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Nascendo uma cidade Portuária

Tamoios News

A cartografia e o diário de bordo de Américo Vespúcio, já davam conta das condições ideais do Canal da Ilha de São Sebastião como sendo uma área portuária de bom abrigo e calado, não à toa nossos primeiros colonizadores aqui desembarcaram nos idos do ano de 1.608 com intuito de iniciar sua aventura em busca de riqueza.

A Vila de São Sebastião foi erguida entre os córregos do Outeiro e do Ipiranga com poucas ruas e casas construídas de pedra, pau a pique e palhoça para cobertura dos telhados, cercada por uma paliçada para proteção de ataques dos índios e piratas. Do outro lado do adro* encontrava-se a Casa de Câmara e Cadeia. Há uma praça ao lado do rossio* em torno da qual dispunham poucas ruas e algumas casas, compunham o perfil básico das vilas no período colonial. Dispunha de um núcleo urbano emergente em torno de seu porto natural.

Após a emancipação do povoado a categoria de “Villa” em 16 de março de 1636, instaura-se o poder local, sendo ele dividido em Alcaidaria (Justiça e Conselho), hoje Prefeitura e a Câmara Municipal que teve como seus primeiros membros eleitos pelos “homens bons” da terra, os senhores: Francisco Escobar Ortiz, Francisco Pinheiro e Nuno Cavalheiro.

Colonizar uma terra, sempre foi sinônimo de plantar e, portanto, inicia-se os plantios de áreas e com elas as primeiras fazendas que vão crescendo em números no decorrer dos séculos XVII e XVIII, florescendo a atividade portuária em São Sebastião, principal meio de escoamento da produção agrícola da cidade para os grandes centros existentes nesse tempo, em especial atenção às praças de Santos e Rio de Janeiro.

No primeiro meado do século XVIII é quando surgem as fazendas da região entre elas a Fazenda dos Carmelitas localizada na praia do Guaecá,  a Fazenda do Sargento-Mor Manoel Correia de Mesquita, na antiga praia do Barro (hoje Praia das Cigarras), Fazenda de Mathias Ferreira Chaves, situada na Costa Sul, com produção de 500 arrobas de açúcar e senhor de 133 escravos, a Fazenda do Capitão-mor Manoel Lopes da Ressurreição (atual Fazenda Serra Mar), Caraguatatuba fazia parte do território da Vila de São Sebastião até sua emancipação em 1.857, com produção 600 arrobas e destacamos, nesse cenário, a Fazenda Santana construída em 1.743 e administrada por mãos femininas, e grande número de escravos, foram produzidos em 1798 um total de 600 arrobas de açúcar branco, da melhor qualidade. Essa produção açucareira representativa na vila fomentava as atividades portuárias. A produção era direcionada para os portos das vilas de Santos e do Rio de Janeiro.

Nessa primeira metade do século XVIII, era São Sebastião a Vila responsável pela produção de mantimentos para as explorações mineiras de ouro da Região de Minas Gerais, com a queda dessa exploração, surge um período  iluminado para as plantações de Cana de Açúcar impulsionando não só a produção açucareira como a de aguardente o que fomentou ainda mais a atividade portuária local até os idos de 1789, quando por decreto provinciano, o Governador da Província de São Paulo Bernardo José de Lorena proíbe o “comércio direto dos portos da capitania de São Paulo com a praça do Rio de Janeiro”, Ressurreição aponta que:

“Esta vila, geograficamente localizada entre a serra e o mar, tinha no seu porto a chave de bons negócios. Antes do mencionado decreto, os negociantes da vila exportavam para o Rio de Janeiro, onde a procura era grande, e os preços favoráveis. Diante da obrigação legal de que toda venda/compra de produtos se realizasse somente com o porto da praça e Vila de Santos, se viram, de repente, falidos.” (RESSURREIÇÃO,2002, p. 87/89)

Esse período de falência das fazendas açucareiras e da atividade portuária de São Sebastião durou até final de setembro de 1798, quando o novo Governador da Província Melo Castro e Mendonça sensibiliza-se pela “desgraça” Sebastianense e libera a região para o livre comércio com o Rio de Janeiro, voltando a Vila de São Sebastião para a sua produção açucareira e para a grande movimentação de navios em sua área portuária que  nessa época dispunha de duas boas estruturas de píer atracáveis, uma de fronte para a Cidade e outra em terras Franciscanas, próximo ao Convento de Nossa Senhora do Amparo, no bairro de São Francisco.

O progresso da Cidade e a atividade Portuária são íntimos ao longo da história desde que por aqui passaram os primeiros navegadores portugueses.

Justamente nessa época devastadora para o Porto e Cidade de São Sebastião, que ocorre em nossa “Villa” um evento ímpar na história da humanidade e que só aqui poderia ter acontecido tal situação tão inusitada.  Luiz Leite Santana* o “Zangado”, lembra que: “esse foi o período em que de fato enterraram uma caveira de burro em nossa terra”.

Só em São Sebastião, a imagem de um Santo Padroeiro da Cidade poderia se tornar suspeito, ser investigado, julgado e finalmente encarcerado por um crime contra a vida…só aqui, um Santo poderia ser punido pelo 6º pecado, elencado nos Dez Mandamentos!

Mas essa história sobre “O Dia que o Santo Pecou” fica para o próximo artigo, quando alguns entenderão o porquê, que só aqui algumas coisas acontecem ou deixam de acontecer…

* Texto: Luiz Felipe da Costa Santana (Felipe Zangado) e Rosângela Dias Ressurreição (Historiadora Caiçara)

 Fontes de pesquisa:

RESSURREIÇÃO, R. D. São Sebastião- Transformações de um povo caiçara, São Paulo: Humanitas/USP, 2002São Sebastião História e Geografia, Prefeitura Municipal de São Sebastião, Secretaria da Educação Departamento Pedagógico, Edição 2008.

* ADRO: terreno em frente ou em volta de uma igreja, podendo ser aberto ou murado. ROSSIO: terreno grande.

* Luíz Leite Santana, conhecido como “Zangado”, pai de Felipe Zangado.