunidade, nos problemas com a família ou de saúde. Em um debate nas eleições de 2018, ocorrido na Paróquia de Santo Antônio, em Caraguá, aproveitou a oportunidade, para criticar a omissão da igreja nas questões humanitárias envolvendo a comunidade LGBTI+.

“Na comunidade LGBTI+ tem pessoas boas e pessoas ruins, como em todos os segmentos. Temos que ser respeitados e valorizados pela sociedade, para evitar que muitos possam cair na marginalidade. Em todo o mundo a comunidade gay está sendo valorizada, temos que seguir esses exemplos, para que todos possamos conviver em paz e harmonia”, finalizou.