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Michel Temer: “O poder legislativo é o retrato do Brasil e tem que ter representação das várias áreas da sociedade brasileira”

Tamoios News
Michel Temer - 37º presidente do Brasil

Michel Temer, o 37º presidente do Brasil, participou da 7ª Edição do Conexidades realizada em São Sebastião e relembrou sua trajetória de vida, a infância em Tietê, tendo nascido numa chácara no interior de São Paulo, sendo que caminhava quatro quilômetros para ir à escola. Quis aprender a tocar piano após assistir um filme sobre Chopin, mas ao invés disso foi inscrito numa escola de datilografia, pois não havia escola de piano na cidade.

Ele comentou a frase “No Brasil é que se faz a América”, dizendo que fazer a América é progredir, e relembrou como seus pais casaram-se e começaram a ter filhos no Líbano, sendo que Temer, o filho temporão, nasceu no Brasil. “Aqui o estrangeiro chega e sente que é sua pátria”, afirmou.

Questionado sobre qual foi a lição da infância que serviu para a vida, e qual momento da infância separou o menino do homem, Temer respondeu: “Éramos muito unidos, mas houve um momento de separação aos 16 anos”, contou Temer, dizendo que foi enviado pelo pai para São Paulo para fazer o curso clássico, voltado a humanas, que não existia na sua cidade. Temer afirmou que sua vida foi pautada pela virtude da temperança.

A seguir ele contou como a faculdade de Direito o forjou. Logo no primeiro ano foi candidato a segundo tesoureiro, e foi o mais votado, tendo conseguido mais votos por ter dois irmãos em anos mais avançados. Seguiu fazendo campanha para outros cargos, não ganhou, mas seguiu em frente.

Na adolescência pensava em ser escritor. “Eu imaginava que poderia ser escritor quando estava no curso ginasial”, disse. Uma professora o incentivava e achava que ele tinha jeito. Aos 13, 14 anos já tinha lido vários clássicos da literatura que o encantaram. Depois o mundo o levou a escrever livros técnicos. Ao final se realizou ao escrever poemas, já na vice-presidência, assim acabou publicando um livro e realizou o sonho de ser escritor.

Ele seguiu falando sobre seu breve encontro com Juscelino Kubitscheck, homem que dizia que o Brasil precisava de pacificação, e não de radicalização. “O que não significa que não possa ter divergências temáticas, divergência de ideias, mas tem que fazer isso nos termos da Constituição Federal, que determina a paz”, afirmou. “A democracia envolve exatamente a contrariedade, a contradição, a divergência. Por isso que a oposição é importante na democracia, porque a oposição ajuda a governar”, completou, dando como exemplo o gabinete das sombras no Reino Unido.

O tema abordado a seguir foi sua vida acadêmica: montou escritório de Direito em 1967, mas foi roubado pela academia, quando foi convidado para dar aulas por um mês na universidade. Ele lembrou como estava nervoso e como era mais novo que os estudantes, porém, ao final, foi aplaudido pelos alunos, o que o motivou na carreira universitária.

Foram mencionados momentos de sua carreira com realizações que aconteceram nos anos 80, durante o governo de Franco Montoro: Delegacia de Defesa da Mulher, apuração de crimes raciais, defesa de Direitos Autorais e Conselhos Comunitários de Segurança. Temer contou como foi a primeira Delegacia de Defesa da Mulher do mundo, pois mulheres reclamavam do atendimento disponibilizado até então. Falou que algumas ideias, como a criação dos CONSEGs, são modestas, porém tem grande repercussão.

A seguir, ele relembrou o período que passou na Câmara, dizendo que na época tinha uma visão elitista da representação popular, e que não achava todos os representantes ali preparados para reconstituir o estado brasileiro. Porém, após ser convidado para um evento realizado por um deputado de uma cidade pequena do interior paulista, se deparou com milhares de pessoas e aprendeu na prática o que é o fenômeno da representação popular, dizendo que o povo tem que estar representado no Congresso. “O poder legislativo é o retrato do Brasil, e para ser o retrato do Brasil tem que ter representação das várias áreas da sociedade brasileira”, afirmou. “Eu só consegui fazer as grandes reformas que eu fiz porque eu tinha o apoio do Congresso Nacional. Quem governa o país não é o presidente sozinho”, falou.

Seguindo sua trajetória política, ele relembra como se tornou Vice-Presidente da República, já pensando em encerrar sua vida pública, porém os fatos foram se encaminhando para que sua trajetória se prolongasse, sendo que se tornou Presidente em 2016.

Ele foi instigado a completar a frase “Ser presidente do Brasil é…”. “Não é fácil, mas é preciso ter formação. E a primeira formação é a formação democrática. A segunda formação é o cumprimento rigoroso do texto constitucional”, disse, afirmando que a vontade do povo está expressa no texto constitucional.

Temer contou que recebeu um conselho na época: aproveitar sua impopularidade para fazer o que era preciso, o que envolvia direito do trabalhador, previdência social, teto para gastos públicos, a fim de diminuir a dívida pública. Falou que fez a reformulação do sistema trabalhista com diálogo, tendo a equipe visitado centrais sindicais e demorado seis meses para formatar um projeto para mandar ao Congresso. Ele disse que uma notícia atribuiu a queda do desemprego à Reforma Trabalhista, alegando que quando se produz uma lei ela leva tempo para fazer efeito.

Questionado sobre a contradição das campanhas “Fora Temer”, “Fica Temer” e “Volta Temer”,  o ex-presidente contou que não se abalou com a campanha “Fora Temer”, que ocorreu durante seu mandato. O “Fica Temer” surgiu porque as pessoas achavam que os candidatos não valiam a pena durante as eleições de 2018. O “Volta Temer” seria a recordação e reconhecimento de seu governo.

A seguir, Temer comparou o número populacional entre diferentes países e lembrou que o Brasil tem grande quantidade de recursos, destacando a água e a agricultura, o que pode aumentar a posição relevante do país no mundo.

Temer falou ainda do lema da bandeira “Ordem e Progresso”, dizendo que os dois caminham juntos. “Para você ter progresso, você tem que ter ordem. Ordem significa cumprir o sistema normativo, para você ter segurança jurídica”, afirmou.

Questionado sobre algum erro que cometeu na carreira e o que aprendeu com ele, Temer disse que não se arrepende das escolhas que fez. “Acredito que quanto mais você cresce na vida, quanto mais você ocupa cargos relevantes, mais modesto você deve ser. A modéstia e a discrição são fundamentais”, opinou.

Fonte: Conexidades