Cultura

Projetos sociais de Cambury e Boiçucanga completam mais de uma década de atividades

Tamoios News
Foto: Rafael César

O “Projeto Ativo” e o “Instituto de Capoeira Jogo e Ginga” atendem quase 450 crianças de São Sebastião; ambos utilizam aulas de artes marciais para atrair a criançada e os adolescentes

Por Rafael César, de São Sebastião

Dois projetos sociais desenvolvidos na Costa Sul de São Sebastião completaram mais de uma década de atividades em 2016. O Projeto Ativo fica no bairro de Cambury e o Incajogi (Instituto de Capoeira Jogo e Ginga) faz o trabalho de inclusão social com jovens em Boiçucanga. Ambos os projetos buscam tirar crianças das ruas e oferecerem a elas uma chance de participarem de uma forma ativa da sociedade.

Segundo os administradores, a entidade de Cambury, que completou neste mês 15 anos, já atendeu cerca de dez mil jovens desde sua fundação. As aulas acontecem de segunda a sexta-feira, no contra turno escolar e são de artes, capoeira, contato total (modalidade de arte marcial), boxe e teatro. Nos dias de hoje, a ONG possui 90 alunos.

A outra organização tem 14 anos e tem sedes em seis bairros do município, além de mais quatro núcleos na cidade vizinha, de Ilhabela. O instituto atende, atualmente, uma média de 350 crianças somando todos seus pólos na cidade, e já atendeu 15 mil jovens durante os anos de atividades.

Quando começou em 2002, o foco do “Jogo e Ginga” era a capoeira, mas com o passar do tempo outras atividades, como a arte circense, danças e mais algumas artes marciais também foram adicionadas na grade de ensino do projeto. As aulas são gratuitas e dadas por 28 voluntários divididos entre as dez sedes. A maioria dos voluntários foram alunos no passado. Já as aulas acontecem em diferentes lugares de Boiçucanga, no decorrer dos dias da semana e começam às 19h.

“Na segunda-feira, as aulas são no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) de Boiçucanga. Nos outros dias, as atividades são feitas na minha academia que fica ao lado do campo do Boiçucanga futebol Clube. Sempre no último sábado do mês, nós, realizamos um encontro de núcleos para comemorar os aniversários dos alunos que fazem parte dos projetos”, explicou José Alberto da Silva Júnior, conhecido como Mestre Macaco e um dos fundadores do Incajogi.

Júnior é campeão regional, estadual, nacional e mundial de MMA (Mixed Marcial Arts-Artes Marciais Mistas) por torneios disputados no ano passado e retrasado. O capoeirista foi aluno do Projeto Ativo e descoberto pelo o fundador da ONG, o português e mestre de contato total Adriano Silva. Após dois anos de competição, com 12 vitórias por nocaute, a empresa em que era funcionário passou a ajudá-lo financeiramente também, algo que alavancou sua carreira.

“O Júnior nasceu com um dom e precisava apenas de uma oportunidade para apresentar a todos essa habilidade que Deus o deu. Quando encontrei o Macaco correndo atrás de um caminhão de lixo aquilo me tocou, pois eu sabia do potencial que ele tinha para se tornar um campeão de MMA. Não menosprezo jamais o trabalho de um coletor de lixo, no entanto, eu previa que o Júnior podia subir no lugar mais alto de um pódio para ouvir o hino brasileiro. Graças a Deus eu estava certo”, relatou mestre Adriano.

O mestre Adriano reclama da falta de estruturas esportivas no município e destaca a importância de projetos como o dele e o do ex-coletor de lixo. “Não sediamos mais nenhum campeonato regional, foram todos para Caraguatatuba. Nós não temos uma piscina olímpica, um ginásio completo e em bom estado. Imagina quantos jovens poderiam ser revelados como o Júnior, se tivéssemos uma boa estrutura esportiva. Por isso, os projetos são tão importantes também”.

Para o mestre Messias Corrêa, as oportunidades são restritas demais e os projetos ajudam os jovens a ter acesso a uma coisa que não teriam. “Sou deficiente visual e mesmo com as minhas dificuldades me tornei mestre em várias artes marciais. Tive as minhas oportunidades e as aproveitei para alcançar o que muitos não acreditavam. Hoje, só devolvo o que tive      a essas crianças que tenho a honra de ensinar”.

Foto: Rafael César

Foto: Rafael César

A visão dos alunos

Segundo o aluno Jeferson Defensor, 18, se não fosse o projeto do mestre Macaco, ele teria mais dificuldades na vida. “O projeto me direcionou na vida, tenho certeza que se não participasse não estaria aqui, ou não seria o que me tornei hoje. Eu não tinha sonhos e os encontrei. Faço enfermagem por causa de uma professora de capoeira que me motivou. Dou aulas de capoeira, com a autorização e aceitação total dos meus pais, coisa que não acontecia antes”.

A pequena Isabela Vicente, 11, é aluna do Projeto Ativo e ama as aulas de contato total que acontecem no núcleo. “As minhas aulas preferidas são de contato total, acho muito legal. Quando as aulas não acontecem fico triste, eu espero me tornar uma lutadora profissional no futuro”.

Ajuda governamental

O Projeto Ativo vem sendo ajudado pela administração municipal desde 2008, através de um pedido feito a primeira dama da época. O projeto teve que se regularizar para conseguir receber este apoio, antes o projeto era mantido pelo trabalho voluntário e pelas doações de comerciantes locais para a instituição.

“Quando fui pedir a ajuda da primeira dama foi apenas para conseguir comida e materiais para as crianças. Ela falou que gostaria de visitar o projeto. Nessa visita ela se apaixonou pelo trabalho e avisou sobre a possibilidade de regularizar o projeto para conseguir uma verba destinada. Eu tive que criar o estatuto e um plano de trabalho, até que firmamos uma parceria com a Setradh (Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Humano). Desta forma, conseguimos alavancar o projeto, porque tínhamos uma coordenadora pedagógica formada, um conselheiro administrativo formado, e também poderíamos pagar os professores”, condensou Eunice Neves, esposa do mestre Adriano e administradora da ONG Ativo.

Foto: Rafael César

Foto: Rafael César

Colaboração e evento

Os dois projetos necessitam de ajuda, segundo seus administradores. O mestre Adriano Silva, conta que as filas dos banheiros e vestiários, do Projeto Ativo, são enormes e devido isso pretendia construir mais sanitários para a garotada. Ele pede que as pessoas que tiverem interesse em doar materiais de construção e até mesmo a mão de obra entrar em contato com ele por meio da página do projeto na rede social Facebook: Ong Ativo Cambury.

Já Júnior, se preocupa com falta de prédios para dar as aulas do Instituto Capoeira Jogo e Ginga. “Aqui em Boiçucanga é tranquilo, pois tem a academia adaptada que montei. Alguns lugares, como Toque-Toque Pequeno, os alunos estão tendo aula nas praças, nas ruas e nas praias por falta de local fixo. Gostaria de ter um apoio igual ao do Projeto Ativo para firmarmos o Instituto de vez”.

O local aonde funciona a academia do mestre Macaco foi cedido por um advogado que praticamente adotou o campeão e que sempre deu forças para o ex-coletor seguir com o sonho dele que pertence a vários outros jovens, hoje em dia.

“Antigamente, esse lugar era a minha lavanderia. Ver o Júnior se tornar campeão foi algo que não tem como eu descrever. O melhor é saber que daqui deverá sair muitos futuros campeões e de certa forma ajudei para que isso acontecesse. Vou para todas as lutas que posso para torcer pelo meu filho, pois a história dele foi difícil e vê-lo bem me faz bem”, concluiu o Alcyr Toledo Vianna.

Macaco, afirma que em março de 2017 ocorrerá um evento para seis mil pessoas no campo de futebol do Cambury Futebol Clube e que irá encontrar o adversário que ele derrotou no mundial, além da luta dele haverá mais três combates onde serão disputados cinturões internacionais.

Foto: Rafael César

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