As ressacas estão ocorrendo fora de época, estão mais fortes e mais intensas. Praias estão sofrendo erosões. Qual será a causa: mudanças climáticas ou obras feitas na região?
Por Salim Burihan
As ressacas estão provocando erosões nas praias do Litoral Norte. Em Caraguá, por exemplo, as praias da Mococa e Prainha, sofreram alterações em suas características e nos últimos anos perderam boa parte da faixa de areia.
Uma coisa tem surpreendido moradores e comerciantes estabelecidos nessas praias. A temporada de ressacas que tradicionalmente ia de abril a agosto, nos últimos anos tem se estendido até novembro e dezembro.
Outro detalhe interessante, as ressacas estão sendo mais intensas e mais penetrantes sobre a costa. As ressacas são um fenômeno natural, geralmente provocado por ciclones extratropicais formados entre a Argentina e o Rio Grande do Sul que avançam para o Sudeste do Brasil, gerando ondas de muita energia e elevação do nível do mar.
O aumento das ressacas, que vem chegando com mais força no Litoral Norte, pode ter como causa o aquecimento global. No caso do Litoral Norte, as ondulações que tem alterado as características de algumas praias podem também estar sendo provocada por obras na região, como, por exemplo, o aterro feito no porto de São Sebastião. Isso, no entanto, só poderia ser confirmado através de estudos mais aprofundados por parte de especialistas.
CPTEC/INPE
“Este ano, 2018, tem sido um ano atípico. Com chuvas e ventos no oceano, gerando mais ondas e o aumento da intensidade delas. É preciso um estudo mais detalhado sobre o padrão das ondas e dos ventos, comparado com os anos anteriores para saber detalhadamente o que está ocorrendo no Litoral Norte”, disse a oceanógrafa Rofio Camayo, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos(CPTEC) do INPE, em Cachoeira Paulista.
Os padrões dos ventos e das ondas podem variar de um local para outro, pode se alterar em épocas diferentes do ano, como por exemplo, sofrerem mudança de padrão, um tipo no inverno e outro tipo no verão, segundo Rofio. Com relação às erosões que vem ocorrendo no Litoral Norte, já há alguns anos, ela sugere que deve ser feito um estudo mais aprofundado na região.
A oceanógrafa do Cptec/INPE afirmou que é possível que as obras no aterro do porto de São Sebastião possam ter colaborado na alteração das correntes marinhas em algumas praias de Caraguá. “Para se comprovar se isso ocorreu é preciso um estudo mais aprofundado para saber de sedimentos foram transportados de um local para outro, alterando a características das correntes marítimas nessas praias. Isso, no entanto, só poderia ser comprovado com estudos técnicos e, até matemáticos, mais detalhados ”, explicou.
Instituto Geológico
A pesquisadora Célia Regina Gouveia de Souza, do Instituto Geológico de São Paulo é uma das maiores estudiosas sobre as erosões que atingem as praias do litoral paulista. Ela monitora as praias, inclusive do Litoral Norte, desde 1992. Em entrevistas anteriores feitas com ela, a pesquisadora sempre destacou, que as erosões são provocadas porque o nível do mar está subindo.
Célia classificou mais de 50% das praias pesquisadas na região como de risco “muito alto ” ou “alto” de erosão. Segundo ela, o encolhimento da faixa de areia é causado por uma combinação de mudanças climáticas globais – que elevam o nível do mar e causam eventos meteorológicos extremos – e fatores locais, como a urbanização e outras interferências humanas na linha costeira.
São Sebastião
Na madrugada do dia 27 de agosto, uma forte ressaca atingiu a costa norte de São Sebastião. A força da maré causou estragos em casas e condomínios a beira mar. Em Juquehy, uma praia, tradicionalmente, calma, o mar causou muitos danos. Jardins, muros e até piscina da Pousada CasaTua foram destruídos. Uns dias antes, o avanço da maré havia invadido ruas e condomínios em Barra do Sahy, Maresias, Cambury, derrubando árvores, muros e jardins. Os os moradores da costa sul sebastianenses demonstraram preocupações com os constantes avanços da maré na região.
Caraguá
Em Caraguá, pelo menos duas praias andam sofrendo com as ressacas fora de época que já causaram grandes alterações nas características dessas praias.
A Prainha, por exemplo, já perdeu mais de 15 metros da faixa de areia, nos últimos anos. Segundo a comerciante Filó Rodrigues, há 29 anos estabelecida na praia, a situação preocupa e muito.
“Faz tempo que isso vem ocorrendo, mas nos últimos dez meses, a situação piorou e muito. Antigamente, após uma ressaca, a praia era invadida pelo mar, mas depois de dois a três meses, o mar recuava, mantendo as características anterior da faixa de areia. Agora não”, comentou.
Segundo ela, as ressacas estão ocorrendo fora do período tradicional e o mar estaria demorando para recuar, como ocorria antes. “As ressacas eram comuns, entre abril e agosto, este ano, tivemos ressacas em outubro e novembro. Estamos preocupados”, afirmou.
Mococa
A situação está mais crítica na Praia da Mococa, na região norte da cidade. A Mococa, segundo os comerciantes que trabalham no local há muitos anos, a praia já teria perdido 50 metros de sua faixa de areia. O mar avançou muito nos últimos anos.
Segundo Diego Dias, do Quiosque Bar Brasil, nos últimos dois anos as ressacas estão sendo mais fortes. No domingo passado ele teve um prejuízo de cerca de R4 21 mil com a destruição de sete pequenos quiosques de sapé causada pela ressaca que atingiu a praia.
“Esse ano piorou muito. A maré está avançando cada vez mais. Veja, tem o tronco de uma árvore a cerca de 50 metros dentro do mar( ele fez questão de mostrar o tronco). A praia, antes, ia até lá.”, comentou.
Diego é uma das pessoas que acredita que as alterações provocadas na praia da Mococa deve-se as obras feitas em Ilhabela, onde estaria sendo feita a dragagem do mar e do aterro feito para a ampliação do porto de São Sebastião.
A comerciante Suzana Santos, do Quiosque do Serjão, disse que a praia já perdeu mais de 50 metros de sua faixa de areia nos últimos dois anos. Ela trabalha no local há 30 anos e afirmou que nesse período todo nunca tinha visto ressacas ocorrerem fora de época.
“Estão ocorrendo ressacas nos meses de outubro, novembro e dezembro. Isso não era comum. Alguma coisa está acontecendo. Acredito que, essa alteração no período das ressacas, deve-se as ações do homem, obras, desmatamento, alguma coisa desse tipo”, comentou.
Ela relembra que na década de 90 três quiosques que existiam no canto direito da praia foram demolidos durante uma ressaca. Naquela época, a prefeitura autorizou que os quiosques fossem reconstruídos cerca de 100 metros distante do mar. E que, os proprietários de quiosques que não foram atingidos, também pudessem recuar seus estabelecimentos.