Quatro escolas sebastianenses recebem ao longo da semana exibições do webdocumentário infantojuvenil “Griô, a chave para o futuro”. Com cinco episódios, os curta-metragens acompanham Mayara, uma jovem que vive em 2222 e que viaja no tempo atrás de suas origens, encontrando histórias de fazeres e saberes de três anciãs moradoras de São Sebastião.
O documentário que resgata tradições e ancestralidade locais será exibido no Instituto de Educação e Cultura Raízes (Boiçucanga), Instituto Verdescola (Barra do Sahy), E.E. Prof. Sebastiana Costa Bittencourt (Barra do Una) e E.M. Prof. Antonio Luiz Monteiro (Boiçucanga). O projeto independente idealizado por Letícia Andra foi aprovado no ProAc (Programa de Ação Cultural), edital de incentivo à cultura do Estado de São Paulo. Assista aqui o teaser.
A ideia surgiu para suprir uma ausência de conteúdos qualificados, exigidos pela lei 11645/2008, que torna obrigatório o ensino da história indígena e afro-brasileira nas escolas. “Vemos ainda hoje a não implementação de forma significativa da lei, muitas vezes por falta de material, já que essas duas culturas tem sua tradição na oralidade. Para seu registro são necessários investimento e interesse em buscar in-loco. Isto justifica a ausência ou referência ao assunto que muitas vezes acabam sendo apresentados de forma genérica para os jovens”, explica a diretora.
Foto: Griô Divulgação / Crédito: Bruna Piazzi
“A ideia é transformar esse trabalho audiovisual em um produto educacional que apoie escolas e educadores no desenvolvimentos desses temas. Em um próximo momento faremos um site para, além de disponibilizar gratuitamente os episódios, também oferecer sugestões de abordagens, oferecer oficinas, workshops, palestras e planos de aula”, revela.
Afrofuturismo ancestral
Com estética afrofuturista, mescla história, ficção científica, animação e fantasia, com cosmovisões que fogem do eurocentrismo. “A proposta é ressignificar a narrativa pelo viés dessas mulheres, que somente podem ser transmitidas por meio da oralidade, e por isso a importância de registrar. Retratamos um futuro cocriado com a premissa de que existiram pessoas negras e indígenas que resistiram com leveza”, conta Letícia.
Temas como alimentação, brincadeiras infantis e espiritualidade são contadas por Dona Rosa, indígena Tupi-Guarani, Dona Rita, caiçara afro-descendente, e Dona Valquíria, que reconhece sua miscigenação indígena, africana e europeia, tão característica do nosso País. A obra traz ainda três crianças representando o presente, fazendo a ponte entre passado e futuro.
Foto: Griô Divulgação / Crédito: Bruna Piazzi
Mayara – nome de origem indígena que pode significar “bisavó”, “senhora” ou “bicho” – é uma menina afrodescendente, portadora de uma tecnologia sútil, que viaja no tempo atrás de suas origens. Griô, que dá nome a obra, é um termo do oeste do continente africano que designa mestres e mestras da tradição oral, portadores de saberes e fazeres da cultura. “Os Griôs têm a missão de manter viva histórias e difundi-las durante sua vida ao futuro, por se tratar de culturas orais”, revela.
Essa é a primeira vez que um webdocumentário nesta configuração é realizado por uma diretora negra. Letícia é psicóloga, bailarina e estudiosa da dança, arte e história das culturas tradicionais brasileiras. Desde 2019 produz vídeos performances com animações em 3D para trabalhos pessoais e comerciais. Tem outro webdocumentário em produção chamado “Luz e flores – Origem caiçara”, contemplado por edital de fomento municipal, seguindo o seu tema de pesquisa sobre ancestralidade, oralidade e, neste caso, apagamento.
Na Foto: Leticia Andra / Crédito: Bruna Piazzi
Ficha técnica
Roteiro e direção: Leticia Andra
Direção de fotografia e produção audiovisual: Diana Freixo
Assistente de direção e montagem: Juju Maschietto
Trilha Sonora: Ronnie Funilaria Espacial
Making Off: Bruna Piazzi
Animação: Letícia Andra
Narração e dublagem: Tereza Sací
Imagens aéreas-Drone: Luciano Siqueira Costa
Mentoria: Paulo Alberton
Por Liora Mindrisz – Assessoria de Imprensa
