Prefeitura e Santa Casa não identificaram bactérias infectocontagiosas nas águas e nos óbitos recentes no município, mas praia continua imprópria para banho
Um mês após a morte de um jovem de 30 anos por fasciíte necrosante, que morava e trabalhava no bairro do Perequê Mirim, em Ubatuba, o caso continua sem respostas. A causa da morte foi uma infecção bacteriana grave que inflama e mata os tecidos abaixo da pele, envolvendo músculos, nervos e vasos sanguíneos. O que ainda precisa ser esclarecido aos familiares e à população é a origem da contaminação que resultou na infecção. Uma das hipóteses levantadas por organizações da sociedade civil é a presença de esgoto nas águas de rios, córregos e mar da região.
O Perequê Mirim sofre com um problema crônico do litoral norte: as ocupações irregulares, principalmente em áreas mais altas do bairro. Sem acesso a serviços públicos de luz, água e esgoto, esses imóveis despejam seus resíduos sanitários diretamente em rios e córregos, sem nenhum tipo de tratamento. A prefeitura de Ubatuba desconhece o número exato de moradias nestas condições, mas diz que há fiscalização reativa a partir de denúncias registradas em seus canais oficiais. Ao constatar irregularidades, são tomadas medidas que vão desde a notificação até a demolição do imóvel, seguindo a legislação.
De acordo com a Sabesp, o bairro conta com 73% de rede coletora de esgoto instalada e, até 2026, o sistema alcançará 100% com a entrega da Estação de Tratamento de Esgoto e das tubulações remanescentes. A empresa mantém obras do Sistema de Esgotamento Sanitário que somam investimentos de R$ 45,7 milhões e beneficiarão mais de 10 mil moradores do Perequê Mirim. O projeto contempla cerca de 15 quilômetros de redes coletoras de esgoto; 1.251 ligações domiciliares e seis estações elevatórias. Vale lembrar que os números se referem às moradias regulares.
A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) é a responsável pela classificação das praias de Ubatuba e a definição de própria ou imprópria para banho é baseada na presença de bactérias fecais nas amostras coletadas. Coincidência ou não, a praia do Perequê Mirim foi classificada pela Cetesb como imprópria para banho durante 10 semanas entre janeiro e maio de 2025. Em abril, quando ocorreu a infecção e morte do jovem, a praia esteve imprópria na primeira e na última semana do mês.
Em suas redes sociais, a Santa Casa de Ubatuba informou que analisou os óbitos registrados nos últimos 30 dias e não identificou relação com causas infectocontagiosas e que não se justifica a preocupação com a disseminação de doenças entre a comunidade. A prefeitura de Ubatuba reforça a linha de investigação e afirma que não foi identificada a presença da “bactéria comedora de carne” nas análises realizadas nas praias do município. Porém, confirma a permanência das águas do Perequê Mirim como impróprias e não recomenda, expressamente, o banho de mar em locais sinalizados com a bandeira vermelha.

Praias de Ubatuba – SP
Demora no diagnóstico
A morte do jovem levantou questionamentos não apenas sobre a demora na implementação de uma rede eficaz de saneamento básico no município, mas também da capacidade técnica da rede de saúde pública para diagnosticar e atender casos graves de infecção. De acordo com o relato feito pelo pai do jovem, Domício Silvestre Gomes, na Câmara Municipal de Ubatuba, seu filho esteve na Santa Casa nos dias 22, 25 e 27 de abril, ocasiões em que foi diagnosticado com dor de garganta e liberado. Na madrugada de 28 de abril, o paciente deu entrada novamente na casa de saúde, já em estado grave.
Por questões legais e de sigilo médico, o Tamoios News não teve acesso ao prontuário do paciente, mas apurou que ele chegou ao hospital no dia 28 de abril com sintomas de infecção em uma ferida inchada, que rapidamente evoluiu para necrose (morte dos tecidos) e septicemia (quando a infecção se dissemina por todo o corpo). O jovem foi socorrido por uma equipe multidisciplinar, entubado e passou por procedimento emergencial de traqueostomia, quando um pequeno orifício é feito na garganta para melhorar a respiração. Todos os esforços e recursos disponíveis foram utilizados pela equipe médica, mas a gravidade dos sintomas levou o paciente à morte no mesmo dia.
É importante esclarecer que os sintomas da fasciíte necrosante podem variar de pessoa para pessoa, mas o diagnóstico e tratamento precoce são cruciais para aumentar as chances de plena recuperação. Entre os sinais de alerta para a procura de ajuda médica estão dor intensa, inchaço, vermelhidão e febre.
Redação/Tamoios News