Geral Litoral Norte

Regiões costeiras terão mais enchentes e aumento das ressacas e ventos

Tamoios News

Em recente conferência sobre mudanças climáticas globais, realizada em São Paulo, foi feito um alerta de que as regiões costeiras do Brasil terão mais enchentes, ressacas e ventos. No Litoral Norte, essas situação já estariam ocorrendo. Temos registrados ressacas fora de época, ventos mais fortes e chuvas atípicas

Por Salim Burihan

A previsão de aumento da temperatura no país nas próximas décadas, com ondas de calor mais fortes e chuvas mais acentuadas em um espaço de tempo mais curto, vai provocar fenômenos meteorológicos que vão prejudicar mais fortemente a população pobre. A informação foi dada por Eduardo Assad, coordenador de grupo de pesquisa de mudanças climáticas da Embrapa, durante a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais, realizada no início deste mês, em São Paulo.

Assad alertou que ocorrerão mais deslizamento de terras, enchentes e perda de volume das bacias hidrográficas que abastecem os grandes centros nas próximas décadas. A região costeira brasileira, mais populosa, também vai sofrer com o aumento das ressacas marítimas e dos ventos causados pelo mar mais aquecido.

A previsão de aumento da temperatura no país nas próximas décadas, com ondas de calor mais fortes e chuvas mais acentuadas em um espaço de tempo mais curto, vai provocar fenômenos meteorológicos que vão prejudicar mais fortemente a população pobre. A constatação é de Eduardo Assad.

Esses fenômenos climáticos, já vem aumentando, no Litoral Norte, desde o ano passado. Primeiro, com as ressacas fora de épocas registradas entre setembro e outubro do ano passado; depois, com as chuvas e ventos fortes que atingiram a região entre março e maio deste ano, que causaram deslizamentos de encostas e interdição de rodovias, além de deixar muita gente desabrigada.

Ressacas

No ano passado, ressacas fizeram estragos nas praias da costa sul sebastianense

As ressacas, tradicionais, entre maio e agosto, no ano passado, se estenderam até os meses de outubro e novembro de 2018, causando destruição e erosões em praias da costa sul sebastianense e na costa norte de Caraguatatuba.

A praia da Mococa, em Caraguá, foi uma das mais atingidas. Nos últimos anos, a praia já perdeu quase 50 metros de sua faixa de areia. O mar quando avança derruba árvores e quiosques e muda a característica da praia, uma das mais frequentadas da cidade.

Mar avança na Mococa, em Caraguá, atinge quiosques, árvores e reduz em 50 metros a faixa de areia

A comerciante Suzana Santos, do Quiosque do Serjão, há 30 anos estabelecida na praia, disse que a Mococa, já perdeu mais de 50 metros de sua faixa de areia nos últimos dois anos. A força da maré tem reduzido as mesas instaladas pelo quiosque e reduzido a faixa de areia.

“Nunca tinha visto ressacas ocorrendo fora de época.  No ano passado, ocorrem ressacas nos meses de outubro, novembro e dezembro. Isso não era comum. Alguma coisa está acontecendo. Acredito que, essa alteração no período das ressacas, deve-se as ações do homem, obras, desmatamento, aquecimento global, alguma coisa desse tipo”, comentou.

Ventos

Este ano, o número de alertas emitidos pela Marinha do Brasil, comunicando ventos e ressacas, tem surpreendido. Realmente, os ventos tem sido mais constantes e mais fortes em todo o Litoral Norte.

Um exemplo disso, foi o vendaval, registrado no dia 30 de abril, principalmente, entre São Sebastião e Ilhabela. Moradores antigos, confirmaram que as rajadas de vento registradas naquele dia, de 120 Kms/h, foi uma das mais fortes ocorridas na região nos últimos 30 anos.

No dia 30 de abril, ventos chegaram a 120 Kms/h no Canal de São Sebastião

“Foi surpreendente. Uma força superior aos ventos que atingiram a região nos últimos anos”, contou o pescador Mário Oliveira, de Ilhabela. A força do ventos acabou provocando a morte da modelo Caroline Bittencourt, que foi lançada fora do barco e morreu afogada, quando seguia de Ilhabela para a praia do Pontal da Cruz, em São Sebastião.

Deslizamentos

Deslizamento, em Ilhabela, destruiu casas e interditou a SP-131

As chuvas foram mais constantes e mais fortes no Litoral Norte. Em maio, em algumas cidades, chegou a chover em três dias o que deveria chover ao longo de todo o mês.

As chuvas provocaram deslizamentos na rodovias Tamoios e Rio-Santos, interditaram as estradas, alagaram bairros, deixaram cidades isoladas e muita gente desabrigada.

A Rio-Santos teve  problemas nos Kms 118 e 142 em São Sebastião. A SP-131, em Ilhabela, ficou interditada por vários dias, interrompendo a ligação entre o norte e o sul da ilha.

Quem trafega pela Rio-Santos pode notar as inúmeras marcas dos deslizamentos ocorridos em suas encostas. Na Tamoios, a situação é bem parecida. As encostas estão frágeis e a qualquer chuva mais forte tendem a deslizar.

A foto aérea feita pela repórter Vanessa Vantine/TV Vanguarda, mostra vários deslizamentos na Tamoios, em seu trecho de serra. A concessionária Tamoios tem feito grande investimentos em obras de contenção na rodovia.

A Secretaria de Logística e Transporte informou que será contratada uma empresa, pelo DER(Departamento de Estradas de Rodagem, para avaliar os deslizamentos na Rio-Santos e fazer as obras necessárias nos trechos mais prioritários.

CPTEC

Segundo a oceanógrafa Rofio Camayo, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos(CPTEC) do INPE, em Cachoeira Paulista, seria preciso um estudo mais detalhado sobre o padrão das ondas e dos ventos, comparado com os anos anteriores para saber detalhadamente o que estaria ocorrendo no Litoral Norte..

Os padrões dos ventos e das ondas podem variar de um local para outro, pode se alterar em épocas diferentes do ano, como por exemplo, sofrerem mudança de padrão, um tipo no inverno e outro tipo no verão, segundo Rofio. Com relação às erosões que vem ocorrendo no Litoral Norte, já há alguns anos, ela sugere que deve ser feito um estudo mais aprofundado na região.

A oceanógrafa do Cptec/INPE afirmou que é possível que as obras no aterro do porto de São Sebastião possam ter colaborado na alteração das correntes marinhas em algumas praias de Caraguá, mas segundo ela, para se comprovar se isso ocorreu é preciso um estudo mais aprofundado para saber de sedimentos foram transportados de um local para outro, alterando a características das correntes marítimas nessas praias. Isso, no entanto, só poderia ser comprovado com estudos técnicos e, até matemáticos, mais detalhados.

Instituto Geológico

A pesquisadora Célia Regina Gouveia de Souza, do Instituto Geológico de São Paulo, uma das maiores estudiosas sobre as erosões que atingem as praias do litoral paulista, ela monitora as praias desde 1992, em entrevistas anteriores, destacou, que as erosões são provocadas porque o nível do mar está subindo.

Segundo ela, o encolhimento da faixa de areia é causado por uma combinação de mudanças climáticas globais – que elevam o nível do mar e causam eventos meteorológicos extremos – e fatores locais, como a urbanização e outras interferências humanas na linha costeira.