Caraguatatuba Geral

PM Leandro Prior, de Caraguá, sofre ameaças por se declarar militar e gay

Tamoios News

O policial militar Leandro Prior, de 28 anos, de Caraguatatuba, que pediu o namorado Elton da Silva Luiz, em casamento, no último dia 23, dia da realização da Parada do Orgulho LGBTI+, em São Paulo, vem sofrendo ameaças e injúrias por se declarar militar e gay, segundo noticiaram os jornais  Folha de São Paulo e O Globo.

A Corregedoria da Polícia Militar está apurando as ameaças feitas à Prior nas redes sociais. Um dos autores já teria sido identificado e será chamado à depor. O advogado de Prior, Antônio Alexandre Dantas de Souza, solicitou à polícia civil, que também investigue o caso através das mensagens divulgadas nas redes sociais.

Prior tem recebido muitas ameaças homofóbicas, após pedir o namorado em casamento, no dia da Parada do Orgulho LGBTI+ em São Paulo. Mensagens, como “Vou te caçar e vou te ensinar a virar homem na porrada” . Outras, pedem para ele deixar a corporação e ameaçam o soldado de espancamento por desonrar a PM.

“Quanto às ameaças e injúrias recebidas, seja por membros da instituição ou não, todas elas já estão encaminhadas e sendo rigorosamente acompanhadas. Para os que destilam todo o seu ódio com seus discursos “moralistas” na internet, contando com a boa e velha impunidade à brasileira, aguardem o que está por vir, pois a Justiça virá – cada uma das ameaças e injúrias foram encaminhadas aos órgãos competentes e todas estão de perto sendo acompanhadas com muito zelo”, comentou Prior, em uma carta aberta à comunidade LGBTI+ divulgada no dia 28 passado.

PM Prior pede namorado em casamento, em uma praça da capital, no dia 23 de junho, dia da Parada do Orgulho LGBTI+

Prior não pode falar sobre o caso, sem ordens de seus superiores, mas o advogado Dantas de Souza, disse ao jornal Folha de São Paulo, que um dos autores das mensagens é um sargento aposentado da PM. “O ambiente militar sempre foi machista e predominante masculino. O fato de ter um militar dentro do estado de São Paulo atuante na causa gay gerou uma comoção para ambos os lados”, disse Dantas Souza à Folha.

Leandro Prior nasceu em Caraguatatuba, tem 28 anos e trabalha na capital. Ele trabalhou na prefeitura de Caraguá, como estagiário, em 2008/2009; no IF(Instituto Federal) de Caraguá, em 2012; e, na prefeitura de São Sebastião, entre 2011 e 2012, como técnico de meio ambiente. Em São Sebastião, foi também membro do CMDCA(Conselho Municipal da Criança e Adolescente).  Ele foi filiado ao PT de São Sebastião.

Prior, quando prestou concurso para ingressar na Polícia Militar, informou que era homossexual e foi aprovado em todos os testes e incorporado à corporação. Ele não foi barrado por se declarar homossexual. Leia abaixo a carta aberta escrita por ele e postada nas redes sociais, onde comenta sobre o fato de ser gay e militar e das ameaças sofridas.

Carta aberta à comunidade LGBTI+, por Leandro Prior

Desde que compreendi de fato minha identidade homoafetiva compreendi que não seria fácil meu caminhar, ainda mais considerando minha escolha em compor orgulhosamente as forças de segurança do Estado de São Paulo como soldado da Polícia Militar.

Em um ambiente de dogmática predominantemente conservadora e muitas vezes preconceituosa, sempre precisei estufar o peito e me colocar em posição para não ser arrastado pela torrente. Muito embora possa parecer desgastante, a mim nunca foi, sempre tive MUITO ORGULHO de ser exatamente quem eu sou: Militar e Gay.

Ano passado, quando de forma abrupta e constrangedora tomei ciência de um vídeo circulando nas redes sociais onde me mostrava, fardado e em local público em afeto com outro homem, e que era alvo dos mais diversos e absurdos comentários, fui apoiado por alguns poucos porém importantes amigos na Corporação enquanto outra parcela proferia ameaças e ofensas sob o manto protetor, tudo para lavar “o bom nome da corporação”.

Violado, rebaixado e deprimido. Temi por minha vida diante de tanta podridão e mesmo assim, à época, fui submetido a questionamentos administrativos sobre uso de farda, suposta desatenção entre outros, dos quais respondi, de cabeça erguida e com ORGULHO, pois, apesar do profundo estado depressivo em que me encontrava, sabia que nada havia de errado comigo.

Cerca de quase um ano após aquele incidente, depois de ter amargado perdas emocionais e financeiras e, estando finalmente bem assessorado e movimentando a máquina pública a meu favor (apesar das reticências), me vi novamente afortunado em conhecer uma pessoa de muita luz, que me apoiou e transformou meus dias.

Às vésperas da histórica data de 28 de junho 2019 no qual se comemoraria os 50 anos de Stonewall, que seria amplamente comemorado na maior Parada de ORGULHO LGBTI+ do planeta, surgiu-me a idéia de ficar noivo naquela festa. Era meu grito de ORGULHO de ser quem sou, de ser Policial Militar, de ser Gay.

Consultei meu advogado sobre tal desejo. Juntos coletamos inúmeros exemplos (Vídeos, fotos, relatos), de pedidos semelhantes realizados por colegas de farda das formas mais criativas, alguns chegando a mobilizar parte de Pelotão e viaturas para tal feito, logo, não seria algo intransponível.

Juridicamente orientado, apresentei o pedido aos meus superiores e aguardei. Infelizmente, fui surpreendido com uma negativa. Frustrado e tentando ainda acreditar no que havia acontecido, me vi novamente sob a mira de comentários preconceituosos, alguns, mesmo criminosos, quando da divulgação do fato. Mesmo diante de tal negativa, seguimos fortes apurando as razões dela, visto que, como bem dito, inúmeros são os exemplos de casos semelhantes.

Mesmo proibido de participar do evento como planejado, realizei meu intento de forma simples, estando fardado me ajoelhei aos pés de quem amo, como tantos outros antes de mim fizeram, declarando meu amor e meu ORGULHO. Agora, será que pelo fato de ser homossexual, e os demais não, eu deva mesmo ser submetido mais uma vez a explicações?

Quero muito acreditar que a Instituição não está favorecendo ou mesmo exercendo homofobia, o que posso afirmar é que, da mesma forma que estão apurando os fatos, eu, amparado por meu advogado, também estou movendo a máquina pública para seja apurada absolutamente tudo acerca dos fatos. Não serei silenciado pelo medo, nem tampouco pelo ódio daqueles que se escondem por detrás da cortina preconceituosa do moralismo ultrapassado. Sou membro desta instituição, e como qualquer um que assim como eu possui a honra e o ORGULHO de vestir esta farda, conquistei o direito de vesti-la, e como qualquer outro e mereço e devo ter o mesmo tratamento e direitos que os demais.

Quanto às ameaças e injúrias recebidas, seja por membros da instituição ou não, todas elas já estão encaminhadas e sendo rigorosamente acompanhadas. Para os que destilam todo o seu ódio com seus discursos “moralistas” na internet, contando com a boa e velha impunidade à brasileira, aguardem o que está por vir, pois a Justiça virá – cada uma das ameaças e injúrias foram encaminhadas aos órgãos competentes e todas estão de perto sendo acompanhadas com muito zelo.

Por fim, devo acrescentar mais uma vez que todos os episódios aqui narrados de forma breve apenas me fizeram ter ainda mais ORGULHO em ser um LGBTI+ que veste a farda da Policia Militar do Estado de São Paulo, pois, me fez reafirmar meu juramento de proteger o ser humano e sua dignidade com honra e respeito e se, de algum modo, a instituição ou qualquer dos seus membros, por razões de preconceito tendem a discriminar ou mesmo mitigar este dever, deverão ser punidos no rigor da lei desta sociedade que juramos proteger. Mais uma vez reforço, jamais permitirei que suprimam a minha dignidade.

Leandro Barcellos Prior, 28 de junho de 2019 

Por Dr. Antônio Alexandre Dantas de Souza