Um estudo inédito detectou um grande potencial para a cadeia do biometano no estado de São Paulo. Com a adoção de incentivos, investimentos e políticas de fomento, o setor pode gerar até 20 mil empregos diretos, indiretos e induzidos com o aumento da produção desse combustível renovável, além de contribuir para a redução dos gases de efeito estufa.
A pesquisa destaca que a capacidade instalada ou em instalação atualmente no Estado é de 0,4 milhão de m³ por dia. Com o desenvolvimento da cadeia de biometano, a oferta potencial é estimada em 6,4 milhões de m³ por dia – ou seja, 16 vezes da capacitada atual. A maior parte desse gás (84%) pode vir do setor sucroenergético – ou seja, do aproveitamento da cana-de-açúcar. Outros 16% podem ser gerados nos aterros sanitários, a partir da decomposição da matéria orgânica.
Essa produção potencial de 6,4 milhões de m³ por dia equivale a cerca de 40% do consumo total de gás natural em São Paulo e a 25% do consumo de óleo diesel no setor de transportes, incluindo veículos pesados. O biometano é, portanto, um combustível com menor pegada de carbono que pode contribuir para reduzir o aquecimento global.
O biometano é um gás obtido a partir do processamento do biogás. Por sua vez, o biogás é originário da decomposição da matéria orgânica por ação de bactéria e é composto principalmente de metano e dióxido de carbono (CO2). A purificação do biogás resulta no biometano com elevado teor de metano em sua composição, reunindo características que o torna intercambiável com o gás natural em todas as suas aplicações ou então passível de ser transportado na forma de gás comprimido ou de gás liquefeito.
O trabalho foi desenvolvido pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e pelo Governo de São Paulo, numa iniciativa conjunta das secretarias de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil); Desenvolvimento Econômico, por meio da InvestSP; e Agricultura e Abastecimento.
“Temos um potencial enorme em relação ao biometano. Precisamos olhar essa potencialidade, as oportunidades, entender onde estão os gargalos, onde eventualmente precisamos melhorar nossa infraestrutura. Daí a importância desse estudo, para podermos dar o passo seguinte, avançando em políticas públicas robustas, na parte regulatória e no licenciamento ambiental, para que o investidor tenha segurança jurídica e previsibilidade para investir no estado de São Paulo”, ressaltou a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado, Natália Resende.
O projeto teve como objetivo identificar barreiras ao desenvolvimento da cadeia do biogás e biometano, além de embasar a criação de políticas públicas que promovam o crescimento do setor. As etapas incluíram diagnóstico técnico e de mercado, levantamento e análise de medidas de incentivo e sugestões de priorização dessas medidas. O estudo aponta, entre os principais resultados, que a substituição do diesel por biometano pode contribuir com a redução de 5,6 milhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e) para as metas de descarbonização do estado até 2050, representando 3,7% da meta estabelecida. Se for considerado todo o ciclo de vida, desde o uso dos resíduos na produção até o consumo do biometano no setor de transportes, a redução pode chegar a 24,5 milhões de tCO2e (16% da meta estadual).
Com um potencial que pode alavancar uma nova indústria ligada à bioeconomia, o estudo aponta que São Paulo deve se posicionar como líder na transição energética, desenvolvendo um mercado de biometano estratégico para a descarbonização da indústria e do setor de transportes e o alcance das metas de redução de gases de efeito estufa.
O estudo também ressalta desafios significativos, como a competitividade, a infraestrutura dutoviária limitada e a necessidade de aprimoramento regulatório. As medidas de incentivo ligadas ao Capex (despesa de capital) das plantas são fundamentais para reduzir custos e aumentar a oferta de biometano. O Capex refere-se aos investimentos necessários para adquirir, construir ou melhorar ativos fixos, como as instalações de produção de biometano e a infraestrutura dutoviária. A viabilidade econômica é essencial para garantir o crescimento do setor.
Para Marisa Barros, subsecretária de Energia e Mineração da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, “o estudo é uma ferramenta de planejamento para o estado de São Paulo na formulação de políticas públicas e aprimoramento regulatório”. Segundo ela, “é também um elemento de previsibilidade para o mercado, com um diagnóstico, desafios e propostas”.