Nesta quarta-feira, 20 de janeiro, a igreja católica celebra a memória de São Sebastião, mártir da fé. O santo é padroeiro do município paulista de mesmo nome. O padre Alessandro Henrique Coelho, pároco na Matriz de São Sebastião, conta como estão sendo feitas as celebrações do dia do padroeiro em tempos de pandemia.
“Nós celebramos doze dias, uma dozena, em honra a São Sebastião e hoje no dia da festa a gente mudou toda a programação. A festa social na avenida da praia foi adiada para a segunda semana de julho. E por ocasião da cidade ter entrado na fase laranja, cancelamos a missa campal e estamos celebrando 4 missas durante o dia. A 1ª às 10h, depois ao meio dia, às 17h e às 19h30. As missas são presenciais, mas dentro da igreja podemos ocupar apenas 40% dos lugares. As pessoas já estão com as vagas preenchidas. Estamos colocando cadeiras na parte externa da igreja e assim temos acolhido a programação deste ano. Às 15h30 também vamos fazer uma carreata”, explica o pároco.
O padre Alessandro Henrique Coelho também falou sobre a história do santo e seu significado para os fiéis. “É interessante que aquele que tenha devoção, se aproxime de São Sebastião de duas maneiras. Na piedade, quando recorre a ele à intercessão a oração, e também como exemplo. São Sebastião é o exemplo do cristão que se torna soldado da guarda romana para poder visitar os cristãos que estavam sendo perseguidos, que estavam presos. Só que ele é denunciado, porque ele teria que deixar de ser cristão para aderir ao paganismo. E ele resiste a isso. Ao resistir, é condenado a flechadas. É interessante que ele sobrevive a esse 1º martírio. Depois um grupo de mulheres cristãs consegue resgatá-lo e ele recupera sua vida apesar das flechadas que levou. Ele retoma ainda mais forte querendo testemunhar a fé cristã. Ele tinha conseguido converter o prefeito e o governador na ocasião de Roma. E ele queria converter o imperador ao cristianismo. Então se apresenta de novo diante do imperador para que cesse a perseguição aos cristãos. O imperador já estava com muita raiva dele por ter traído, o condena à morte e São Sebastião sofre o 2º martírio. Ele é decapitado e o corpo dele é jogado no esgoto de Roma, porque os ditadores não querem muitas vezes só matar, querem humilhar também. É interessante que o corpo dele depois foi encontrado e foi construída uma igreja onde era o esgoto de Roma”, conta o padre.
A devoção à São Sebastião chega ao Brasil por meio dos portugueses e cresce. “Temos mais de 120 cidades que têm São Sebastião como padroeiro, dentro da tradição cristã-católica. E a nossa marca fica bem significativa, porque é o nome da cidade, que cresce ao redor dessa devoção. Então é muito significativo poder celebrar o padroeiro, sabendo que ele traz o nome da cidade”, afirma o pároco.
Santo atual
De acordo com o padre Alessandro Henrique Coelho, São Sebastião é muito atual, pois é o padroeiro contra a epidemia. “Conta-se a tradição que quando os restos mortais do corpo dele foram trasladados para Roma, Roma sofria de uma peste. E quando o corpo dele chega em Roma, a peste cessa. Por isso ele ficou conhecido como o protetor contra a epidemia, a fome e a guerra. Então é muito atual, pelo que nós estamos vivendo. E é significativo que a vacina chegue bem na semana em que a gente está celebrando a novena de São Sebastião. Nós temos celebrado a questão do acesso à vacina. Fé e ciência caminhando juntos. E poder também alimentar o povo de esperança na devoção a São Sebastião”, conclui.
Contexto histórico
Muito do que se conhece sobre esses santos militares da antiguidade como Expedito, Sebastião e Jorge são fruto da piedade popular e de lendas medievais. Quem explica é o historiador católico Leandro Cruz.
Para entender porque o soldado Sebastião foi morto pelo governo é importante entender o contexto histórico da época, o que significava ser militar e o que significava ser cristão na virada do séculos II para o III.
O Império Romano era uma Ditadura Militar, que estava sempre expandindo seu território, subjugando povos, exigindo tributos abusivos ou reduzindo-os à escravidão. Esse poder se sustentava pela imposição da crença nos deuses romanos e na crença de que o Imperador era também representante divino. Eles acreditavam, por exemplo, que o fundador de Roma era filho de Marte, deus da Guerra. Todo o poder daquele império vinha da força nessa crença e na violência cometida oficialmente em nome dela.
Então quando surge essa nova religião, o Cristianismo, que acredita em um outro Deus e propõe uma organização social diferente, obviamente vai surgir um conflito. O Cristianismo Primitivo era contrário por exemplo à violência e à escravidão, bem como negava a divindade do Imperador. Isso obviamente irritava as autoridades e fazia com que os seguidores da nova religião tivessem que praticar sua fé de forma clandestina. Então o imperador Diocleciano, no ano 303, foi quem iniciou uma das maiores perseguições aos cristãos, de modo que ocorreu a investigação e condenação pública e exemplar sobretudo dentro dos quadros do próprio funcionalismo público e militares. Temia-se que esses cristãos infiltrados, como Sebastião, ou convertidos já nas fileiras do Exército, como Expedito, pudessem se recusar a cumprir ordens, como de massacrar populações.