O professor João Baptista Gardelin, se vivo estivesse, completaria 100 anos no próximo dia 19. Gardelin faleceu em 1990. Ele é lembrado, em Caraguá e São Sebastião, como um dos mais importantes professores de nossa região. Escreveu livros, em parceria com importantes matemáticos e físicos do país, mas sempre foi muito simples. Um dedicado e honrado professor, até hoje, inesquecível, para seus ex-alunos
Por Salim Burihan
No próximo dia 19 de outubro comemora-se os 100 anos do professor João Baptista Gardelin, um dos mais renomados mestres do Litoral Norte, falecido em 1990.
Aqui na região, Gardelin deu aulas de Matemática em Caraguatatuba e São Sebastião, entre 1953 e 1987. Sua família continua vivendo em Caraguatatuba.
A escola que leva seu nome, em Caraguá, a EMEI/EMEF Prof. João Baptista Gardelin, no bairro do Poiares, fez um homenagem para comemorar a data no último dia 19 de setembro, reunindo familiares, amigos, ex-alunos e professores.
Foi um evento marcante. Com fotos do professor, um detalhado histórico dele e muitas homenagens. A diretora da escola, Vanessa Rufino e o coordenador Kellerman Santos, estão de parabéns pela bela homenagem.
“Fui muito bonito e emocionante”, contou Lúcia Gradelin, filha mais velha do professor Gardelin. Segundo ela, dona Lucy, aos 95 anos, viúva de Gardelin, ficou muito emocionada com as homenagens e lembranças de todos que lá estiveram.
Gardelin
João Baptista Gardelin foi um dos mais conceituados professores do Litoral Norte e considerado um dos maiores matemáticos do estado de São Paulo.
João Baptista Gardelin nasceu no dia 19 de outubro de 1919, em São Paulo. Cursou o primário em Resende(RJ). Fez ginásio e curso de Filosofia(Escola Politécnica de São Paulo) e bacharelado em Matemática(PUC). Deu aulas em colégios e cursinhos da capital.
Antes de ingressar no Magistério Estadual, lecionou, nas seguintes Escolas: Escolas Paraíso (curso comercial); Curso Acadêmico (preparatório para ingresso à Escola de Especialista da aeronáutica); Liceu Barbosa Lima (escola de comércio); Colégio Estadual e Escola Normal Anhanguera, em São Paulo.
Em 1952, prestou concurso para o Magistério Oficial, tendo passado em 2º lugar, escolheu o “Colégio Estadual Dr. Cesário Coimbra”, em Araras(SP). Em abril de 1953, devido a problemas de saúde, sofria de bronquite, decidiu se transferir para uma cidade praiana e escolheu dar aulas, em Caraguá, no “Colégio Estadual Thomaz Ribeiro de Lima”.
Sendo criado o Colégio Estadual de São Sebastião foi convidado a lecionar, na qualidade de contratado, o que fez, até 1957, quando prestou o 2º concurso de ingresso. Passou em 1º lugar, escolheu em São Sebastião, onde continuou lecionando como efetivo até 1970.
Em remoção, trouxe a 2ª cadeira de São Sebastião para Caraguatatuba, onde, houve desdobramento de Matemática, acumulando os dois cargos no mesmo Colégio. Aposentou-se, em São Sebastião, em 1982.
Em abril de 1983, recebeu o Título de Cidadão Caraguatatubense, uma demonstração de reconhecimento pelo seu trabalho e exemplo nesta Cidade. Aposentou-se, em Caraguá, em 1987.
O professor João Baptista Gardelin faleceu em 12 de janeiro de 1990, deixando uma grande lacuna no Magistério regional. Em 13 de março de 1991 o Governador de São Paulo oficializa o Decreto nº 33.072 denominando a escola do Poiares como EEPG “Prof. João Baptista Gardelin” e o Prefeito de Caraguatatuba oficializa em 03 de agosto de 1997 o Decreto Municipal nº 15/97 como EMEF “Prof. João Baptista Gardelin”, tendo alteração em sua denominação em 26 de março de 2001 para EMEI/EMEF Prof. João Baptista Gardelin pelo Decreto nº52/01.
A família Gardelin continua radicada em Caraguá. Dona Lucy, aos 95 anos e as filhas Lúcia, Selma e Telma, vivem na cidade. Apenas o filho João mora em outra cidade. Atualmente são onze netos e doze bisnetos.
Lembranças
Eu, particularmente, jamais, vou me esquecer, de uma passagem muito interessante com o “mestre” Gardelin. Um dia, ele ligou para minha casa e disse o seguinte para minha mãe: Dona Maria, o Salim passou de ano, mas vou deixar ele de segunda época para que ele melhore um pouco na álgebra. E, se colocou a disposição, para me dar aulas particulares, gratuitamente, antes das provas. Jamais vou me esquecer disso. Gardelin fez isso com vários de seus alunos.
“Hoje, como professor universitário, ainda me lembro com saudades da autoridade fácil e nata que ele tinha. Uma autoridade que vinha do amor pelos alunos e pela matemática. Tenho eterna gratidão pela educação que tive naquele tempo, sendo que o prof. Gardelim, era um dos pilares desta boa educação. Quero deixar minha eterna gratidão a este espirito de luz que cruzou o meu caminho e de muitos outros afortunados no Thomas Ribeiro de Lima”, André Ramos, engenheiro formado pela Usp e professor-doutor da Uninove.
“Foi um exemplo como professor e como cidadão. Foi de grande importância para o futuro de muitos alunos da cidade. Incentivava e orientava seus alunos para que, através dos estudos, pudessem se formar e buscar uma vida melhor. Recordo que quando estudávamos na escola João Cursino, em São José dos Campos, quando falávamos que era de Caraguatatuba, os professores perguntavam do Gardelin. Era referência em todo o estado”, comentou Dadinho Fachini, hoje, aposentado da Petrobras.
Curiosidades sobre o Mestre Gardelin
Prótese
Gardelin perdeu o braço esquerdo aos 15 anos, quando trabalhava com seu avô, em uma empresa familiar que encadernava livros em São Paulo.
Sua filha mais velha, Lúcia, conta que , em São Paulo, após se formar, Gardelin usava uma prótese bastante rústica, para disfarçar a falta do braço esquerdo e sempre vestia camisa de manga longa para esconder a deficiência.
Quando chegou em Caraguá, em 1953, Gardelin, aos poucos foi abandonando a prótese e o uso de camisa de manga longa. Ficou bem a vontade, às vezes, andava até sem camisa, circulando de bicicleta com suas filhas Selma e Telma na garupa.
Livros
Pouca gente sabia, em Caraguá ou São Sebastião, onde ele dava aulas, que Gardelin escrevia livros em parceria com matemáticos e físicos importantes, entre eles, Osvaldo Sangiorgi e Carlos Galante. Gardelin, apesar de toda a sua simplicidade, tinha livros publicados na Itália.
Gardelin não apenas escrevia livros como também revisava publicações de matemáticos e físicos renomados do país, como os dois escritores citados acima, entre outros.
Fama
Caraguá não tinha colegial e a maioria dos alunos tinha que estudar em outras cidades. Quando se apresentavam em sala de aulas, dizendo que eram de Caraguá, os professores respondiam “ah! Gardelin”. Era uma referência em quase todas as cidades do estado, seu nome como professor de matemática ultrapassava fronteiras..
Agilidade
Durante as suas aulas, os alunos ficavam impressionados com a sua agilidade no uso da lousa. Com o livro ou apagador, debaixo do braço direito, ele usava a régua e o giz com o mesmo braço para traçar seus losangulos e retângulos. Era impressionante.
Lazer
Gardelin passava a maior parte do tempo em sua casa corrigindo ou preparando provas. Era palmeirense roxo. Acompanhava pelo radinho de pilha todos os jogos e notícias do verão. Na Tv assistia novelas e futebol. Tinha uma coleção de disco de vinil antiga, entre eles, de Noel Rosa, que sempre que tinha um tempinho livre, colocava na vitrola para ouvir. Seu animal de estimação era um Papagaio. Adorava aos domingos, ir à praia e passear com a mulher e filhos.
Aniversário
Gardelin nasceu, oficialmente, no dia 17 de outubro de 1919, mas foi registrado dois dias após pelos pais. Comemorava seu aniversário, no dia em que foi registrado em cartório.
Título
Em 1983, foi homenageado, por unanimidade, pela Câmara de Caraguá, com o título de Cidadão Caraguatatubense. O autor da homenagem foi o então vereador e ex-aluno Dadinho Fachini, cuja esposa, a servidora pública aposentada e ex- vereadora Madalena Fachini, também, foi aluna de Gardelin.
Morte
Gardelin ficou doente no final de dezembro de 1989. Não conseguiu se recuperar. Doze dias depois, veio a falecer. Somente após a sua morte é que a família ficou sabendo que ele tinha câncer. Estava com 70 anos quando morreu.