
Prejuízo foi de no mínimo R$800
USP desenvolve projeto para diagnosticar risco de lixo no fundo mar
Por Marcello Veríssimo
O pescador de São Sebastião, José Costa, 39, morador na região do São Francisco, não esperava ser surpreendido na manhã do último domingo (21) ao sair para pescar por volta de 9h da manhã.
Em direção ao alto mar, a cerca de 4 milhas da costa, como sempre faz jogou a rede e, quando ‘puxou’ de volta, veio a surpresa: junto com os peixes uma espécie de caixa já bastante danificada como se tivesse sido abandonada no mar. “É um tanque de ferro que acabou grudando na rede e rasgando. Agora, por baixo, calculo um prejuízo de R$800”, disse Costa, que pesca desde pequeno e obtém o sustento da família com a atividade.
“Vou mandar fazer outro orçamento para uma nova rede”, completou José. Além da rede, o pescador contou que, pelo peso da caixa, também teve prejuízo com a correia do guincho do barco.
Mesmo com o prejuízo material e indignado com a situação do descarte irregular de lixo no fundo do mar, José conta que não deixará de trabalhar. “Tenho família, um filho, pesco desde criança com meu pai”.
O caso no bairro São Francisco reflete uma realidade cruel, que ocorre com centenas de milhares de pescadores, todos os dias, por todo país, mas que, assim como o pescador caiçara, não têm ninguém para pedir ajuda. “Não recebemos ajuda de ninguém”, afirmou.
De fato. De acordo com a Colônia de Pescadores Z14, que funciona no São Francisco, a Petrobras “cortou toda ajuda aos pescadores”. A entidade informou que antes dos escândalos de corrupção, amplamente noticiados pela imprensa, a estatal concedia ajuda aos pescadores com problemas deste tipo. Ao ser comunicada, a colônia preenchia um cadastro e após análise do caso encaminhava para a empresa, que disponibilizava ajuda aos profissionais.
Para combater mais esse tipo de degradação causada pelo ser humano é que o Instituto de Oceanografia da USP (Universidade de São Paulo) vem desenvolvendo há aproximadamente 2 anos o projeto “MarPlast”, que em parceria com indústrias, principalmente a do plástico, está monitorando a costa e praias arenosas do Brasil para elaborar um diagnóstico da situação do lixo submerso no mar.
Fora de São Paulo, o projeto conta com a colaboração de universidades na Bahia e Alagoas. O objetivo dos especialistas é catalogar o lixo marinho, depois divulgar os dados para buscar, por exemplo, incentivos em políticas públicas para ajudar os pescadores, outros profissionais que trabalham no mar e evitar mais mortes de animais marinhos por ingestão desses resíduos. A USP informou ainda que não existe hoje em vigor no Brasil qualquer tipo de legislação que preveja penalidades jurídicas para o descarte do lixo no mar.
A oceanógrafa de São Sebastião, Shirley Pacheco, concorda e conta que no fundo do mar, provavelmente, há muito lixo, mas que nem tudo chega à beira das praias. O Instituto Terra&Mar desenvolve trabalhos de conscientização ambiental em São Sebastião, entre eles destaque para o “Dia Mundial de Limpeza das Praias”, que é celebrado no terceiro sábado de setembro, com a ação de voluntários recolhendo resíduos nas praias, mangues, rios e restingas, e é realizado há aproximadamente 29 anos pela ONG americana The Ocean Conservancy em diversos países do mundo.
Em nota, a assessoria de imprensa da Trasnpetro informou que “A companhia não reconhece o objeto em questão” e afirmou cumprir “todas as normas requeridas pela Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios (Marpol)”. A Transpetro garantiu também que “Todas as operações da Companhia seguem rigorosos padrões de segurança e cuidado com o meio ambiente”.