Há 52 anos, data que será lembrada nesta segunda(18), a cidade de Caraguatatuba foi atingida por uma tromba d’água. Pedras, lama, terra e árvores desceram das encostas da serra em direção à cidade. A cidade ficou parcialmente destruída, ilhada e sem qualquer comunicação. A Rodovia dos Tamoios foi quase totalmente destruída em seu trecho de serra. Perderam a vida mais de 400 pessoas. Quem vivia na cidade naquela época jamais se esquecerá do que viu. Ao final do texto, reproduzimos um documentário, produzido em 2011 pelo jornalista Emílio Campi e uma reportagem feita pela TV Vanguarda sobre a tragédia ocorrida no dia 18 de março de 1967 com depoimentos de moradores, alguns já falecidos, entre eles, os ex-prefeitos Jair Nunes e José Bourabeby, vale a pena assistir
Por Salim Burihan
Foi aterrorizante o que ocorreu no dia 18 de março de 1967 em Caraguatatuba. Chovia constantemente, a mais de um mês, mas na madrugada daquele sábado, parece que o mundo veio abaixo. O barulho dos deslizamentos que ocorriam na serra do mar era assustador. Mas, foi apenas pela manhã, quando o dia amanheceu, que se pode avaliar o que tinha ocorrido na cidade. Ruas transformadas em rios, casas destruídas, não tinha água, luz, telefone, nem comunicação com as cidades vizinhas e o Vale do Paraíba. Várias pontes que ligavam a cidade aos municípios vizinhos foram levadas pela força das águas que desciam as encostas. A ponte sobre o rio Santo Antônio, a principal da cidade, se deslocou e ficou junto à margem, interrompendo o tráfego de carros e pessoas, Ninguém passava, ninguém chegava e nem saía. Todos os acessos estavam bloqueados ou destruídos.
A Santa Casa foi atingida pela lama. O estádio do XV de Novembro foi destruído pelas pedras e lama que desceram do morro do Jacu. Na região do bairro do Benfica, inúmeras casas ficaram soterradas. Na zona rural, pouca coisa sobrou. Acidade ficou sem água, sem energia elétrica, sem telefone, sem acesso pelas estradas e sem comida. O mar em frente à cidade se transformou num mar de lama e de troncos. Centenas de pessoas perderam a vida. Oficialmente, falaram em 400, mas morreram muito mais, algo em torno de 2 mil pessoas.
As vítimas resgatadas pelos moradores eram colocadas na prefeitura municipal, na época, localizada na praça Cândido Mota. Os desabrigados foram alojados na igreja, no clube XV, em escolas e acolhidos pelos moradores, cujas casas não tinham sido atingidas pelas águas. A maioria dos moradores evitava sair de casa, pois não podia e o risco era muito grande. O mundo não sabia o que estava ocorrendo em Caraguá.
Foi um radioamador, seu Thomaz Camanes Filho, que conseguiu contato com outros radioamadores e comunicar à tragédia que tinha ocorrido na cidade. Muitas horas depois, algo em torno de 12 a 15 horas, as autoridades paulistas e cariocas ficaram sabendo o que tinha ocorrido em Caraguá. Helicópteros começaram a sobrevoar a cidade. O exército chegou. A Marinha, através de seus navios, trouxe água, remédios e médicos. Três dias depois, alguns números apresentados, extraoficialmente, demonstravam o tamanho da tragédia: 30 mil árvores desceram as encostas em direção à cidade; 400 casas desapareceram debaixo da lama e 3 mil pessoas perderam suas casas. Caraguá tinha na época 15 mil moradores.
A informação que chamou a atenção das autoridades: a chuva que caiu sobre a cidade em dois dias( 17 e 18 de março) atingiu um índice de precipitação pluviométrica de 580 milímetros. Na época, a média de precipitação pluviométrica do Brasil, o ANO INTEIRO variava de 1000 a 1200 mm. Ou seja, choveu em Caraguá em apenas dois dias a quantidade de chuva acumulada de seis meses. A tragédia foi considerada a pior já ocorrida no país até então.
Um dos maiores especialistas mundiais em mecânica de solos e fundações: professor Artur Casagrande, que na época prestava assessoria aos EUA, Índia e Suíça, veio visitar Caraguá a convite do Governo do Estado. Ele vistoriou a cidade acompanhado dos engenheiros Joob Shuji Negami(DER), Darcy de Almeida(CESP) e Lincon Queiroz e Otto Kech e do geólogo Francisco Nazário. Considerados, na época, os maiores especialistas neste tipo de ocorrência natural.
Reproduzo abaixo as considerações feitas pelo professor Artur Casagrande: “Nunca vi coisa igual na minha vida. Isso só ocorre a cada milênio. O que ocorreu em Caraguatatuba foi um evento natural- tromba d’água fato raro. Na história do Brasil nunca ocorreu nada igual”, disse. Segundo ele, não ocorreu um terremoto, como imaginaram alguns moradores, mas sim, uma precipitação de água excepcional, com dificuldades no escoamento das águas, que encharcaram os morros, numa área de cerca de 200 km quadrados na escarpa da serra do mar, junto a Caraguatatuba. Foi, segundo os cientistas, na ocasião, a maior tragédia natural já ocorrida no Brasil.
Caraguá ficou muitos anos esquecida. Foi difícil recomeçar. Muita gente abandonou a cidade, não acreditando que ela pudesse se reerguer. Muita gente perdeu tudo o que tinha. Muitos ficaram ricos aproveitando da desgraça dos outros (existem muitas estórias sobre mantimentos e donativos desviados, que nunca chegaram a cidade). A força e a raça dos moradores foram fundamentais para que a cidade, aos poucos, fosse se reconstruindo e se transformando no que é hoje: a maior e principal cidade da região. Uma história que deve sempre ser relembrada.
Documentário “Caraguá: da catástrofe ao progresso” produzido pelo jornalista Emílio Campi, em 2011. A música “18 de Março”, usada na abertura, interpretada por Lucy Ferreira, com acompanhamento de Bira Ferreira, foi escrita pelo corretor de imóveis Davi Salamene e musicada pelo compositor e cantor Zé Rodrigues. A música de encerramento “Caraguá Ontem e Hoje” é interpretada por Zé da Viola e Luiz Gonzaga. Outro vídeo, mostra reportagem feita pela TV Vanguarda em 2010 sobre o mesmo assunto. Assista:
Reportagem feita pela TV Vanguarda em 2010 sobre a catástrofe ocorrida em Caraguá em 1967.
Eu fui testemunho desta catástrofe, eu estava descendo a serra neste dia 17.03.1.967 com meu pai , caminhão carregado de mercadoria quando a serra começou a desabar , pensei que ia morrer , só sai de lá uma semana após, o caminhão ficou 21 dias preso na serra , assisti a serra caindo só rezando pra não cair o pedaço que estávamos, havia conosco 5 caminhões e 8 automóveis todos com familiares que rezavam e choravam , todos tiveram que sair de helicópteros depois de dias de espera , nossa sorte é que tinha o nosso caminhão com mercadorias outro de mudança com fogão e gaz, outro de frutas e verduras e até caminhão de leite , nos primeiros dias não havia água porque só corria lama , então bebiamos leite pra matar a sede e depois foi armada uma cozinha de lona para cozinhar e pegavamos agua pra beber e cozinhar , jamais vou esquecer desta tragédia.
Na época, residia com meus país na Rua Sebastião Mariano em frente ao Hotel Cruzeiro que pertencia a D. Benedita Pinto Ferreira, mãe de Ubirajara, assisti aos fundos de nossa casa o morro do Cruzeiro desabando sobre as casas, chegando quase nos fundos de nossa casa. Mais à frente foi bem pior, o morro desabava sobre várias casas matando famílias inteiras que estavam em casa por causa das chuvas. Lembro-me de uma família inteira soterrada, ficando viva somente a mãe (viúva) que havia saído para fazer compras pois morreram todos que estavam Em casa. O desabamento com árvores, pedras e lama invadiram inclusive onde era o “cemitério” municipal na Rua Sebastião Mariano que se chamava Rua João Pessoa. Quando começou subir o nível das águas ficamos todos alojados no Hotel da d. Benedita que abriu as portas a todos os necessitados.
Nossa família também ficou hospedada no hotel, meu padrasto foi voluntário no resgate dos corpos. Não esqueço da praça da matriz com os acampamentos militares, parecia guerra. Só conseguimos sair depois de 15 dias em navio petroleiro .
Me lembro quando desci com minha família nas férias de inverno , no final da serra víamos os telhados das casas soterradas, até hj não esqueci de tão impressionada
Até hj olho com tristeza
Era pequena e assistia TV com meus pais. O programa q era ao vivo, me lembro como hj, erra Hebe Camargo, e ela recebeu ali, na lata e ao vivo, a notícia que a irmã dela que morava em Caraguatatuba havia falecido naquela catástrofe. Foi muito cruel ver o sofrimento dela. Em seguida os jornais começaram a noticiar as imagens Branco e preto…
O problema é que existe o
Período de retorno, também conhecido como intervalo de recorrência ou tempo de recorrência, é o intervalo estimado entre ocorrências de igual magnitude de um fenômeno natural, como chuvas, ventos intensos, granizo, etc. Então o fenômeno vai ocorrer novamente. Só não sabemos quando. 52 anos não é.
Esqueceram de citar um grande herói que foi o Dr Vasco costa, que ajudou no resgate várias famílias em Caraguatatuba enquanto a sua estava em São Paulo sem ter notícia do patriarca.
No cursinho pré-vestibular que frequentei em 1976 em Mogi das Cruzes constava na apostila de história e geografia (editada por um grande e famoso cursinho de São Paulo), a tragédia de 1967 de Caraguatatuba, matéria esta que poderia ser exigida no vestibular. Era considerado um fato muito relevante.
Imagino o que vc tenha passado nesse dia ,bom saber que vc está bem E com vida fico feliz ….
Houveram vários heróis e uma pessoa que não foi lembrada foi a VERA PILÃO – filha de um grande amigo da cidade sr. João conhecido como Pilão.
A VERA PILÃO não mediu esforços para subir e adentrar no lamaçal próximo de sua casa no morro do Cruzeiro, frente para a Rua Sebastião Mariano Nepomuceno que até então chamava-se “João Pessoa” na tentativa de localizar pessoas mortas e feridas que lá se encontravam soterradas. A Vera Pilão, não sei se ainda trabalha na Prefeitura ou já se aposentou, não tenho mais visto essa pessoa na cidade.
Existe lista com os mortos nesse desastre?
Eu e meu marido estávamos indo para Ubatuba (ele estava me levando para férias e voltaria no domingo) resolvemos dormir em Caraguatatuba na casa de um amigo dele e no dia seguinte de manhã todos iríamos para Ubatuba. Acordei no meio da noite com água dentro da casa que chegou a 1m20. Ficamos desesperados e aguardamos o dia amanhecer. A rua era um rio onde boiavam cobras e cachorros mortos. Conseguimos chegar ao centro e a destruição era total. Tinha privadas, portas, restos de móveis na praia. Tínhamos de sair de lá e nos levaram de bote, ferry boy até São Sebastião para um navio que o governo havia mandado para resgatar os turistas. Nunca esqueci de momentos tão doloridos que passamos e vimos outros passarem
Puxa
Tragedia sem comparacao.
Registre que o primeiro socorro oficial foi 20 soldados do batalhao de taubate que chegaram no amanhecer do domingo de 19mar67