É bom ficar atento em 2022: um estudo publicado por pesquisadores da USP e da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, mostra que o desmatamento na Mata Atlântica tende a aumentar em anos eleitorais. Os cientistas analisaram os dados de supressão do bioma entre 1991 e 2014 e, após excluir a influência de outros fatores, concluíram que cerca de 4 mil hectares foram desmatados a mais, em média, nos anos em que foram realizadas eleições, em comparação com anos não eleitorais.
O tamanho do efeito varia de acordo com o tipo de eleição. Em anos de pleitos federais e estaduais, houve um acréscimo de 3.652 hectares na área desmatada do bioma, em média, e de 4.409 hectares, em anos de eleições municipais. O impacto se agrava nos anos em que o partido governante é candidato a reeleição ou quando há uma coligação dos partidos governantes nas diferentes esferas de governo — municipal, estadual ou federal.
“As eleições criam condições que levam a um comportamento oportunista dos políticos, que acaba promovendo um aumento da perda de florestas”, diz a ecóloga Patricia Ruggiero, primeira autora do trabalho, publicado na revista Conservation Letters. O estudo levou em conta os dados de 2.253 municípios do Sul e Sudeste do País (sem incluir a porção Nordeste do bioma), combinando informações do Tribunal Superior Eleitoral com mapas de cobertura florestal e uso da terra produzidos pelo projeto MapBiomas.
Esse fenômeno já era conhecido na Amazônia e havia uma percepção empírica de que poderia ser o caso também na Mata Atlântica, mas isso nunca havia sido demonstrado cientificamente. “O resultado surpreende ao constatar que na região de maior governança ambiental do País a gente ainda tem esse efeito de interesses políticos, regionais e locais, sobre o desmatamento do bioma que, ao mesmo tempo, é o mais protegido e o mais devastado do Brasil”, diz o diretor de Conhecimento da organização SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto. Mapeamentos feitos por imagens de satélite mostram que restam apenas 26% da cobertura florestal original da Mata Atlântica. Dependendo dos critérios utilizados na análise, essa conta chega a 12%.