No último dia 29 de setembro estive em Caraguatatuba no Seminário sobre Sustentabilidade, promovido numa iniciativa impar pela Escola Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo e Polícia Militar, com o apoio de diversas entidades, inclusive a OAB/SP. Um dos temas que me chamou a atenção foi a Ampliação do Porto de São Sebastião, na palestra proferida pelo Presidente da Companhia Docas de São Sebastião, Engenheiro Casemiro Tércio Carvalho.
Confesso que, a explanação que vi quase me emocionou. Tudo perfeito, ampliação realizada sem qualquer dano ao Meio Ambiente ou à população do Litoral Norte, milhares de empregos, moradia para todos os funcionários, além de escolas para suas crianças e atendimento de saúde na rede hospitalar do município. Enfim, era tudo o que poderíamos esperar. Finalmente, o futuro estava chegando, pensei.
Apesar das 18 mil estacas de concreto que serão cravadas no solo e da laje construída em cima delas, o mangue do Araçá, um dos lugares com mais alta diversidade biológica do Litoral Norte, certamente seria preservado e até mesmo beneficiado, ”pois o sombreamento lhe traria mais vida” e a remoção de 140 mil metros cúbicos de sedimentos do fundo do mar nenhum mal acarretaria. Todo o movimento de contêineres seria automatizado. Puxa, que bom. Quanto progresso.
Ao terminar este painel, me dirigi ao Engenheiro Tércio para lhe perguntar qual a capacidade mínima de um navio que transporta contêineres e ele me disse que a capacidade seria de 3.500 unidades, mas que a sua previsão é de operar com navios de 8.000 e 9.000 contêineres. Numa conta rápida, levando em consideração que cada contêiner necessita de uma carreta e consequentemente de um motorista, em cada atracação de navio no porto de São Sebastião, teremos nada menos do que 9.000 pessoas chegando e usando a cidade para tudo o que der e vier. Fico imaginando também onde estas carretas irão ficar até receberem sua carga, pois a estrada do contorno não prevê estacionamentos. Não podemos esquecer que a previsão é de 11 atracadouros até 2025.
Não tenho dúvidas de que a ampliação do Porto de São Sebastião será uma catástrofe sem limites para toda a região, inclusive para Ilhabela, praticamente o último reduto de turismo no Litoral Norte. Quanto a São Sebastião, levando em conta a estreita área entre o mar e a Serra do Mar, seremos uma segunda Vicente de Carvalho, antiga Itapema, próxima ao Guarujá, município desordenado, verdadeiro estacionamento de carretas em suas ruas, lugar onde a violência e a prostituição têm níveis altos.
Se chegar a ser realidade o Porto de São Sebastião será realmente um paraíso, para poucos.