Quem passa pelos arredores do aeroporto de Ubatuba, localizado na região central da cidade, já pode ter visto alguma vez um bando de tapicurus no gramado que cobre as margens da pista de decolagem e pouso.
Segundo o morador de Ubatuba e biólogo que trabalha no Projeto Dacnis, Rafael Mitsuo, o tapicuru ou maçarico-de-cara-pelada é uma espécie de médio porte, com uma plumagem negra de brilho esverdeado e sem penas na parte de trás da cabeça. Ela possui um bico longo e curvado para baixo, que é uma adaptação para capturar seus principais itens alimentares. Elas vasculham o solo e águas rasas com seus longos bicos em movimentos laterais em busca de insetos, pequenos moluscos e crustáceos.
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Mitsuo explica o comportamento das aves registrado no vídeo acima, gravado no aeroporto de Ubatuba no domingo, dia 20 de setembro. De acordo com o biólogo, a procura por comida é chamada de “forrageamento” ou “forrageio”, e cada espécie tem uma estratégia para capturar suas presas. Os tapicurus usam uma em que vasculham o ambiente sempre em grupos de vários indivíduos. Essa estratégia tem algumas vantagens: acredita-se que quanto mais indivíduos em um grupo, maiores são as chances de alguém detectar e alertar sobre a presença de um predador nas redondezas. Isso é chamado de “teoria dos vários olhos”. A outra vantagem é que, com mais indivíduos andando e vasculhando, mais insetos vão se “assustar” e tentar fugir, se tornando mais fáceis de serem vistos.
Distribuição da espécie
Sobre as áreas de ocorrência do tapicuru, Mitsuo explica que a espécie é amplamente distribuída pela América do Sul. Ela ocorre na Guiana, Venezuela à Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai e em praticamente todo o Brasil e habita principalmente áreas abertas de banhado, campos e pastos. Sua abundância varia nas diferentes regiões. Enquanto são muito comuns em alguns lugares, podem ser raras em outros, devido ao seu hábito migratório.
De acordo com o biólogo, o tapicuru está fortemente relacionado a áreas abertas de gramado. Em alguns lugares, ela é encontrada exclusivamente em áreas onde a vegetação natural foi substituída por campos de pastagens e arrozais, por exemplo. Podem ser encontradas até nas margens de rodovias.
Alerta
“Isso quer dizer que a aparição dessa espécie em Ubatuba pode não ser um bom sinal”, analisa o biólogo. Ele explica que o desmatamento transforma áreas de floresta densa em grandes campos de gramado, o que aumenta a oferta de comida para essa espécie. Então elas procuram essas áreas desmatadas para estabelecer suas populações. Isso se aplica às outras espécies que frequentam o aeroporto de Ubatuba. Quando modificamos o ambiente para atender às nossas demandas, expandindo a área urbana e transformando áreas de floresta em grandes tapetes verdes, favorecemos algumas espécies enquanto prejudicamos outras. O pombo-doméstico, por exemplo, se adaptou perfeitamente ao ambiente urbano, e agora é considerado uma praga e vetor de diversas doenças que nos afetam.
“A cidade de Ubatuba é uma das últimas onde existe remanescentes relativamente preservados de mata atlântica. Entretanto, a especulação imobiliária está engolindo tudo o que resta de vegetação nativa. A natureza está dando todos os sinais de que algo está errado. Cabe a nós interpretarmos esses sinais e tomarmos as devidas atitudes”, conclui Mitsuo.
*Texto: Renata Takahashi / Tamoios News
