A velejadora acabou de voltar de evento-teste no Rio de Janeiro
Por Marcello Veríssimo
Falta de investimentos em infraestrutura para os atletas e em hospedagem para delegações, pouca segurança para comissões de juízes e até para os turistas: esses pontos podem colocar em risco o sucesso das Olimpíadas do Rio de Janeiro no ano que vem. Essa é a opinião da velejadora, e hoje integrante da comissão de arbitragem de regatas, Sibylle Buckup Sulzbeck, 76.
Sulzbeck acaba de retornar do “Aquece Rio”, uma espécie de competição-teste na qual os atletas podem avaliar as condições das raias que serão usadas nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. “Decidi que os Jogos Olímpicos seriam meu final de comissão de regata em lancha, que você toma vento, chuva”, disse ela, que agora só vai velejar se o “barco for confortável, de vela oceânica”, disse Sibylle.
Nascida em família de velejadores, Sibylle considera que o esporte é muito importante não apenas como competição, e indica que os pais incentivem os filhos a praticar alguma modalidade, como forma de aprender disciplina, elemento indispensável na Vela. “Meu pai construiu uma casa na represa de Guarapiranga e deu um barco para cada um dos oito filhos. Uma regata é uma simbologia da vida. Você tem que estar preparado fisicamente, emocionalmente, tudo tem que ser organizado, saber quem são seus adversários, ter objetivos, saber a direção do vento”, explica.
E é justamente isso que, segundo a juíza (que é homologada pela Confederação Brasileira de Vela), tem faltado à organização das provas de vela nos jogos do Rio. “A regra número 1 da vela é a segurança”. No “Aquece Rio” foram testadas seis raias de regata: Pão de Açúcar, Ponte Rio Niterói, Baía de Guanabara, Escola Naval, Niterói, Copacabana. “Com vento e chuva ninguém quer falar. As bandeiras é que dão a sinalização”, disse. “Quem manda é a comissão de regata. Não existe isso de preferir uma ou outra. Esses “Aquece Rio” são [eventos] para treinar”, conta Sibylle.
Despreparo – Com experiência de sobra, as impressões de Sibylle sobre o “Aquece Rio”, que terminou no último dia 22, não foram as melhores. “Do jeito que o Brasil não investiu em educação também não investiu no esporte”, disse. Os velejadores estrangeiros, por sua vez, chegam muito bem preparados, depois de passar por treinos em escolas de velas especializadas. “Robert Scheidt, nosso velejador de ponta, ficou em quarto e outros também não foram bem. É falta de investimento na vela”, garante.
A velejadora cita outros pontos em que a organização deixa a desejar. “A Marina da Glória está toda desmontada, andamos por tapumes, a minha lancha não tinha banheiro. Estávamos em quatro mulheres. Você vai às 9h da manhã para a água e retorna às 17h da tarde sem banheiro, não foi legal”, disse Sibylle. Apesar de notar o esforço da organização do evento, “falta cultura náutica no Brasil”, analisa.
O esforço a que Sibylle se refere inclui o de nomes importantes no esporte, como os irmãos Grael, que solicitaram a mudança das raias para Ilhabela ou Búzios, na região dos Lagos, mas o prefeito do Rio, Eduardo Paes, não autorizou. A reportagem do Portal Tamoios News tentou contato com os irmãos Grael, mas não conseguiu retorno, assim como com Robert Scheidt, que mora na Itália com a família e não atendeu aos telefonemas. A Confederação Brasileira de Vela não comentou o assunto.
Insegurança
De acordo com Sibylle, a sensação de insegurança também paira pelo Rio de Janeiro. Ela relatou que, ao ir até a farmácia, do outro lado da rua do hotel em que se hospedou, foi avisada por um pedestre que estava sendo seguida. “Por dois pivetes”, disse. “Corri até a viatura de polícia mais próxima e pedi ajuda. Espero que até o ano que vem esteja tudo pronto”, torceu.