Setor de pesca em Ubatuba realiza testes inéditos de dispositivo utilizado no arrasto de camarão. Trata-se do Projeto Rebyc que está sendo desenvolvido em Vitória(ES), Pirambu(SE), Rio de Janeiro(RJ), Itajaí(SC); e, no Litoral Norte, em Ubatuba
Pesquisadores do Projeto Rebyc, que estudam o uso de dispositivos redutores de fauna acompanhante (BRDs) nas pescarias de arrasto de camarões no Brasil, iniciaram suas pesquisas no Litoral Norte.
Os testes estão sendo realizados em cinco localidades do Brasil: Vitória (ES), Pirambu (SE), Rio de Janeiro (RJ), Itajaí (SC) e Ubatuba (SP).
O projeto, uma iniciativa realizada em parceria com a FAO(Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), que busca o manejo sustentável da fauna acompanhante na pesca de arrasto na América Latina e Caribe. A fauna acompanhante ou captura incidental é caracterizada pela captura de espécies não alvo da pescaria.
Entenda o Projeto Rebyc
No dia 27 de junho, ocorreu uma reunião, no Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí(SC), na qual participaram o coordenador técnico do projeto Rebyc, Fábio Razin; o presidente do Sindipi, Jorge Neves; e, o presidente do Sitrapesca, Jorge Henrique Pereira. Num vídeo, eles explicam a importância do projeto para a manutenção e o futuro da pesca de arrasto no país. Assista:
Em Ubatuba, a equipe de pesquisadores do projeto Rebyc, embarcou nesta quinta(25), na embarcação Vraxo VI para realizar a primeira série de arrastos utilizando o TED – Dispositivo de Escape de Tartarugas. Os testes começariam na terça-feira, mas foi necessário aguardar uns dias em função da ressaca do mar.
No total, três embarcações de Ubatuba participarão da pesquisa – cada uma delas irá realizar 30 arrastos com o equipamento. Se as condições climáticas contribuírem, a expectativa é de que haja primeiros resultados em cerca de um mês.
Os aportes feitos pelos pescadores e os dados levantados tanto em Ubatuba quanto nas demais regiões do país vão orientar a construção do Plano de Gestão da Pesca do Camarão no Brasil e gerar recomendações para a adequação do marco legal da pesca podendo, inclusive, levar a exigências diferenciadas, segundo cada região do país.
“O TED é um mecanismo que tem como objetivo reduzir a captura de fauna acompanhante, isto é, tudo aquilo que vem acompanhando o camarão na pesca de arrasto, como tartarugas, peixes pequenos, crustáceos, entre outros”, explicou a bióloga Dérien Duarte, do CEPSUL – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul, integrante do projeto Rebyc.
O dispositivo é uma exigência do mercado norte-americano para compra de camarão de outros países e foi automaticamente incorporado na legislação brasileira da pesca a partir de 1994, sem que fosse realizado qualquer tipo de teste em nível nacional. Atualmente, a lei exige seu uso obrigatório em embarcações com mais de 11 metros de comprimento de todo país. Em caso de descumprimento, as embarcações estão sujeitas a responder por crimes ambientais, com pesadas multas e risco de apreensão de equipamentos.
Pioneirismo de Ubatuba
A execução de testes com o TED é resultado de uma demanda feita pelos pescadores em um encontro da Câmara Setorial do Pescado, realizado em 2016 aqui em Ubatuba.
“Ubatuba é pioneira na realização dos testes seguindo metodologia e protocolo internacionais. Isso só foi possível graças ao envolvimento de todo o segmento pesqueiro, ou seja, pescadores, instituições governamentais, instituições acadêmicas e sociedade civil”, explica Bruno Giffoni, da Fundação Pró Tamar.
Tanto Giffoni quanto Venâncio Guedes de Azevedo, do Instituto de Pesca, quanto o pescador Manoel Ribeiro e o redeiro Adilson Barbosa, de Ubatuba, participaram de várias etapas de preparação dos testes como uma oficina técnica realizada em abril, em Itajaí (Santa Catarina), e diversas reuniões na secretaria de Agricultura e Pesca de Ubatuba.