O pescador Marcelo Fernando dos Santos, de 47 anos, que nasceu e mora no Bonete, na Ilhabela, foi dar um mergulho com um amigo no dia 27 de março e no caminho entre Bonete e Ponta do Boi, a duas milhas da costa, eles avistaram uma Raia Manta. “Como meu celular é à prova d’água conseguimos filmar. Quando meu amigo estava fazendo as imagens ela chegou a vir ao nosso encontro, inclusive chegou bem próximo do meu amigo e encostou nele, tanto que ele acabou soltando o celular, que desceu uns seis metros, mas eu consegui mergulhar e pegar e ainda deu tempo de fazer mais alguns registros”, conta Marcelo.
O pescador disse que costuma ver outros tipos de raias nos costões rochosos da região do Bonete. “Não me assustei porque eu estou acostumado a ver sempre os outros tipos de raias. Quando o mar está bem calmo a gente consegue avistá-las. Nesse dia eu vi três dessas”, revela. O vídeo foi gravado no dia 27 de março.

Marcelo do Bonete
Projeto Mobulas do Brasil
Alguns tipos de raias são perigosas no contato com humanos por terem ferrões, mas não é o caso da Raia Manta. Guilherme Kodja, que é o fundador e pesquisador do projeto Mobulas do Brasil e do projeto Megafauna Marinha do Brasil, analisou as imagens que recebeu das filmagens feitas por Marcelo do Bonete.
“Esse tipo de raia é um animal muito carismático e totalmente inofensivo, ela não morde, não tem ferrão é extremamente dócil, tem o maior cérebro dentre os peixes dos oceanos em proporção ao seu tamanho. Das filmagens que recebi fiz fotos e ao analisar tive a certeza que se trata de uma Raia Manta, que são animais que podem chegar a 8 metros, pesar mais de duas toneladas e trezentos quilos e viver mais de quarenta anos. As Raias Mantas não têm ferrão, portanto são inofensivas. A que o Marcelo viu é uma fêmea adulta, tem cerca de 5 metros, sem ferimentos e na avaliação da IUCN (que é a entidade internacional que avalia o risco de extinção das espécies) ela é ameaçada de extinção. A gente prevê que se as coisas continuarem como estão pelo mundo, em três gerações do animal, que é aproximadamente 87 anos, elas podem estar extintas da natureza”, informa Kodja.
De acordo com o pesquisador, a taxa de fecundidade das arraias é muito baixa. “Um animal desse tem uma gravidez de aproximadamente um ano e gera apenas um filhote e tem fêmea que depois de uma gravidez demora até quatro anos para engravidar novamente. Isso gera uma taxa de fecundidade muito baixa. Sem contar que existe uma pesca voltada para ela, principalmente no sudeste asiático, que serve para oferecer subprodutos para a medicina tradicional chinesa. Aqui no Brasil é proibido pescar raias desde 2013, eu participei da construção junto com o Ministério do Meio Ambiente, na época para gerar essa proibição. O grande atrativo da Raia Manta é o quanto ela gera de receita nos lugares onde ela é vista e se pode mergulhar com ela no mundo. Estima-se que uma Raia Manta viva gera uma receita agregada, entre mergulho, passagem aérea e todos os custos agregados do turismo, cerca de 1 milhão de dólares por ano, isso cada raia, já existem estudos e comprovação científica disso”, esclarece.
Segundo ele, no ano passado já houve registros de Raias Manta em Ilhabela. “Eu fiz um trabalho de campo e um projeto de parceria com o pessoal do Baleia à vista. Então como eles estão muito mais no campo do que eu, quando eles fazem algum registro eu tento categorizar, mas nem sempre é possível. No ventre da raia tem umas manchas por onde fazemos a identificação do animal, que é como se fosse a impressão digital. Nas imagens enviadas pelo Marcelo a raia que ele avistou chegou a dar piruetas e assim foi possível ver o ventre dela. Enviei os dados desse registro para o banco de dados mundial e assim vamos marcando Ilhabela como ponto de agregação das Raias Manta”, relata Guilherme.
Para ele, a importância da presença da Raia Manta na Ilhabela se dá pelo fato de ser um animal com risco de extinção absurdo. “Isso coloca Ilhabela como ponto de agregação desses animais na temporada brasileira, que é uma temporada que ocorre só na região sudeste. É raro? Sim, porém está ficando mais costumeiro, por isso eu estou focando mais agora minha pesquisa na região. No ano passado avistamos esses animais por aqui. A temporada dela é de junho a setembro, mas às vezes você já tem alguma coisa em abril, maio, por isso que estamos trabalhando e vamos focar nossos esforços nos registros das Raias Manta na Ilhabela”, explica o pesquisador.