Grupo de vereadores que votou favorável ao aumento abandonou a reunião, após Câmara lotar com manifestantes
Por Raell Nunes, de Ubatuba
“Vergonha, vergonha”. Era essa a palavra que milhares de moradores de Ubatuba gritavam repetidas vezes na abertura da sessão de Câmara nesta terça-feira (6). Em protesto para que não se aumentasse o salário dos vereadores em mais 25%, as vaias, os narizes de palhaço e apitos fizeram com que alguns legisladores abandonassem mais cedo a reunião, que acabou cancelada.
Por enquanto a decisão do aumento não foi alterada e ainda aguarda sanção do prefeito ubatubense, Maurício Moromizato (PT). De acordo com os organizadores do movimento, pelo menos mil pessoas compareceram à sede do Legislativo.
Os representantes da Casa de Leis que deixaram a plenária da sede do Poder Legislativo na terça, são os mesmos que apoiaram o acréscimo salarial – os vencimentos dos vereadores de Ubatuba passaram a R$ 10.128,80, com rejuste. São eles: Claudinei Xavier (PSDB), Daniele Soares (DEM), Adão Pereira (PCdoB), Benedito Julião (PSL), Manuel Marques (PT) e Silvinho Brandão (PSDB).
O presidente da Câmara, Claudinei Xavier, não conseguia nem falar ao microfone. Enquanto tentava se pronunciar, a população vociferava e erguia cartazes com dizeres, tais como: “Vereador, lhe desafio a sustentar sua família com meu salário”, “A votação é legal, mas é imoral e desleal”, “Somos contra o aumento, R$ 8 mil já é muito”, “Desordem e regresso, vergonha de Ubatuba”, entre outros.
Permaneceram em plenário apenas os vereadores que foram contrários à pauta que acrescenta benefícios financeiros aos legisladores: Reginaldo de Matos (PMDB), o Bibi, Xibiu (PSDB), Ivanil Ferretti (PMDB) e Flavia Pascoal (PSB). Diferente dos outros seis, os quatro ficaram à disposição para ouvir os munícipes e dar entrevistas à imprensa.
Depoimentos
Único dentre os reeleitos que discordou do projeto de lei n° 110/16, o vereador Bibi disse que esse não era o momento mais propício para aumentar os próprios salários. “Esse não é o momento para esse tipo de projeto. O resultado é esse. Não imaginei que viriam tantas pessoas assim. Infelizmente é uma reação negativa”, acrescentou.
Já o vereador Xibiu, que foi um dos precursores na construção da nova Câmara, falou que se sente triste pelo acontecido, pois a Casa de leis poderia fechar o ano melhor e não com manifestação. “Eu imaginava um protesto dessa proporção por tudo que vi nas redes sociais”, revelou.
Os gritos de idosos e jovens, homens e mulheres continuavam na plateia. Tinham pessoas até do lado de fora se expressando. Aquele que não aguentava mais protestar com a força vocal, gesticulava sem parar. Um dos momentos mais marcantes da manifestação foi, também, o momento mais patriótico: o canto do hino nacional. Alguns fechavam os olhos, outros colocavam a mão direita ao lado do coração.
A professora aposentada, Vera Lúcia Trevisan Alonso, 58 anos, afirmou que acha justa a manifestação popular. Segundo ela, os professores ganham tão pouco. “Eles [os políticos] só vão merecer ganhar bem, quando todos tiverem as mesmas oportunidades. Esse não é o momento de aumentar nada, Ubatuba não está nadando em dinheiro. Eu dei aula mais de 30 anos e recebo R$ 3,5 mil de aposentadoria”, finalizou.
Uma petição feita pela internet colheu mais de 2 mil assinaturas em 48 horas. Através das redes sociais os moradores se organizaram e combinaram como seria o acontecido. No local, havia até carro de som com amplificador e microfone. Conforme depoimentos, os munícipes só vão parar de protestar quando o Legislativo voltar atrás na decisão de aumentar os próprios salários.