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ONG que atende pacientes com câncer comemora 10 anos

 

Por João Pedro Néia

 

Quem entra na unidade de saúde Umuarama, no centro de Ubatuba, talvez não saiba. Mas ali, numa pequena edícula nos fundos, funciona um dos projetos mais importantes da cidade.

Escondida atrás de um pé de pitanga e outro de acerola, a casinha é sede da ONG Sapo Uba, organização que há 10 anos oferece todo o tipo de apoio a pacientes com câncer.

A iniciativa do projeto partiu da assistente social aposentada Maria Joana Monte Claro, 61, que há cerca de 20 anos sofreu com um câncer de mama. Dona de uma personalidade forte, Maria Joana retirou o seio direito na cirurgia, superou as torturantes sessões de quimioterapia e venceu a doença. À época, Maria Joana tentou levar adiante a ideia de ajudar outras mulheres com câncer, e chegou até a alugar uma casa para servir de sede. Mas a falta de apoio fez o projeto desmoronar.

O tempo passou e, em 2005, Maria Joana foi convencida pela amiga Mônica Ciari a retomar o projeto. Bem organizadas, as duas amigas conseguiram levar à Câmara Municipal um grupo de mulheres preocupadas com a saúde da mulher, especialmente em relação ao câncer feminino. Saiu da reunião com uma sede garantida pela Secretaria de Saúde da época. A data era 8 de março de 2005, dia internacional da mulher.

Ao longo desses 10 anos, a Sapo Uba tem trabalhado para atender às diferentes necessidades dos pacientes; desde as mais urgentes, como a doação de fraldas geriátricas, filtro solar de alto fator e alimentação nutritiva, até informações sobre dieta, direitos do paciente à medicação e apoio às famílias.

“O paciente às vezes tem medo ou não tem energia para brigar pelos seus direitos, a gente orienta nesse sentido também”, diz Maria Joana. “O câncer não espera”, completou.

Para sobreviver, a ONG conta com doações e alguns poucos sócios que contribuem regularmente, além da dedicação das voluntárias. A principal luta é por uma sede definitiva, maior, que sirva como casa de apoio e permita um atendimento mais abrangente.

 

Voluntariado

As voluntárias são, ao mesmo tempo, a espinha dorsal e a alma da ONG. Cuidam da parte prática, de toda a infraestrutura, desde o cadastro dos pacientes até a limpeza. Com a mesma determinação, mantêm o alto astral no ambiente e recebem a todos com paciência e bom humor.

O grupo é formado, em grande parte, por ex-pacientes. São elas também que organizam e ministram as oficinas que acontecem semanalmente, com aulas de tapeçaria, produção de sabão em barras, bordado, feltro, pintura e etc.

E as oficinas não servem apenas como passatempo. Muitas mulheres tiveram sequelas da cirurgia ou do tratamento, o que impede que voltem a exercer as mesmas atividades que realizavam antes da doença. Algumas descobriram, no artesanato, uma vocação e uma oportunidade para recomeçar. “Foi assim que criamos o projeto Doces & Mimos, que produz objetos de decoração, produtos para animais de estimação, brinquedos e muito mais. O negócio foi tomando proporção. Hoje, funciona por conta própria e gera renda para as artesãs”, diz Ana Sanches, 40, voluntária da ONG e uma das mais empolgadas da turma.

Outra ação de destaque é a Cozinha Solidária, que acontece com o apoio da feira de produtos orgânicos do centro. Os alimentos doados, nas mãos das voluntárias, viram sopas nutritivas para os pacientes da ONG. O cuidado é tamanho que algumas refeições são feitas com pouco tempero, exclusivamente para os pacientes que perderam o apetite por conta do tratamento agressivo. Já as frutas viram doces caseiros. “Os pacientes adoram”, garante Maria Joana.

 

Superação

Há oito anos, Luzia Aparecida de Oliveira, 54, descobriu um câncer de mama em estágio avançado. Fez a cirurgia de emergência e, durante o tratamento, conheceu a Sapo Uba. Não saiu mais.

Recuperada, continuou como voluntária da ONG até recentemente, quando o câncer voltou, desta vez na coluna e no fêmur, com metástase nos ossos. “Aqui é o meu porto seguro”, diz Luzia, que faz questão de continuar o voluntariado uma vez por semana.

Maria Amélia Brandão, 54, perdeu a sogra, vítima de um câncer agressivo nos ossos. Ela conta que, se não fosse a experiência de sete anos na ONG, as coisas teriam sido muito mais difíceis.  “Aqui você aprende a trabalhar com as necessidades das pessoas, não simplesmente com a doença”, explica. Para ela, é fundamental o apoio às famílias, que também sofrem e, em muitos casos, não sabem como lidar com a situação. “Hoje mesmo uma paciente veio aqui só para conversar, porque não aguentava mais ouvir falar de doença em casa”, contou.

 

Comemoração

Dia 12 de março, a ONG vai comemorar o aniversário de dez anos com uma oficina especial de Páscoa. Além dos trabalhos, a Sapo Uba pretende se aproximar mais da sociedade e levar informações de prevenção do câncer. Para se inscrever, basta doar material para a construção da horta comunitária, como mudas, terra, adubo, vasos e ferramentas.

Cada uma no seu ritmo, as pacientes vão criando uma nova rotina de independência e recuperação da autoestima.

 “Minha amiga Mônica (que faleceu de câncer em 2013) era bióloga e dizia que, na natureza, onde tem um sapo, tem equilíbrio. O câncer é um desequilíbrio”, diz Maria Joana, explicando a origem do nome da ONG.

 A Sapo Uba já atendeu quase 400 pacientes ao longo de sua história, além de incontáveis familiares.

Conheça o trabalho da ONG Sapo Uba e saiba como ajudar no site: www.sapouba.blogspot.com  

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