Quem vai à praia da Santa Rita pela trilha que sai da praia do Perequê-Mirim, na região sul de Ubatuba (SP), encontra alguns obstáculos pelo caminho. Troncos de árvores caídos, com marcas de cortes feitos com motosserra, bloqueiam parte da passagem em alguns pontos da trilha. A poucos passos da chegada na Santa Rita, por exemplo, uma grande árvore está caída sobre a trilha e sobre a costeira da praia. Essa, assim como outras que foram derrubadas, ainda tem folhas verdes, o que indica que o corte foi recente.
Foi em frente a essa grande árvore caída que, na última terça-feira (02), moradores do bairro Perequê-Mirim exibiram cartazes mostrando indignação com a supressão de árvores da Mata Atlântica na costeira da praia da Santa Rita.
Os cartazes exibiam as frases: “Respeite a natureza, esse corte é crime!”, “Vocês já destruíram um morro e agora querem destruir o pouco que restou?”, “Chega dos abusos dos destruidores da natureza”, “A natureza não pode ficar à mercê do luxo de poucos” e “Temos direito a uma natureza preservada”.
Morador do Perequê-Mirim e guia de turismo, Paulo César Barreto considera a situação péssima para o local e para o turismo. Ele conta que notou o início do desmatamento há cerca de dez dias.
“Eu sou marinheiro também, passando pelo mar eu vi que algumas árvores estavam morrendo e fui fazer a trilha pra ver o que estava acontecendo. E aí encontrei um estado de calamidade. O pessoal cortando todas as árvores, inclusive árvores de lei, eles cortam 70 ou 80% na serra, dá muito bem pra perceber, temos fotos disso, e o restante eles esperam uma trovoada, uma chuva, um vento pra derrubar, agravando, porque pode cair na cabeça de alguém, não sabemos a hora que vai cair. Isso deixou a gente indignado, resolvemos juntar a população, unir as forças, fizemos um abaixo-assinado e o Instituto Bandeira Verde nos apoiou dando entrada com a denúncia nos órgãos competentes”, afirma Barreto.
Segundo o morador, as árvores são cortadas à noite, e uma das suspeitas é que a intenção seja tirá-las da frente de uma casa que fica de frente para o mar, além de dificultar a passagem pela trilha. “Inclusive já conseguiram isso, porque está muito difícil fazer essa trilha do jeito que está, com as árvores todas espalhadas pelo chão”, aponta o guia.
A presidente do Instituto Bandeira Verde, Vânia Carrozzo, foi quem fez a denúncia formal. “Nós de imediato preparamos uma denúncia, que foi feita para a Polícia Ambiental, para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e para o Ministério Público. Nós recebemos o retorno apenas do Ministério Público, confirmando o recebimento da nossa denúncia e dando um encaminhamento oficial a ela, e estamos aguardando os demais órgãos. Mas independente desse corte de vegetação ter sido autorizado ou não, é importante nós manifestarmos a nossa insatisfação com isso, porque a sociedade tem direito ao meio ambiente equilibrado. A vegetação tem que permanecer viva, é o pouco de Mata Atlântica que restou ali na praia da Santa Rita. Então estamos reivindicando esse direito”, explica Carrozzo.
Professor da área ambiental, guia de turismo e caiçara do Perequê-Mirim, Marcos Roberto dos Santos também está indignado com a situação. “Chega. Pára. Nós estamos vendo isso que está acontecendo e não vamos mais ficar quietos. Nós vamos gritar aos quatro cantos pra ver quem pode nos ajudar”, avisa.
Ele identificou espécies como canela e jaracatião entre as árvores derrubadas. E assim como Barreto, também mencionou o direito de ir e vir. “Há tempo isso tem acontecido no condomínio da Santa Rita. Até o final dos anos 80, o nosso caminho era em cima desse morro onde hoje tem um condomínio. E no final dos anos 80 nos jogaram a costeira por esse caminho que você passou agora, nós estamos literalmente em cima do costão rochoso para caminhar para a praia. E você pode observar como está deteriorado. Como se não bastasse, agora nessa última semana essa supressão de árvores, jogadas pelo meio do caminho, dificultando o acesso à praia, isso quanto ao nosso direito de ir e vir. Mas o que nos chama a atenção é justamente a degradação ambiental que está sendo feita”, afirma o professor.
“Isso deixa a gente muito indignado frente a esse poder econômico que impera na nossa região e principalmente no condomínio da Santa Rita, eles deveriam ter o cuidado de manter uma trilha adequada aos transeuntes, aos caiçaras, porque não é só turista que utiliza aqui”, opina Santos.
O morador do Perequê-Mirim, Rodrigo Szalai de Souza também se manifestou contra o corte de árvores e a degradação da trilha. “A gente sabe que resta pouco da nossa Mata Atlântica, então cada árvore conta. E uma coisa que a gente tem reparado é que, ao mesmo tempo em que esse desmatamento está liberando um visual mais aberto para as casas de quem está no condomínio, também está dificultando o nosso acesso até a praia da Santa Rita, que hoje é feito por duas maneiras: ou pelo condomínio ou pela trilha”, conta Souza. Para ele, as autoridades precisam identificar quem causou esses danos ambientais. Além disso, o morador também defende que a passagem seja restabelecida.
A reportagem foi até a portaria do condomínio, mas não conseguiu contato com a administração.
*Texto: Renata Takahashi / Tamoios News