Litoral Norte Saúde

Pesquisador alerta que 90% dos macacos da região podem morrer por febre amarela

Tamoios News
Fotos: Divulgação

Por Leonardo Rodrigues

 

O pesquisador científico da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) do Governo do Estado de São Paulo, Adriano Pinter alerta que o avanço do vírus da febre amarela no Litoral Norte pode ser responsável pela morte de 90% dos macacos nos próximos meses. Ele considera pouco provável a extinção da espécie no Estado, mas admite a possibilidade em algumas regiões.

Sem conseguir conter a transmissão, Pinter cita o que aconteceu em áreas próximas ao Horto Florestal de São Paulo, e na região de Mairiporã, para afirmar que a perspectiva é que até 90% dos macacos possam morrer por febre amarela no Litoral Norte. “É muito provável. É o que aconteceu até agora”, diz.

Para se ter uma ideia, foram cerca de 1.500 macacos mortos só nas proximidades de Mairiporã. A estimativa é que 10% dos macacos do Estado de São Paulo sejam mortos com o vírus. “Isso pode representar aproximadamente 15 mil macacos mortos em todo o Estado”, calcula.

Ele acredita ser difícil contabilizar o número total de primatas mortos no Litoral Norte por dificuldade de acesso. “A maioria está morrendo no meio da floresta. Muitos nem vão ser vistos”.

Como uma onda – Adriano Pinter ressalta os macacos como sentinelas dos homens, e que o rastro da doença é um caminho sem volta para o vírus. “É uma onda e vai consumindo os macacos pelo caminho. Mas não tem como o vírus voltar novamente. Ele segue sua rota”, comenta.

O trabalho do Estado de mapeamento do vírus traz os índices de letalidade de primatas em cada região. Porém, ainda há dúvidas quanto a resiliência das espécies após a febre amarela quase dizimar os macacos em algumas localidades. “A espécie tem capacidade de se recompor. A pergunta agora é quanto tempo isso leva? Não sabemos. Isso nunca aconteceu antes”.

De acordo com a Sucen, em algumas regiões do Estado já era esperada a manifestação do vírus, como a de Ribeirão Preto, mas não o Litoral Norte. “Campinas, São Paulo, Vale do Paraíba e o litoral não esperávamos”, confessa Pinter. O trabalho foi de acompanhar o deslocamento do vírus que veio por Minas Gerais. “Começamos a registrar a velocidade e o deslocamento do vírus, mapeando e verificando sua rota”, diz.

Com isso, a Sucen já previa que a febre amarela começaria a se manifestar no Litoral Norte a partir de fevereiro. “Por isso, em novembro, já foi decidido que começaríamos uma campanha de vacinação na região a partir de janeiro”, revela. Quando foi definido o início da campanha de vacinação para o Litoral Norte a partir em Janeiro, o foco da doença estava na região de Mairiporã.

Adriano Pinter não sabe quanto tempo a população de macacos levará para se recuperar

Rota de colisão – O Governo do Estado acompanha com atenção o avanço da doença, e com preocupação a resistência de parte da população em se vacinar. Ele cita mais uma vez Mairiporã, para alertar que apesar do índice com mais de 85% da população vacinada, registrou-se mais de 100 óbitos de pessoas por febre amarela. “Por enquanto a média no Litoral Norte é que só 50% da população já se vacinou. Se isso não mudar, a situação é preocupante”, observa.

Segundo Adriano, há mais de uma rota de entrada do vírus no Litoral Norte. O pesquisador conta que o vírus que dá sinais na Costa Sul de São Sebastião vem de Minas Gerais, e que seguiu por Mogi das Cruzes e Bertioga. Já o que atua em Ubatuba tem origem no Estado do Rio de Janeiro.

“Em algum ponto de Caraguatatuba vai ter o encontro, vindo pelas regiões norte e sul da cidade. Provavelmente Caraguá será atingida com grande intensidade no segundo semestre”, alerta.

O pesquisador atenta que com a aproximação do inverno, o mosquito tende a diminuir atividade, mas ainda é preciso ficar atento. “Vocês começarão a perceber que não aparecerão mais notícias de macaco morto, e de casos de febre amarela. Isso é por conta da chegada do frio. Mas o mosquito vai continuar de onde parou. A partir de agosto e setembro, o vírus volta com força na região. A tendência é achar que (o vírus) vai desaparecer, mas não”, prevê.

“Se a população não se vacinar vai ter muitos casos com humanos”, atenta.

Indícios – A pesquisadora da plataforma institucional de biodiversidade e saúde silvestre da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, Marina Bueno afirma que o aparecimento de macacos mortos com suspeita de febre amarela são indícios da doença já circulando na região. “O mosquito procura um hospedeiro. Os primatas são importantes porque nos auxiliam mantendo a febre amarela na mata”, comenta.

Na busca do mosquito por um hospedeiro para se multiplicar, a veterinária especialista em medicina de animais silvestres relata que os macacos são sensíveis a febre amarela, assim como os seres humanos. Segundo a pesquisadora, os bugios são os mais sensíveis, mas há outras espécies de primatas, como os saguis por exemplo, que também podem apresentar a doença.

Marina Bueno frisa que os macacos são nossos sentinelas

“Existe um compartilhamento de parasitas entre nós e os primatas, devido a proximidade filogenética. Por isso são nossos sentinelas. Outros  animais não são tão sensíveis quanto os primatas”, destaca.

Marina frisa que a febre amarela que se aproxima é a silvestre, em razão das cidades da região serem próximas a Mata Atlântica. Há um receio que a febre amarela “urbanize-se”, mas até o momento não há registro de que o mosquito Aedes, que fica em espaços urbanos, seja responsável pela transmissão.

“O Aedis é o vetor urbano – o mosquito que pica nas cidades. O que está ocorrendo são outros vetores, responsáveis pela transmissão. Mais uma razão dos macacos serem as primeiras vítimas de febre amarela”, explica. Segundo ela, a doença veio da África. “Mas lá há um menor impacto às espécies de primatas, porque são menos sensíveis”.

Vacinas em macacos – A hipótese de uma campanha de vacinação em primatas, a pesquisadora considera como algo remoto. “Há conversas nesse sentido, mas é muito difícil”. Ela elenca a dificuldade de entrar na mata, capturar os animais, o custo, e a variedade de espécies. “Só se for algo de forma isolada, em cativeiro ou para espécies de vida livre  no qual há um programa  de conservação com acompanhamento e manejo dos animais”, diz a pesquisadora ao considerar a viabilidade de vacinação em primatas.

7 macacos – A incidência de macacos mortos está se tornando cada vez mais frequente. Só na semana passada, a Prefeitura de São Sebastião, por intermédio da Secretaria de Saúde, através da Vigilância Epidemiológica, encontrou sete macacos Bugio mortos.

Segundo a diretora da Vigilância em Saúde, Fernanda Paluri, os macacos foram levados para realizar necropsia, e as amostras seguiram para Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.

Para a diretora da Vigilância, existe uma grande a probabilidade de a causa da morte ser por Febre Amarela, pois os macacos não apresentavam lesão e nenhum ferimento, de acordo com a necropsia. Os órgãos apresentavam sinais ectéricos, mas a comprovação vai ser através dos exames realizados pelo Instituto.

De acordo com Fernanda, a população precisa se conscientizar que o vírus está circulando em nossa região e é preciso se vacinar. “Vai ser frequente encontrar macacos mortos, a preocupação agora é que todos estejam vacinados e que, ao encontrarem um macaco morto, devem entrar em contato com o 153 (COI)”, avisa.

 

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